Deborah Howell avaliou, em sua coluna de domingo [11/5/08], o funcionamento do sistema de correções do Washington Post. Na opinião da ombudsman, não há consistência nesta prática: algumas correções são publicadas imediatamente; outras não são aprovadas. Nem todos os pedidos de correção são válidos e, portanto, a decisão de publicá-los pode se tornar bastante difícil.
Uma matéria publicada no dia 3/4, escrita por Jose Antonio Vargas, sobre como as pessoas permanecem ‘vivas’ na internet mesmo depois de sua morte (através de páginas de relacionamento pessoal, por exemplo), focou no assassinato do adolescente gay Lawrence ‘Larry’ King, da Califórnia. O artigo mencionava também outros dois assassinatos similares, o de Matthew Shepard, em 1998, e o de Eddie Araújo, em 2002, ‘ambos gays’. Diversos leitores escreveram para dizer que Araújo não era gay, mas sim um transexual que sabia que era biologicamente homem, mas se identificava como mulher e se sentia atraído por homens. Vargas, no entanto, achou que Araújo poderia ser definido como ‘gay’ e sua editora, Lynne Duke, concordou.
Dezenas de especialistas da Associação Americana de Psicologia discordaram da interpretação do jornalista. Para Ritch Savin-Williams, presidente do Departamento de Desenvolvimento Humano da Universidade de Cornell, o Post foi impreciso ao classificar Araújo de gay. O psicanalista Michael Hendricks afirma que há uma diferença distinta entre gênero e orientação sexual. ‘Eles são independentes; só porque alguém é transexual, não significa que é gay’, explica.
Integridade
Na opinião de Deborah, ao menos uma explicação deveria ter sido publicada – e isso não foi feito. Este é apenas um dos exemplos de correções e/ou explicações que não são divulgadas aos leitores. Outros exemplos mencionados pela ombudsman em sua coluna referiam-se a um artigo sobre saúde da mulher e outro sobre um estudo das emissões de dióxido de carbono. O primeiro dizia que mulheres na menopausa que tomavam estrogênio e progesterona corriam um risco maior de desenvolver câncer dois anos após terem parado de tomar os hormônios – a alegação foi questionada em um estudo. O segundo afirmava que uma nuvem de poluição podia ser vista em Pequim, por conta das emissões de dióxido de carbono – o gás, no entanto, é incolor e inodoro.
Em 2007, para se ter idéia, editores aprovaram 1.129 correções, abaixo das 1.292 de 2006. Até o dia 7/5 deste ano, apenas 390 foram aprovadas. Ainda que estas correções sejam encaminhadas para publicação, não há registros que comprovem que elas tenham sido de fato publicadas. Durante anos, as estatísticas mensais de correções eram enviadas aos editores. Há cerca de um ano, por conta de falhas operacionais, as estatísticas pararam de ser distribuídas. Até a reclamação de Deborah, ninguém havia sentido a falta delas. ‘Editores deveriam acompanhar as estatísticas a cada mês para saber quais erros estão sendo cometidos e por quem. Correções são essenciais à integridade de um jornal’, reflete.