Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ano perigoso para jornalistas

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas divulgou, na semana passada [14/3/05], um relatório sobre as condições mundiais de trabalho dos profissionais de imprensa. Os resultados de ‘Ataques à Imprensa em 2004’, estudo anual feito pela organização, não foram nada positivos.

A liberdade de imprensa está deteriorando na Rússia e na maior parte dos ex-membros da URSS; o risco para jornalistas no Iraque aumentou, assim como o uso das chamadas leis ‘anti-Estado’, que têm levado à prisão dezenas de profissionais chineses e cubanos; e, pela primeira vez em três anos, um jornalista americano foi preso. Por outro lado, esforços de organizações internacionais ajudaram na soltura de diversos jornalistas.

O relatório do Comitê analisou centenas de casos de repressão à imprensa – incluindo assassinatos, agressões, prisões e censura – em 90 países. A Rússia ganhou destaque pelo controle, cada vez maior, exercido pelo governo do presidente Vladimir Putin sobre a mídia, especialmente durante a cobertura do seqüestro da escola em Beslan, em setembro. A organização ressalta que, das 15 ex-repúblicas Soviéticas, apenas três conseguiram estabelecer uma tradição forte de liberdade de imprensa: Látvia, Estônia e Lituânia.

Mais crimes, mais impunidade

O estudo revelou também que 56 jornalistas foram mortos em 2004 como resultado direto de seu trabalho. É o pior índice em uma década. Mesmo tendo sido um ano de guerra, a maioria (36) destes profissionais foi assassinado. Se as mortes aumentaram, a impunidade dos assassinos também. Apenas nove crimes foram punidos. O pior país, neste sentido, são as Filipinas, onde, desde 1986, os assassinatos de 48 jornalistas continuam sem solução. O Iraque foi considerado o país mais perigoso para se exercer a profissão, no ano passado: foram 23 jornalistas mortos, a maior parte deles profissionais locais.

Somando registros de diversas regiões em todo o mundo, 122 jornalistas foram presos em 2004. Destaque para quatro países que, juntos, contabilizam mais de três quartos deste total: China (42) , Cuba (23), Eritréia (17) e Burma (11). Em pelo menos 74 casos, os jornalistas foram detidos sob acusações ‘anti-Estado’, como tumulto, subversão, divulgação de segredos do governo e trabalho contra os interesses do Estado. Pela primeira vez, em três anos, um repórter americano foi preso por causa da profissão. Jim Taricani, da emissora WJAR, de Rhode Island, cumpre seis meses de prisão domiciliar por se recusar a divulgar a identidade de uma fonte.

Protesto em Genebra

A organização Repórteres Sem Fronteiras [14/3/05] organizou um protesto contra a 61a sessão da Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra. Segundo a organização, é uma vergonha que quatro membros da Comissão estejam entre os países com maior número de jornalistas presos no mundo. São eles China, Cuba, Eritréia e Nepal. Ao todo, 70 jornalistas e 62 ciberdissidentes estão detidos em países que participam da Comissão.

Para chamar a atenção para estes números, os RSF cobriram todo o perímetro do edifício das Nações Unidas em Genebra com 70 cartazes mostrando a silhueta de um jornalista preso; espalharam também cartazes pelos muros da cidade. A reunião da Comissão começou em 14/3 e terminará em 22/4.