Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Brasil, uma nação de não-leitores

O Brasil é um país de ‘não-leitores’, afirma artigo publicado na prestigiada revista britânica The Economist da semana passada [16/3/06]. O texto é baseado em recente pesquisa sobre assiduidade de leitura, na qual o Brasil ficou em 27º lugar em uma lista de 30 países. De acordo com o resultado do estudo, os brasileiros dedicam apenas 5,2 horas semanais à leitura de livros.

Muitos brasileiros não podem ler, outros simplesmente não têm o hábito. Em 2000, um quarto da população brasileira acima de 15 anos era formada por analfabetos funcionais – aqueles que sabem ler mas não conseguem extrair sentido das palavras ou interpretar frases. Já entre a parcela alfabetizada da população, apenas um adulto em três costuma ler livros.

Em uma parceria incomum, governo, empresas e ONGs tentam de diversos modos mudar este quadro. Na segunda-feira (13/3), a administração do presidente Lula lançou o Plano Nacional do Livro e Leitura/Fome de Livro, que tem como metas principais inaugurar bibliotecas e financiar editoras. A ONG Instituto Brasil Leitor pretende aumentar o acesso dos brasileiros aos livros e já instalou bibliotecas em duas estações de metrô de São Paulo – uma terceira deverá ser inaugurada em uma escola de samba.

Indiferença aos livros

A reportagem da Economist alega que um dos fatores que desencorajam a leitura no Brasil é o alto preço cobrado pelos livros – mas que, por outro lado, a ‘indiferença aos livros’ viria desde os tempos da escravidão. O rádio era amplamente dominante no país nos anos 1930, o ensino primário tornou-se acessível a todos apenas na década de 1990 e as livrarias e bibliotecas ainda não são considerados como algo comum na rotina da maior parte dos brasileiros. ‘A experiência eletrônica veio antes da experiência escrita’, avalia Marino Lobello, vice-presidente de comunicação e marketing da Câmara Brasileira do Livro (CBL). Lobello especula que o mercado editorial no Brasil apresenta grande potencial de crescimento. Esta também parece ser a opinião de muitas editoras internacionais, que se instalaram no país recentemente.

O artigo conclui lembrando que a leitura é um hábito difícil de ser formado. Os brasileiros compraram menos livros em 2004 – 289 milhões, incluindo os livros escolares distribuídos pelo governo – do que dez anos antes. No ano passado, Pedro Corrêa do Lago, então diretor da Biblioteca Nacional, deixou o cargo depois de uma gestão polêmica. Ele reclamou que teve apenas metade dos bibliotecários de que precisava e que traças destruíram grande parte do acervo.