Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As diferentes coberturas de um tema polêmico

O casamento entre homossexuais voltou às manchetes nos EUA na semana passada por conta da reviravolta na legislação que proibia pessoas do mesmo sexo de se casarem na Califórnia. Um estudo divulgado na publicação Social Science Journal revela que o tom da cobertura jornalística, no entanto, muda bastante dependendo da localização e público dos veículos: a aprovação da união entre gays é tratada pela imprensa tanto como um avanço para a igualdade como um golpe aos valores familiares tradicionais.

O estudo mostrou diferenças ideológicas mensuráveis em relação ao tema ao realizar uma análise do conteúdo de matérias sobre casamento gay em dois dos maiores jornais americanos – o New York Times e o Chicago Tribune. ‘Os dois jornais olharam para o casamento gay de maneira muito diferente: um de uma perspectiva de igualdade humana, outro de uma perspectiva de moralidade humana’, explica Juan Meng, professor de relações públicas da Universidade de Dayton, em Ohio, e co-autor da pesquisa.

O público molda o jornal

Foram analisadas 120 matérias publicadas nos dois jornais entre novembro de 2002 e novembro de 2004 – um ano antes e um ano depois de o casamento gay ter sido legalizado no estado de Massachusetts. Chegou-se à conclusão de que 33,6% dos artigos do NYTimes tiveram como foco os direitos humanos, comparado a apenas 19,1% do Tribune. Por sua vez, 17,5% da cobertura do NYTimes enfatizou valores familiares tradicionais, contra 22,2% do Tribune. A religião foi destacada em 11,9% das matérias sobre casamento gay no NYTimes, enquanto no Tribune, em 19,8%.

No ano após a legalização, o NYTimes começou a citar mais fontes identificadas como gays – 20% – comparado a 5,4% antes da legalização. Já o Tribune permaneceu consistente, com aumento de 10% para 11,8% na citação de fontes como gays. Embora os resultados possam ser tomados como evidências de que os jornais estão conscientemente empurrando suas ideologias ao público, Kelly McBride, professora do instituto de jornalismo Poynter, na Flórida, acredita que eles podem ser explicados pelas características dos assinantes e pela localidade da publicação. ‘Os jornais têm um olhar filosófico sobre o mundo moldado por onde estão e por sua audiência. As pessoas que virem os resultados de outro modo estão simplificando a questão’, opina.

De fato, em 2004, o então ombudsman do NYTimes, Daniel Okrent, reconheceu a tendência liberal do jornal sobre temas sociais, como casamento gay, afirmando que artigos sobre o assunto eram frequentemente apresentados em um tom que se aproximava à ‘comemoração’. Mas ele defendeu tal postura como sendo um reflexo da localização cosmopolita do jornal. ‘É impossível dizer o que vem primeiro, se a audiência ou o tom da publicação, porque há um ciclo constante de influência’, conclui Kelly. Informações de Misty Harris [Montreal Gazette, 6/8/10].