Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Canal censura desenho por medo de represália

Em 200 edições, o desenho South Park já fez piada com cristãos, budistas, cegos, gays, celebridades, políticos. A lista é longa. Sempre houve reclamações e críticas, que nunca pareceram intimidar os criadores do programa – que mostra o cotidiano de quatro meninos americanos e a cidade onde moram. Esta semana, entretanto, o canal Comedy Central, que exibe o desenho nos EUA, retirou todas as referências a Maomé no segundo de dois episódios que tinham o profeta como personagem.


Os criadores de South Park, Trey Parker e Matt Stone, não gostaram nada da censura. Pela internet, eles afirmaram que os executivos do canal resolveram alterar o episódio sem sua aprovação. O Comedy Central não comentou o incidente.


O corte de falas citando Maomé, por meio de sinais sonoros, ocorreu depois que um site de um grupo extremista auto-intitulado Revolution Muslim, com base nos EUA, fez uma ameaça após a exibição do primeiro episódio, em que o profeta aparecia fantasiado de urso. Na mensagem, era dito que os criadores estavam fazendo algo idiota e que provavelmente acabariam como Theo Van Gogh, cineasta que foi assassinado há seis anos por fazer um filme criticando a sociedade islâmica. ‘Isto não é uma ameaça, mas um alerta sobre o que poderá acontecer com eles’, ressaltava o grupo.


Analistas de mídia dizem que, ao tentar encontrar o equilíbrio entre a liberdade de expressão e o respeito às religiões, companhias de mídia podem abrir um perigoso precedente. Segundo o professor Eugene Volokh, da escola de direito da UCLA, a precaução da emissora é compreensível, mas ela provavelmente encorajará outros extremistas a agir da mesma maneira.


Em 2005, cartuns que representavam o profeta islâmico publicados em um jornal dinamarquês levaram a violentos protestos em diversos países. Um dos desenhos mostrava Maomé usando uma bomba no lugar do turbante. O cartunista sueco lars Vilks, autor de um desenho em que Maomé aparecia com o corpo de um cachorro, sofre até hoje ameaças de morte. Com informações de Scott Collins e Matea Gold [Los Angeles Times, 23/4/10].