Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Berkeley organiza conferência para discutir cobertura

Uma das críticas mais sérias feitas à mídia americana foi posta em xeque em uma conferência de três dias na Universidade de Berkeley, na Califórnia. Intitulada ‘The Media at War’ (A Mídia na Guerra), a conferência abordou, na semana passada, a atuação dos veículos de comunicação dos EUA durante a guerra do Iraque. Acusada de parcialidade na cobertura das justificativas do governo Bush para atacar o Iraque, a imprensa americana teve a oportunidade de se explicar – ou se complicar – em Berkeley.

Ocupando o ‘banco dos réus’, estiveram presentes alguns dos mais importantes repórteres que fizeram a cobertura da guerra. Eles representaram o New York Times, o Washington Post, a CBS, a National Public Radio e a revista New Yorker, entre outros veículos. Também participaram do debate o ex-chefe de inspeção de armas da ONU no Iraque, Hans Blix, e o ex-embaixador dos EUA Joe Wilson, cuja mulher teve sua identidade secreta de agente da CIA desmascarada depois que ele desafiou publicamente a veracidade das afirmações do governo dos EUA de que o Iraque possuiria um programa de armas nucleares.

De acordo com Charles Burress [San Francisco Chronicle, 16/3/04], estiveram na linha de ataque críticos conhecidamente fervorosos da cobertura da imprensa americana, como por exemplo Michael Massing, editor-colaborador do Columbia Journalism Review, que recentemente escreveu uma ríspida crítica à cobertura feita pelo NY Times e por outros jornais em uma matéria de capa do New York Review of Books. E, para apimentar ainda mais o clima, foram convidados jornalistas estrangeiros da al-Jazira, do Le Monde e de diversos outros veículos cuja cobertura da guerra divergiu completamente da realizada pela imprensa dos EUA.

Segundo o reitor da Escola de Jornalismo de Berkeley, Orville Schell, a conferência tentaria analisar ‘se a mídia conseguiu realmente debater as questões fora dos limites restritos da discussão americana’. Foi discutida também a influência do patriotismo na cobertura jornalística nos EUA.

A escola de jornalismo patrocinou a conferência em conjunto com o Centro de Direitos Humanos de Berkeley. Trata-se de um evento ‘sem precedentes’, enfatizou Eric Stover, diretor do Centro de Direitos Humanos e um dos idealizadores do projeto. Além dos variados debates e palestras, o encontro também proporcionou dois dias de treinamento de cobertura de conflitos para 20 jornalistas selecionados pelo Western Knight Center.

The Washington Times [17/3/04], o jornal conservador do reverendo Moon (o mesmo que, em outra ocasião, afirmou que o então candidato à presidência do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, tinha ligação com terrorismo) escrachou o evento, classificando-o de tendencioso e dizendo que soa como ‘um disco riscado’. Veículos considerados de linha mais direitista, como o canal Fox News e o jornal The Wall Street Journal, não foram convidados.