Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘O projeto ‘jornalismo público’ da TV Cultura entra hoje em sua segunda semana. O objetivo de produzir um noticiário televisivo ‘independente do poder e do mercado’, ‘voltado para o cidadão’ e que ‘privilegia a compreensão do fato’ só pode receber incentivo e estímulo.

O resultado visto na tela nas primeiras cinco edições da nova fase do ‘Diário Paulista’ e do ‘Jornal da Cultura’ comprova que há empenho sincero da equipe liderada por Marco Antonio Coelho Filho, mas muito esforço ainda a ser feito até chegar aos ambiciosos resultados propostos.

O modelo do ‘espetáculo’ do telejornalismo que a Cultura pretende combater está enraizado demais em quem produz e consome informação pela televisão no Brasil.

A tendência de quem pretende superá-lo costuma ser encompridar os programas (os dois jornais dobraram seus 30 minutos anteriores), as unidades que os compõem e a pretexto de seriedade torná-las mais chatas. Quando isso ocorre, a conseqüência é perda de público.

Esse é um risco que a proposta da Cultura terá de superar se quiser dar certo. Há matérias longas demais que nem sempre cumprem o propósito explícito de ‘trazer a reflexão e o aprofundamento das histórias de interesse público’.

No ‘Diário Paulista’ de terça-feira passada, por exemplo, o interessante tema do veto da prefeita de São Paulo a um projeto de lei aprovado pela Câmara para pôr fim ao sacrifício de animais, embora tenha mostrado os dois lados da questão, deixou de responder a perguntas essenciais como se é possível fazer pesquisa médica sem usar bichos. Na mesma edição, reportagens sobre falta de água e enchente não explicaram por que elas estão ocorrendo.

Para se contrapor ao excesso de ‘fatos negativos’ que prevalece no telejornalismo, ‘Diário Paulista’ pode cair no extremo oposto de pintar o mundo de cor-de-rosa.

Na quinta-feira, uma reportagem afirmou categoricamente que a cidade de Santos resolveu o problema do transporte público, hipótese contestada por muitos dos quem moram ou visitam a cidade, como contraditoriamente a própria matéria documenta.

Além disso, é preciso resolver erros técnicos ostensivos demais, que ocorreram durante a semana de estréia do projeto, como anúncio de reportagens que não entravam no ar no momento previsto ou entravam com atraso. A informalidade do competente trio de âncoras é positiva, mas não suficiente para garantir qualidade ao programa.

O ‘Jornal da Cultura’ atual também padece de dificuldades semelhantes. O papel de Celso Zucatelli, o terceiro apresentador que dialoga com Heródoto Barbeiro e Márcia Bongiovanni, ainda precisa ser definido além de ele passear pelo estúdio e não usar paletó. A idéia é que ele dê coerência às notícias, mas isso ainda não está sendo feito com clareza.

As entrevistas de Barbeiro são mais longas do que as habituais na TV, mas talvez ele possa ser mais combativo no questionamento dos convidados do que foi na semana passada para oferecer aos espectadores mais debate do que exposição de idéias.

Linguagem inovadora

No prato dos pontos positivos da balança estão as intervenções dos comentaristas de temas específicos (economia, jurídico, esportes), a reflexão sobre o papel dos veículos de comunicação no caso do menino Iruan e o ótimo quadro ‘Blog do Tas’, este sim protótipo auspicioso de linguagem telejornalística inovadora, atraente e crítica.

Enfim, uma semana é muito pouco para traçar juízo definitivo sobre o que advirá desse corajoso desafio. São conhecidas as limitações orçamentárias e as complicações políticas que a TV Cultura enfrenta, o que torna a audácia dos dirigentes do seu jornalismo ainda mais admirável por terem se proposto a uma tarefa tão difícil num momento particularmente complicado da vida da emissora.

Carlos Eduardo Lins da Silva, 51, livre-docente, doutor e mestre em Comunicação, é jornalista e diretor da Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas’



BAIXARIA NA TV
Keila Jimenez

‘TV espanhola deixa brasileira no chinelo’, copyright O Estado de S. Paulo, 15/02/04

‘Se você acha que a TV brasileira está ruim, que nossas atrações têm cada vez menos qualidade, é porque você não conhece muito a TV espanhola.

Vamos começar por um dos maiores sucesso locais: o Big Brother espanhol.

Sim, eles também têm um, só que mais parecido com A Casa dos Artistas, do SBT. O Gran Hermano Vip – como o programa é chamado lá – estreou sua nova edição na Telecinco há poucos dias e reuniu dentro de uma casa participantes famosos na Espanha. Há atores, cantores, modelos, jornalistas, comediantes.

