George W. Bush é só críticas para os jornais que vazaram seu programa secreto de monitoração de movimentações financeiras terroristas. O presidente americano se pronunciou pela primeira vez sobre o caso na segunda-feira (26/6), durante uma breve sessão de fotos na Casa Branca. Bush classificou de vergonhosa a publicação das informações confidenciais, mas não citou o nome dos jornais envolvidos – ao contrário do vice-presidente Dick Cheney, que acusou repetidamente o New York Times de dificultar a luta contra ataques terroristas ao ‘insistir em publicar informações detalhadas sobre programas vitais de segurança nacional’.
O programa de vigilância de transações financeiras de grupos terroristas – divulgado ao público, na semana passada, pelo New York Times, Los Angeles Times e Wall Street Journal – teve início logo após os atentados de 11 de setembro de 2001. Com o uso de intimações governamentais, o programa permitiu que analistas da guerra americana contra o terror obtivessem informações bancárias de um vasto banco de dados mantido por um consórcio com sede na Bélgica, conhecido como Swift – que monitora, diariamente, cerca de 11 milhões de transações financeiras em 7.800 bancos e outras instituições em 200 países.
Mal ao país
‘O Congresso foi informado, e o que fizemos era legal. A divulgação do programa é vergonhosa. Nós estamos em guerra com pessoas que querem ferir os EUA, e o vazamento e publicação do programa causam um grande mal ao país’, afirmou o presidente. Na quarta-feira (28/6), em um evento do Partido Republicano em St. Louis, Bush voltou a tocar no assunto. ‘Este programa tem sido uma ferramenta vital na guerra contra o terror’, esbravejou, aplaudido de pé pela platéia. ‘Não há desculpa para alguém com acesso a uma informação vital de inteligência vazá-la e não há desculpa para qualquer jornal publicá-la’.
Também o secretário de imprensa da Casa Branca, Tony Snow, criticou na segunda-feira, durante informe televisionado, a atuação dos jornais – e especialmente a do New York Times – no vazamento das informações. Snow acusou o diário nova-iorquino de pôr vidas em risco e desviar de uma antiga tradição respeitada por organizações de mídia de guardar segredos governamentais durante tempos de guerra. Ao ser questionado sobre o porquê de as críticas das autoridades estarem sendo concentradas no New York Times, o secretário afirmou que o jornalão ‘estava à frente dos outros dois e começou [a reportar a história] antes. Os outros dois apenas o seguiram’.
Cooperação da mídia
Líderes republicanos da Câmara dos Deputados apresentaram uma resolução, na quarta-feira, condenando os vazamentos e pedindo à imprensa que proteja programas confidenciais. A resolução não citava nominalmente as organizações envolvidas, mas afirmava que a Câmara ‘espera a cooperação, ao não revelar programas confidenciais de inteligência, de todas as organizações de mídia na proteção das vidas dos americanos e na função do governo de identificar, desmantelar e capturar terroristas’. A ação da Câmara veio um dia após diversos senadores republicanos terem criticado a atuação da imprensa e sugerido que repórteres e editores deveriam ser processados por divulgar dados confidenciais.
Snow preferiu não comentar as críticas ao New York Times e à mídia em geral feitas por senadores e deputados. Ele afirmou que cabe ao Departamento de Justiça determinar se deve haver uma investigação formal sobre o ocorrido, e ressaltou que os correspondentes do jornalão na sede do governo não irão perder suas credenciais por causa do vazamento.
Pouco impacto
Uma das principais críticas das autoridades é a de que a publicação do programa secreto beneficiaria os terroristas. Há, entretanto, quem refute esta idéia. Segundo o diplomata aposentado e especialista em financiamento de terrorismo Victor Comras, é duvidoso que o vazamento venha a ter algum grande impacto na guerra contra o terror porque os terroristas têm tomado medidas para, nos últimos anos, mascarar suas transações. ‘Eu posso entender que as pessoas fiquem irritadas quando alguma informação confidencial é vazada, mas não chamaria isso de um grande dano para nossa segurança nacional ou para a guerra ao terror. Um terrorista teria que ser bem burro para não saber que [a vigilância] estava acontecendo’, defende.
Em editorial nesta quinta-feira [29/6/06], o Washington Post critica a reação dos políticos, acusando-os de deturpar a importância do ‘papel crítico de uma imprensa independente e agressiva em uma sociedade livre’. ‘Nós reconhecemos que esta [publicação] foi uma escolha controversa’, diz o diário, completando que isso não justifica os duros ataques dos políticos à imprensa. Com informações de Sheryl Gay Stolberg [The New York Times, 27/6/06], Terence Hunt [AP, 26/6/06], Joe Strupp [Editor & Publisher, 27/6/06] e Charles Babington e Michael Abramowitz [Washington Post, 29/6/06].