Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Blair teme poder dos tablóides

Artigo da Economist [10/3/05] analisa a extrema preocupação do premiê britânico, Tony Blair, em agradar os jornais populares. Em 1994, quando se tornou líder dos trabalhistas, ele estava convicto de que seu antecessor, Neil Kinnock, havia sido destruído pelos tablóides. Por isso, não mediu esforços para agradá-los, como mostra o recém-publicado diário de Piers Morgan, ex-editor do Daily Mirror, demitido após publicar fotos falsas de soldados britânicos maltratando prisioneiros iraquianos. Morgan calcula que, ao longo de seus 10 anos à frente da publicação, teve ’22 almoços, seis jantares, seis entrevistas, além de outros 24 encontros privados, regados a chá e biscoitos, e numerosas chamadas telefônicas’ com o primeiro-ministro. Isso tudo, ressalta ele, apesar de ser um ignorante auto-declarado em política.

Rupert Murdoch também foi cortejado. Dono do Sun, principal concorrente do Mirror, o australiano naturalizado americano sempre imprimiu um agressivo tom conservador a seu jornal. Apesar de odiar a idéia da União Européia, da qual Blair é entusiasta, Murdoch permite que o Sun apóie o premiê. Mas tudo tem seu preço. O tablóide hoje já não é mais tão amigável e há rumores de que pressões do mega-empresário de mídia teriam feito Blair mudar de idéia sobre a convocação de um referendo popular sobre a Constituição da União Européia, ao qual a princípio era contrário, mas que agora está marcado para 2006.

Influência superestimada

Se depender dos tablóides, a situação ficará cada vez pior para Blair. O Daily Mail, que foi comprado pelo editor de revistas pornográficas Richard Desmond, virou oposicionista da noite para o dia, pois seu novo dono aposta que o populismo conservador tem mais a ver com seu público. Estes diários parecem ter se cansado da esquizofrenia política do premiê e perceberam que os leitores já não se incomodam tanto com críticas a ele. Uma pesquisa mostra que o apoio ao governo caiu entre o público do Sun, de moderada posição situacionista, mas também, em proporção semelhante, entre aqueles que lêem o Daily Mail. Em outras palavras, o poder de influência dos jornais populares pode ter sido superestimado por Blair, e sua preocupação e dedicação a eles pode ter sido pura perda de tempo.