Famosos de verdade no país. Como no Big Brother daqui, a trupe está confinada em uma casa com câmeras por todos os lados. Dessas partem imagens que fazem o vaivém debaixo dos edredons do BBB parecer fichinha:

freqüentemente alguns vips da casa tomam sol nus na piscina. Há também muitos palavrões e cenas de amor para lá de picantes.

Uma das grandes atrações do reality show atualmente é o caso de amor entre os dois participantes mais velhos do programa, o ator italiano Fábio, de 63 anos, e a ex-vedete Marlene – que tem cara de ter mais de 55 anos, mas não revela a idade. O apresentador do programa é uma atração à parte. O Pedro Bial espanhol é Jesus Vázquez – mais bonito do que o Bial original – uma espécie de showman da TV local. Apresenta, além do Gran Hermano, pelo menos mais dois programas no canal, além de também cantar, atuar e otras cositas mas. Nas noites de domingo ele comanda uma entrevista especial com o último vip a sair da casa: o eliminado da semana. Joga um participante contra o outro e ainda conta ‘mentirinhas’ para os enclausurados. Em um dos programas chegou a falar que o Papa João Paulo II tinha morrido. Sem acesso a nenhum meio de comunicação na casa, os participantes parecem acreditar.

Casais famosos – Na mesma Telecinco – o canal é recordista de bizarrices na TV local – um programa que devassa a vida de casais famosos faz muito sucesso: A Tu Lado (Ao Teu Lado). A atração, que é exibida uma vez por semana, à noite, mostra tudo o que está acontecendo na vida de casais famosos na Espanha. Há quadros específicos na atração como Separação, que, como o nome diz, fala de quem se separou naqueles dias, Gravidez, que fala quem está grávida de quem no show business, Brigas, que relata os barracos dos namorados famosos, entre outros. Ah, há ainda um quadro especial que se chama Boda Real, que esmiúça o futuro casamento do príncipe espanhol, Felipe, com a modelo Letizia. Qualquer detalhe do casório- a cor dos lençóis da noite de núpcias- é registrado pelo programa.

Há comentaristas para cada assunto da festa e debates fervorosos sobre se a noiva deve ou não usar coroa. Estranho? O espanhóis adoram.

Adoram também sua Márcia Goldschmidt local, que comanda um programa parecido com o extinto Porta da Esperança, do SBT. A atração, da TVE, leva pessoas para contarem histórias tristes e pedirem algo na TV. A diferença é que todos os participantes querem a mesma coisa – cada programa tem um prêmio – e só um leva: o escolhido pelo público. Em uma das edições, cinco mulheres disputavam uma prótese de silicone.

Fugir dessas atrações não é nada fácil. Elas fazem parte do horário nobre da TV espanhola, que vai até as 23 horas (mais tarde que o nosso). É que o espanhol chega do trabalho mais tarde que o brasileiro. Como alternativa há canais de filmes, sempre dublados em espanhol – imagine Rambo falando: ‘si muchacho’ – e concursos de piadas contadas por humoristas à la A Praça É Nossa e comandados por uma espécie de João Kléber local.

E você ainda acha que a TV brasileira é ruim?’

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‘Vem aí mais pressão sobre os ‘policialescos’’, copyright O Estado de S. Paulo, 13/02/04

‘Uma série de ações cíveis e pedidos de indenização por danos morais. É assim que promotores do Ministério Público Estadual, de São Paulo, prometem apertar o cerco contra noticiários policialescos que andam passando dos limites na TV.

Segundo o promotor do Estado, Motauri Ciocchetti, essa será uma das maneiras de brecar os excessos de atrações como Cidade Alerta, da Record, e Brasil Urgente, da Band, que exibem com certa freqüência imagens que, de acordo com ele, atentam contra os direitos humanos. ‘Por baixo do pano de jornalísticos, eles ferem os padrões éticos, esses programas não respeitam nada’, diz Motauri Ciocchetti. ‘Recebemos uma série de denúncias de espectadores sobre essas atrações e abrimos várias investigações. O problema é que há muitos interesses envolvidos nisso, muita política, é complicado mexer com as emissoras de TV’, continua. ‘Por isso, encaminhamos um pedido grande de reclassificação de várias dessas atrações ao Ministério da Justiça, com investigações antigas que estamos fazendo. Se não obtivermos resultado, podemos apelar para ações cíveis.’

Na semana passada, esses noticiários tiveram suas classificações indicativas removidas para depois das 21 horas em decisão que valeu apenas por um dia.

No dia seguinte, a definição foi revista, sob a alegação de ter sido um erro do diretor do Departamento de Classificação Indicativa, Mozart Rodrigues da Silva, demitido em função do episódio.

