A manhã de 29 de maio de 2006 mudou a vida da jornalista americana Kimberly Dozier. Era feriado nos EUA, comemoração do Memorial Day, e portanto um dia morno de notícias. Correspondente da CBS News no Iraque, Kimberly fazia uma reportagem acompanhando soldados americanos quando foi vítima de uma explosão em uma estrada de Bagdá. Os membros de sua equipe morreram no ataque, assim como o intérprete que os acompanhava e um soldado. Além de Kimberly, outros soldados sofreram ferimentos graves.
Um ano e 25 cirurgias depois, a correspondente está de volta à rede de TV para contar sua experiência traumática. A CBS irá apresentar, em 29/5, um especial sobre as muitas vidas transformadas em segundos pelos acontecimentos daquela manhã de segunda-feira. Ancorado pela jornalista Katie Couric, o programa Flashpoint mostrará a face perversa do conflito ao apresentar ao público a identidade daqueles afetados pela tragédia, desde as vítimas diretas até suas famílias.
Nomes e rostos
O sargento Natham Reed perdeu a perna direita na explosão, e o sargento Justin Farrar, que sofre de estresse pós-traumático, até hoje não conseguiu vestir seu uniforme novamente. Do cinegrafista Paul Douglas e do técnico de som James Brolan, mortos no atentado, é feito um retrato. Entre imagens de feridas ensanguentadas e caixões, a filha do capitão James A. Funkhouser, outra vítima fatal daquele dia, diz que o pai, morto aos 35 anos, era um herói.
Kimberly participa em uma entrevista concedida a Katie, onde tenta reconstruir o incidente em sua memória. ‘Eu sabia que tinha havido alguma explosão. Eu fui nocauteada por uma escuridão. Minha mente continuava a funcionar, mas, por alguns minutos, eu não conseguia ouvir ou ver. Eu sentia cheiro de fogos de artifício. Eu não sabia, na ocasião, que meus tímpanos tinham estourado, então isso explicava por que eu não conseguia ouvir’, conta ela.
Quando chegou ao hospital, a correspondente havia perdido quase todo o sangue. Por duas vezes, seu coração parou. Os médicos classificaram suas chances de sobreviver em 50%. Hoje, aos 40 anos, suas pernas contêm pinos de titânio e ela tem parafusos na cabeça. No ataque, Kimberly foi atingida por estilhaços, fraturou o fêmur e sofreu queimaduras dos lábios até os tornozelos.
Psicologicamente, ela conta ter sido ajudada por outra vítima da guerra no Iraque. Foi o correspondente da ABC News Bob Woodruff, também atingido por uma explosão, em janeiro de 2006, que conseguiu diminuir a sensação de culpa que Kimberly tinha com relação à morte dos colegas de equipe. Woodruff a convenceu de que ela não pode pensar que poderia ter feito algo diferente ou evitado a morte de Brolan e Douglas.
De volta, mas diferente
A correspondente volta a trabalhar esta semana na CBS News, com uma reportagem sobre soldados mulheres que tiveram membros amputados por feridas de guerra. Ela também prepara um livro sobre sua vida. Segundo Lin Garlick, editora-executiva do serviço de notícias 24 horas da CBS, Kimberly mudou com a experiência. ‘Ela ficou mais forte. Eu acho que ela viu mais do que o resto de nós gostaria de ver. Às vezes, seus olhos refletem isso, e eu não acredito que esta sensação a deixará algum dia’, analisa.
A jornalista pretende voltar ao Oriente Médio – hoje consciente, diz, de que o que aconteceu com ela acontece com soldados americanos no Iraque várias vezes ao dia. ‘Eu sempre quis ser uma correspondente estrangeira’, resume. Informações de Felicia R. Lee [The New York Times, 24/5/07].