Quanto frisson pode causar uma simples capa de revista nos EUA? Muito, se a revista em questão for a prestigiada Vanity Fair e a capa em questão expuser duas das atuais queridinhas de Hollywood nuas – completamente nuas. A edição de fevereiro da publicação – edição especial voltada ao mundinho de Hollywood – trouxe as atrizes Keira Knightley, que disputa o Oscar por Orgulho e preconceito, e Scarlett Johansson, elogiada no elogiado Match Point, de Woody Allen, em companhia do estilista Tom Ford – vestido. Ford foi também o ‘editor’ convidado para coordenar a parte artística da edição. (O curioso é que ele não apareceria na fotografia, mas substituiu a atriz Rachel McAdams, que desistiu de tirar a roupa pouco antes da sessão).
Não que nudez feminina seja uma novidade no mercado editorial, mas a capa deu o que falar. Segundo artigo de Jocelyn Noveck para a AP [22/2/06], questiona-se a necessidade de, quarenta anos após o auge do movimento feminista, atrizes ‘sérias’ terem que tirar a roupa para conseguir atenção. ‘É arte e diversão, ou [a foto] diz algo sobre a política sexual em Hollywood?’, completa.
Cadê eles?
Falou-se tanto no assunto que até a (falta) de nudez masculina nas revistas entrou em debate. Para Janice Min, editora da revista de celebridades US Weekly, a resposta para a ausência da exibição das curvas masculinas é clara e simples: mulheres gostam de ver homens sexy – mas não despidos. Janice, aliás, tem outras opiniões questionáveis a respeito da capa. Falando sobre as mulheres, ela sentencia que as revistas precisam mostrar atrizes com decotes porque, em Hollywood, ‘você tem que ser sexy para ser uma atriz de sucesso. Você simplesmente tem que ser’.
Voltando aos homens, para o professor de jornalismo Samir Husni, da Universidade do Mississippi, a questão é mais complexa. ‘Há um medo, neste país, de imagens de homens nus. Nós fomos treinados a olhar para imagens de mulheres nuas, mas não fomos treinados ainda para ver fotos de homens nus’, explica. Examinando o passado das publicações americanas, há alguns poucos exemplos, como Burt Reynolds na Cosmopolitan em 1972 e David Cassidy na Rolling Stone.
Discussões sobre gênero à parte, a foto da capa da Vanity Fair, de autoria da respeitada fotógrafa Annie Leibovitz, dividiu opiniões. A colunista social Liz Smith, por exemplo, escreveu sobre um jantar onde as pessoas folheavam a revista e a classificavam de ‘ridícula’ e ‘absurda’. Já o editor da Vanity Fair, Graydon Carter, disse ter ficado satisfeito com o resultado. A edição foi bolada por Tom Ford e, segundo Carter, o estilista teve ‘muita liberdade criativa’.
Só dá elas
Nas páginas internas, mais nudez… feminina. Um ensaio de 46 páginas traz atrizes como Angelina Jolie, Jennifer Aniston e Sienna Miller em diferentes graus de nudez. Há também uma matéria sobre um cirurgião plástico de Los Angeles onde ele aparece em uma foto – vestido – ao lado de um seio gigante. O ator Jason Schwartzman, de terno e gravata, também posa para uma foto ao lado de uma modelo nua – ela com a cabeça cortada na imagem.
Mas todo o falatório teve resultado? Na indústria editorial, se uma revista vende mais de 30% de seus exemplares em uma edição particular, é considerada um sucesso. Cada cópia vendida acima disso é dinheiro no banco. Essa taxa de cópias extras é conseguida fisgando o leitor de primeira viagem nas bancas. Curiosamente, a teoria da indústria professa que uma revista tem 2 segundos e meio para arrebatar aquele leitor – e isso é feito através da capa.
Beth Kseniak, porta-voz da Vanity Fair, diz que ainda é cedo para dizer o quanto a polêmica edição está vendendo, mas ressalta que a revista conseguiu três mil novas assinaturas e mais de cinco milhões de page views em seu sítio na internet.