A idéia do promotor é pressionar as emissoras de TV a se adequarem ao código de ética. ‘Fiz algo parecido quando muitos programas que iam ao ar à tarde estavam exibindo making of da Playboy. Adverti as emissoras que iria abrir ações contra elas, pedindo até indenização por danos morais aos telespectadores que as denunciaram. Logos pararam com isso.’

Ciocchetti fala que sua primeira opção continua sendo a reclassificação etária, mas também apresentará outras alternativas. ‘Para manter esses programas no horário em que estão, seria adequado que eles passassem para o pessoal da classificação indicativa, com antecedência, o roteiro das reportagens antes de leva-las ao ar’, diz ele. ‘Sei que é difícil, mas temos de estudar opções para resolver esse problema.’’

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‘João Kléber sai do ar e Marcelo Rezende vai para a Record’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/02/04

‘A semana começa com muitas mudanças na TV. João Kleber, da Rede TV!, perdeu seu programa Canal Aberto. A emissora tirou a atração do ar alegando desgaste, e promete dar a João um novo formato em abril. Para cobrir o lugar do Canal Aberto, dois programas ganharão uma bela esticadinha: A Casa É Sua, de Clodovil, terá mais 30 minutos, e Repórter Cidadão, de Marcelo Rezende, ganhará mais uma hora. Sim, o noticiário policial da emissora ficará a partir desta semana cerca de duas horas e meia no ar.

Por falar em Marcelo Rezende, já está certa sua mudança para a Record. O jornalista começou a ser sondado pela emissora no ano passado para comandar o Cidade Alerta. Fontes da Record afirmam que Rezende assinou contrato com a rede na sexta-feira e tem sua estréia prevista para o dia 1º de março. O jornalista tem contrato com a Rede TV! até 2006 e agora terá de negociar uma multa milionária de rescisão, mas isso já é outra história.

Gil Gomes no alvo- Enquanto espera Rezende comunicar sua decisão, a Rede TV! já está atrás de um substituto para ele no Repórter Cidadão. Gil Gomes, que chegou a substituir o jornalista durante suas férias, é o mais cotado.Na Record quem muda – de programa e de Estado – é Wagner Montes. A partir de hoje ele estará no comando do Cidade Alerta do Rio de Janeiro. O seu outro programa, Verdade do Povo, que estava em férias, não volta mais ao ar.’



Leila Reis

‘Insensatez rege ações do governo na TV’, copyright O Estado de S. Paulo, 15/02/04

‘Dia 3 de fevereiro: Mozart Rodrigues da Silva, Diretor do Departamento de Classificação do Ministério da Justiça emite despacho classificando cinco programas policiais – três do Ceará, mais Cidade Alerta, da Record, e Brasil Urgente, da Bandeirantes – impróprios para menores de 14 anos e, por isso, impróprios para exibição antes das 21 horas, por causa da exibição de imagens de extrema violência.

Dia 4 de fevereiro: o Diário Oficial da União publica o despacho.

Dia 5 de fevereiro: entidades da sociedade civil comemoram o ato do Ministério da Justiça sem saber que o Diário Oficial da União publicava a revogação do ato por ‘erro de informação’. Mozart Rodrigues é demitido por não ter competência legal para classificar programas jornalísticos ao vivo.

No espaço de dois dias, o poder público olhou para uma parte da programação da TV, tomou uma atitude para proteger os telespectadores jovens, e voltou atrás com uma explicação pouco convincente.

Ou seja, quando o governo trata a televisão como concessão pública (como ela realmente o é) mas volta atrás instantaneamente e penaliza o agente que tomou a atitude ‘fiscalizatória’.

O caso denota a grande dubiedade que rege as relações entre o governo e emissoras. Quando, por algum motivo, a instância designada para fiscalizar o serviço oferecido pelas concessionárias que operam a teledifusão age como manda (ou devia mandar) a lei, a casa cai.

Este caso é exemplar por alguns motivos. Em primeiro lugar porque foi a primeira intervenção do governo Lula no território da televisão. Desde que assumiu o Planalto, o poder petista não explicitou seu projeto para a TV.

Pelo contrário, trata-a como componente de sua base aliada, chamando-a para ajudar na divulgação de seus projetos ou estabelecendo uma camaradagem estreita com suas estrelas. Vários comunicadores adoram gabar-se de serem amigos do presidente.

Em segundo lugar mostra que o governo, como em várias outras questões, é um poço de contradição. Dentro dele, há forças que defendem o controle social do veículo e outras que preferem simplesmente desfrutar de sua simpatia para tê-la a seu favor quando precisar de seu poder de irradiação. Portanto, é possível afirmar, com pouca chance de engano, que foi esse conflito que provocou a ida e volta no caso.

