Portal Imprensa, 26/04 BBC vai transmitir morte de paciente terminal de câncer A rede britânica, BBC, foi a público defender um seriado em que mostra os últimos momentos de vida de um homem de 84 anos, paciente de um câncer incurável. Os produtores da série ‘Inside the Human Body’ (dentro do corpo humano, em tradução livre do inglês), programada para estrear em meados desse ano, reconhecem que o programa pode chocar algumas pessoas e até mesmo causar ‘raiva’ em um grupo específico. Segundo os produtores do programa, o objetivo é combater um tabu em torno do tema da morte. Na tela, serão exibidas cenas que mostram detalhes do homem nos momentos que antecedem sua morte e após seu falecimento. Michael Mosely, apresentador do programa, disse em entrevista a Rádio Times acreditar que o programa é justificável e que é importante ‘não evitar o entendimento da morte e, quando possível, mostrá-la’. ‘Existem aquelas pessoas que acreditam que mostrar a morte de um ser humano na televisão será sempre errado, independente das circunstâncias’, comenta. ‘Mesmo assim eu respeito o ponto de vista dessas pessoas, mas acredito que este seja um caso de uma morte não violenta, natural, uma visão de todas as pessoas que ficaram próximas enquanto ele falecia’. O jornal britânico The Guardian lembra que esta não é a primeira vez que a BBC enfrenta críticas por mostrar a morte de forma tão explícita. No começo deste mês, a BBC2 acompanhou as filmagens da morte de um homem de 71 anos, na Suíça. No caso houve opção por eutanásia. Folha de S.Paulo, 1/5 Fernando de Barros e Silva Novela une amor, mentirinhas e revolução Tiago Santiago quis me apresentar à obra de Elio Gaspari. Foi um pouco afobado. Citou um trecho do primeiro dos seus quatro livros sobre o regime militar (‘A Ditadura Envergonhada’) atribuindo-o ao terceiro volume (‘A Ditadura Derrotada’). O objetivo do autor de ‘Amor e Revolução’, do SBT, era contestar a crítica que fiz à novela, especificamente a seus problemas históricos. O início de ‘Amor e Revolução’ se passa no dia do golpe militar, 31 de março de 1964. Como seu autor, que pretende ser fiel à história, justifica os guerrilheiros que enfiou no enredo, dando tiros, planejando a revolução e morrendo, tudo naquele dia? Simples. Santiago recorre ao livro de Gaspari para nos lembrar que ‘no início de 1962, uma nova organização esquerdista’, chamada Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), ‘recebera a bênção cubana’ e ‘planejava a montagem de um dispositivo militar’ no país. Mas omite de sua citação o trecho imediatamente seguinte do livro: ‘Tratava-se uma guerrilha mambembe (juntava menos de 50 homens)’. O MRT evaporou do mapa antes de 1963. A guerrilha que inspira Santiago não é, obviamente, essa de 1962, que nem houve, mas a que tomou corpo nos anos seguintes ao golpe e foi dizimada depois do AI-5, sobretudo entre 1969 e 1973. A novela do SBT empastela a história ao embaralhar a narrativa do golpe em 64 com a rotina dos porões da ditadura no pós-68. Será por acaso que os depoimentos reais ao final de cada capítulo sejam feitos por pessoas torturadas depois do AI-5? Isso não quer dizer, é óbvio, que não se torturou antes disso. Lembre-se o caso de Gregório Bezerra, comunista histórico, arrastado pelas ruas do Recife amarrado a um jipe em 2 de abril de 64. Segundo Gaspari, em ‘A Ditadura Escancarada’, ‘entre 1964 e 1968 foram 308 as denúncias de torturas apresentadas por presos políticos às cortes militares. Durante o ano de 1969 elas somaram 1.027 e em 1970, 1.206 (…). Em apenas cinco meses, de setembro de 69 a janeiro de 70, foram estourados 66 aparelhos, encarceradas 320 pessoas e apreendidas mais de 300 armas’ (pág.160). Depois de 68, a tortura foi ‘transformada em política de Estado’ (‘A Ditadura Escancarada’, pág. 18), o que deu outra dimensão ao problema. Não obstante isso, o monstro foi gestado e, na prática, tolerado desde o governo Castello Branco, como bem mostra Elio Gaspari. As restrições históricas que fiz à novela são quase acessórias diante do seu desastre dramatúrgico. Os diálogos escolares e impostados, o contorno involuntariamente cômico dos personagens, o ‘realismo mexicano’ de ‘Amor e Revolução’ é o que primeiro incomoda nessa reconstituição de época. Ela lembra, como disse o crítico Eugênio Bucci, aqueles quadros do ‘Casseta & Planeta’ caçoando das novelas. Folha de S.Paulo, 1/5 Vanessa Barbara Numerologia televisiva OS RELATÓRIOS de audiência da Rede Record têm precisão matemática. Por trás desses números desconexos, pode-se vislumbrar uma sequência mágica que rege todo o universo televisivo, e fazer uma previsão do que há de vir. Vejamos: na manhã de 7/10, o ‘Hoje em Dia’ ficou em primeiro por 59 minutos. No mesmo dia, a série ‘Dr. House’ registrou a liderança por 34 minutos, com oito pontos de média, pico de 15 e share de 29%. Pouco depois, o ‘Domingo Espetacular’ chegou a 20 pontos e garantiu a vice-liderança isolada no ranking geral. E o jornalístico ‘São Paulo no Ar’ ficou em primeiro lugar durante 780 segundos numa terça de manhã, o mesmo ocorrendo com a minissérie ‘Sansão e Dalila’, que abrilhantou o pódio por 14 minutos na região do Rio de Janeiro. Em fevereiro, o drama ‘Ray’, exibido no ‘Cine Record Especial’, ficou na liderança por uma hora e 14 minutos, levando a crer que muita gente só viu o filme pela metade. Somando todos esses números, multiplicando pela preguiça de mudar de canal e dividindo pelo número de insones da casa, pode-se dizer que a emissora está disposta a segurar o calção do espectador por todos os meios possíveis. Na última terça-feira, o público paulista garantiu a primeira colocação do programa ‘Ídolos’ durante 37 minutos -muito mais do que eu pude aguentar. Nessa edição do reality que busca novos cantores, dezenas de candidatos passaram por uma breve e humilhante audição, da qual só três saíram aprovados, num programa de quase uma hora de duração. Em busca de gloriosos segundos de vantagem, os jurados ridicularizaram os participantes, abusaram das caretas e optaram por uma quantidade ainda maior de candidatos bizarros. Os jurados compararam o talento dos calouros com uma Pepsi sem gás, com uma aula de física, com um miado de gato e mandaram que considerassem a ‘possibilidade de não cantar mais nada’. Dava pra perceber o esforço. Talvez fosse mais simples hipnotizar a audiência com um relatório do Ibope em tempo real, narrado pelo Britto Jr., e botar todo mundo pra dormir, garantindo assim umas oito horas de liderança e share de 40%.