As mudanças anunciadas pelo jornal The New York Times na sua estrutura de produção de noticias, bem como a extinção do cargo de ombudsman ( editor do leitor, no jargão do NYT) tanto podem representar um marco na busca de uma nova linguagem jornalística na era digital, como podem representar um golpe naquilo que o jornal tem de mais valorizado, a sua credibilidade.
A Velha Dama Cinzenta, como o Times é conhecido entre seus admiradores, decidiu reduzir drasticamente o número de editores e revisores de textos para ampliar, proporcionalmente, o contingente e as responsabilidades dos repórteres. Ao tomar esta decisão, o NYT busca eliminar o que classificou como “linha de montagem de notícias” para beneficiar um sistema menos burocratizado e hierárquico na produção e publicação de reportagens. A simplificação do processo de produção noticiosa também tem um objetivo financeiro ao reduzir o número de profissionais contratados.
A nova orientação diminui as diferenças entre a produção de notícias impressas e as da versão na internet. Trata-se de uma ousadia ainda não testada por nenhum grande jornal norte-americano e que se der certo, será transformada em novo paradigma para as publicações que ainda estão quebrando a cabeça para achar uma forma de integrar processos de produção de notícias em sistemas de plataformas múltiplas (papel , textos online, vídeo, áudio e interatividade com o público).
A mais recente de uma serie de experiências realizadas pelo jornal foi mal recebida pelos copy desks e revisores porque reduz drasticamente a participação de um setor da redação, que até agora, era considerado o guardião do estilo, exatidão e credibilidade dos textos publicados. Os críticos da redução do papel dos copy desks insistem no fato de que hoje, mais do que nunca, a credibilidade das informações jornalísticas está ameaçada pelo fenômeno das notícias falsas (fake news) .
A outra grande aposta anunciada pelo Times foi a extinção o cargo de ombudsman para beneficiar a participação do leitor nas críticas, correções e sugestões ao material produzido pelos jornalistas profissionais. As justificativas do jornal dão a entender que ele pretende avançar na direção de um processo colaborativo na avaliação dos textos, áudios e imagens publicados. A razão objetiva apresentada por Dean Baquet, o editor chefe do NYT foi a de que os cerca de três milhões de leitores diários nas versões impressa e digital podem ser tão eficientes quanto a última ombudsman, Liz Spayd, no monitoramento critico do jornal.
A internet também está por trás desta nova experiência do The New York Times, que passa a incorporar as críticas dos leitores como um fator estrutural na avaliação da performance do jornal. A alteração deve provocar uma forte celeuma sobre a validade da existência desta função num ambiente informativo onde o público assume um protagonismo cada vez maior no monitoramento crítico da imprensa.
Em sua última coluna, Liz Spayd , deixou no ar uma pergunta que ainda pode gerar muita polêmica. Segunda ela, ao criar a função de editor do leitor ou ombudsman, o NYT procurou transmitir uma imagem de integridade jornalística. Mas agora, ao eliminar o cargo, o jornal deixa no ar uma mensagem ambígua: a direção pode estar minimizando a importância da integridade noticiosa ou estar simplesmente apostando num novo modelo?