Tanto é verdade que o pivô da confusão – os programas policiais – não gozam da menor simpatia do próprio comandante do Ministério da Justiça. Isso está documentado na entrevista que Márcio Thomaz Bastos concedeu ao Estadão em junho. Na ocasião, o ministro criticou a postura da polícia que colabora com os shows policialescos que, para ele, desrespeitam os direitos dos cidadãos.

Condenou a atitude ‘inadmissível’ desses programas que, a seu ver, condenam um indivíduo ‘antes mesmo da instauração de inquérito’ policial.

Nem vem ao caso entrar no mérito das evidências que levaram o funcionário do Ministério da Justiça a ‘empurrar’ os programas para um horário mais próprio para gente adulta. O fato é que, assim como o ministro, ele deve ter assistido a cenas que desrespeitam os direitos humanos de personagens de suas ‘matérias’. Mas o que contou realmente foi expor jovens e crianças à miséria produzida nesses shows – corre que um deles, exibido na hora do almoço no Ceará, gosta de mostrar imagens de cadáveres e outras barbaridades.

Assim, tanto o ministro – preocupado com a condenação a priori de cidadãos brasileiros, quanto o funcionário Mozart – preocupado com o público do outro lado do vídeo – têm a mesma visão desse lote da programação da TV. No entanto, as divergências internas (quem sabe a pressão dos procuradores das emissoras?) ou a falta de uma política do governo para o conteúdo da TV colocaram-nos em posições antagônicas.

Para prejuízo do telespectador, prevaleceu a insensatez.’



GLOBO / RESPONSABILIDADE SOCIAL
Valor Econômico

‘Social ganha mais espaço na Globo’, copyright Valor Econômico, 13/2/04

‘Em meio às aventuras de Jade – a heroína da novela ‘O Clone’ – e aos dramas dos personagens de ‘Mulheres Apaixonadas’, outra trama de sucesso no horário das oito da noite, os espectadores da Rede Globo puderam ver expostos, na tela da televisão, questões sociais como as drogas, a doação de órgãos e o respeito aos idosos.

Estes são exemplos de como os meios de comunicação podem comprometer-se com a responsabilidade social, disse, ontem, José Roberto Marinho, superintendente da Rede Globo. Entre 2001 e 2003, o número de intervenções desse tipo aumentou de 483 para 1.188, informou o empresário, durante o Fórum Brasil Fome Zero, realizado paralelamente à Expo Fome Zero, em São Paulo. No caso de ‘Mulheres’, do escritor Manoel Carlos, o impacto foi tão grande que teve repercussão na aprovação dos estatutos do Idoso e do Desarmamento, disse Marinho, um dos palestrantes do painel ‘Os desafios da comunicação no terceiro setor’.

Além das novelas, a Rede Globo destinou, em espaço publicitário, o equivalente a R$ 351 milhões para divulgação de ações sociais no ano passado. ‘Mais de metade dessas inserções foram de instituições que não estão ligadas à Globo’, informou. Entre outras ações de empresas das Organizações Globo, Marinho também destacou a distribuição, até agora, de quatro milhões de cartilhas sobre o programa Fome Zero. Agora, mais 16 milhões de cartilhas serão distribuídas.

Viviane Senna, do Instituto Ayrton Senna, também destacou o papel do merchandising social nas novelas. ‘É o exemplo de comunicação a serviço de uma ou várias causas.’

Marinho disse achar legítimo que as empresas usem a ação social para obter retorno institucional, mas fez um alerta quanto ao uso indevido deste tipo de ação só para conseguir publicidade gratuita na tevê e nos demais meios de comunicação. ‘Algumas empresas começaram a fazer essas ações já pensando no espaço que obteriam.’ Para evitar este tipo de risco, a Rede Globo passou a não citar os nomes das empresas em reportagens jornalísticas. Hoje, essas regras estão ganhando flexibilidade. ‘Vamos citar nomes, mas com cuidado’, afirmou Marinho. A ação social com fins meramente publicitários também foi condenada por Viviane Senna, que classificou o fenômeno de ‘miséria’. ‘É mídia própria com miséria alheia’, disse.

Diante do auditório lotado, com mais de 400 pessoas, Marinho convidou Viviane Senna para desenvolver, ‘a quatro mãos’, material orientado ao desenvolvimento de organizações não-governamentais.

A Expo Fome Zero terminou ontem, com a participação de cinco mil visitantes e 138 expositores. Empresas brasileiras e internacionais aproveitaram o evento para anunciar medidas de cunho social. Entre outras iniciativas, a Petrobras anunciou que vai investir R$ 303 milhões, até 2006, em projetos de combate à fome e a Unilever divulgou que vai aplicar R$ 13 milhões em projetos de educação alimentar em escolas públicas.’