O New York Times reconheceu, esta semana, que o repórter Kurt Eichenwald, autor de um aclamado artigo em 2005 sobre um jovem envolvido com pornografia online, ganhou a confiança do garoto pagando a ele US$ 2 mil. O jornalista teria enviado o cheque a Justin Berry, na época com 18 anos e astro de sítios de pornografia, em junho de 2005. Seis meses depois, Berry se tornou personagem principal da matéria de Eichenwald sobre sítios de adolescentes voltados a sexo. A investigação do Times levou a audiências no congresso, prisões e reformulações na maneira como provedores de sítios aceitam seus clientes.
A matéria também chamou atenção para algo mais: a relação entre o jornalista e sua fonte. Nos meses anteriores à publicação do artigo, Eichenwald convenceu Berry a largar a indústria pornô, parar de usar drogas e se tornar um informante da polícia sobre o submundo que conhecia tão bem. O Times destacou a relação pouco ortodoxa em um texto auxiliar e o tema foi tratado em uma coluna do ombudsman do jornal, Byron Calame.
Limite ético
Os editores do diário, entretanto, dizem que não sabiam que Eichenwald chegou a dar dinheiro ao jovem. O caso gerou polêmica nos EUA. Por meses, analistas de mídia discutiram se Eichenwald havia ultrapassado um limite ético ao se aproximar tanto de seu personagem.
‘O cheque deveria ter sido revelado aos editores e ao público, como foram todas as outras ações’, declarou o Times em nota publicada na terça-feira (6/3). Em entrevista à Associated Press, o jornalista, que deixou o diário em outubro do ano passado, explicou ter enviado o cheque a Berry como parte de um plano para descobrir seu nome e endereço verdadeiros.
Na ocasião, afirma, ele não tinha ainda a intenção de escrever sobre o garoto – queria apenas, junto com sua mulher, ajudá-lo. Quando finalmente decidiu fazê-lo, depois de conhecer Berry pessoalmente, pediu o dinheiro de volta – e este lhe teria sido devolvido pela avó do jovem. Informações de David Caruso [AP, 6/3/07].