A jornalista egípcia Shahira Amin pediu demissão, na quinta-feira (3/2), do canal estatal Nile TV em protesto à cobertura tendenciosa das manifestações antigoverno que tomaram conta do país nas duas últimas semanas. Enquanto centenas de milhares de pessoas participavam de violentos embates nas ruas do Cairo, nada era mostrado na emissora controlada pelo Estado. ‘Nós estamos fazendo a história do nosso país neste momento e eu quero fazer parte disso’, afirmou a jornalista, que disse não querer mais fazer propaganda do governo. Os funcionários da Nile TV, que transmite em língua inglesa, só foram autorizados a mostrar ao público manifestações favoráveis ao presidente Hosni Mubarak.
‘Eu estava passando de carro pela Praça Tahrir e ouvi os manifestantes – eu via o que estava acontecendo nas ruas, mas não podia noticiar. Pensei que se voltasse para o estúdio estaria traindo os jovens ativistas na Praça’, desabafou Shahira, rosto bastante conhecido na TV egípcia. Em vez de seguir para o trabalho, a jornalista seu uniu aos manifestantes e enviou ao chefe uma mensagem dizendo que não voltaria. Em entrevista à al-Jazira, ela afirmou que sofria ameaças – ‘disseram que eu podia desaparecer’ – e ressaltou ter se sentido livre e aliviada com sua decisão.
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Neste vídeo da CNN [em inglês], Shahira fala sobre sua demissão. Ela conta que os jornalistas da Nile TV não podiam divulgar nenhum número sobre os protestos e classifica a cobertura do canal de ‘hipócrita’. ‘Eu não queria fazer parte daquilo’, resume.