Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Al-Jazira tenta limpar reputação

A al-Jazira pode ser criticada por ‘incitar a violência’ e chamada de ‘porta-voz de Osama bin Laden’, mas, por trás de todos os problemas, a emissora via satélite do Qatar presta um importante serviço a seu público, segundo informa Anna Badkhen [San Francisco Chronicle, 1/9/04]. Para 40 milhões de telespectadores do mundo árabe, a al-Jazira é uma janela para o complexo mundo político americano.

Durante a Convenção Republicana, esta janela abriu-se completamente. Pelo menos esta é a tentativa da emissora, que, com uma equipe de 16 repórteres, transmitiu 13 horas de programação sobre o evento – mais tempo do que a soma da cobertura das três maiores emissoras abertas dos EUA, ABC, CBS e NBC. A cobertura da al-Jazira contou com transmissões ao vivo do camarote do canal no Madison Square Garden, entrevistas com delegados Republicanos, reportagens nas ruas de Manhattan e dois talk shows com comentaristas árabes-americanos Republicanos e Democratas.

Para muitos dos telespectadores da al-Jazira no Oriente Médio, estas reflexões sobre o sistema político dos EUA são mais do que uma simples olhadela na política internacional, afirma o chefe da sucursal da emissora em Washington, Hafez al-Mirazi. ‘A sociedade árabe quer saber o quão sérias são as declarações que ela escuta sobre o compromisso dos EUA com a democracia’, completa.

Relações abaladas

A dedicação da al-Jazira com a transmissão das convenções políticas americanas também tem outro interesse. A emissora luta para se livrar da imagem de parcialidade contra os EUA e Israel, construída com programas provocativos, imagens repulsivas e vídeos sem cortes de discursos de bin Laden – que lhe renderam apelidos como ‘TV Talibã’. As relações entre a Casa Branca e o canal pioraram no ano passado, quando uma bomba americana atingiu o escritório da al-Jazira em Bagdá, matando um jornalista. O secretário de defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, chegou a dizer publicamente que a cobertura da emissora era ‘violentamente anti-coalizão’, e há um mês o governo do Iraque fechou o escritório de Bagdá por ‘incitação à violência’. ‘É importante mudarmos nossa imagem de ‘al-Jazira, porta-voz de Osama bin Laden’’, diz Stephanie Thomas, também da sucursal de Washington.

Parece que este esforço de mudança não tem tido muito êxito, pelo menos no caso iraquiano. Segundo informações da AFP [4/9/04], a emissora não obedeceu a ordem do governo e continuou a produzir e transmitir sua programação no país. ‘Durante o fechamento temporário o governo do Iraque esperava que a administração da al-Jazira oferecesse alguma explicação sobre as alegações [de que a emissora incitaria a violência], mas isso não aconteceu’, dizia uma declaração do escritório do primeiro-ministro iraquiano. Desta forma, o governo decidiu manter a ordem de fechamento da emissora por tempo indeterminado, até que ela se manifeste oficialmente sobre o assunto.

Tratamento injusto

Para Stephanie, a al-Jazira não foi tratada de maneira justa durante a Convenção Democrata, realizada há um mês em Boston. A emissora teve um cartaz com seu nome retirado da frente de seu camarote pela organização do evento, que colocou um cartaz com o endereço do sítio de John Kerry na internet. Além disso, conta ela, os assessores de imprensa da Convenção não auxiliaram a equipe do canal a conseguir nenhuma entrevista com os delegados do partido.

Os percalços não impediram que a al-Jazira transmitisse 13 horas de notícias e talk shows direto de Boston. Mas o acesso aos delegados – como aconteceu sem problemas na Convenção Republicana – é importante para se fazer uma análise mais profunda do pensamento americano, afirma al-Mirazi. Além dos 40 milhões de telespectadores no Oriente Médio, a emissora também alcança 500 mil eleitores dos EUA que falam a língua árabe e recebem as transmissões pela Dish Network.