‘Os jornais americanos, por estarem enfrentando crise sem precedentes, concentram esforços para criar instrumentos para reforçar seus vínculos com os leitores e sua relevância junto à sociedade.
O ‘New York Times’ recebeu na semana passada o prêmio Knight-Batten, que reconhece inovações no jornalismo, por suas novas ferramentas capazes de aumentar o controle social sobre as autoridades.
Uma delas se chama ‘Represent’. Com ela, o leitor de Nova York é capaz de acompanhar interativamente as atividades de seus representantes nos diversos níveis de governo.
O jornal coloca à disposição numa espécie de ‘facebook’ informações factuais e reportagens sobre cada político, seus votos, discursos, e permite ao leitor escrever comentários e mensagens.
Durante a eleição de 2008, o ‘Times’ colocou no seu site a íntegra em vídeo dos principais discursos e dos debates entre Barack Obama e John McCain, com a sua transcrição ao lado, o que permitia fazer buscas no texto ou remeter-se a partes específicas do maior interesse de cada pessoa, o que não é possível para quem está assistindo apenas ao vídeo.
Coisa parecida é o ‘Document Reader’, por meio do qual o jornal posta documentos públicos de qualquer tamanho e permite ao leitor procurar trechos que mais lhe interessem, assinalar passagens, fazer comentários à margem.
O ‘St. Petersburg Times’ tem o ‘Polifact’, que apura a veracidade de promessas ou declarações de candidatos a cargos públicos ou autoridades no exercício do mandado e coloca o resultado de sua apuração à disposição da audiência.
Parceiro constante de jornais que se aventuram nesses experimentos é o site Propublica (http://www.propublica.org), sem fins lucrativos, que se proclama independente e dedicado a produzir ‘matérias importantes com força moral’ resultantes de trabalho investigativo autônomo. Ele foi estabelecido em 2007, com dinheiro da Fundação Sandler, dos banqueiros Herbert e Marion Sandler, e é dirigida por jornalistas que deixaram o ‘Wall Street Journal’.
Estes são alguns exemplos de como a internet pode contribuir muito positivamente para melhorar a qualidade do jornalismo e das relações entre a sociedade e seus governantes.
Há quem enxergue na internet um inimigo do jornalismo. É um erro conceitual e estratégico. A internet é apenas um meio, como o rádio, a TV, o papel, em que se pode fazer jornalismo.
O jornalismo americano está em crise de modelagem de negócio, não de público. Nunca os grandes jornais diários tiveram tantos leitores quanto agora, graças à internet. Mas eles ainda não conseguiram achar a fórmula que transforme essa leitura em receita.
Uma das empresas jornalísticas mais lucrativas no momento nos EUA é o ‘Congressional Quarterly’ (CQ), que se dedica apenas à cobertura das atividades do Congresso dos EUA. Ele acaba de ser vendido pelo ‘St. Petersburg Times’ para um concorrente como forma de salvar o jornal diário de seus problemas.
O sucesso do CQ e das iniciativas acima mencionadas mostram que uma ligação orgânica entre jornalismo e acompanhamento de políticas públicas pode ser um caminho promissor.’
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‘O que não vem em mesa de bar ou computador’, copyright Folha de S. Paulo, 2/8/09.
‘Quem paga por um jornal espera receber informações apuradas com rigor e devidamente comprovadas. Boatos, fofocas ou invenções de fatos podem ser obtidos de graça em mesa de bar ou tela de computador.
Empresas jornalísticas se justificam pela estrutura e condições materiais que lhes permitem produzir notícias sujeitas a comprovação factual.
Assim, é desmoralizante quando o jornal publica como fez na seção Folha Corrida de quinta-feira duas fotos (da modelo Gisele Bündchen) e diz que uma delas é imagem ‘supostamente sem alteração’ e que a outra havia sido modificada para esconder a gravidez da modelo.
A Folha não entrevistou ninguém, não consultou nenhum especialista, não fez nenhuma apuração independente para editar essas afirmações não confirmadas. Atribuiu tudo a uma misteriosa ‘marca London Fog’.
Celebridades são historicamente tratadas com desleixo, desrespeito e até leviandade por jornalistas, como documenta o clássico filme de Fellini abaixo indicado, prestes a completar jubileu de ouro.
Mas não é assim que deve ser. Todas as pessoas (e o público) merecem ser tratadas com respeito e ética. Inclusive Gisele, cuja importância é muito bem avaliada no artigo recomendado a seguir.
PARA LER
‘A Moça Mais Bonita da Terra’, de Rodrigo Naves, ‘serrote’, número 2, p. 171-174 (revista quadrimestral à venda em livrarias por R$ 29,90)
PARA VER
‘La Dolce Vita’, de Federico Fellini, com Marcello Mastroianni e Anita Ekberg, 1960 (a partir de R$ 37,90)’
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‘Onde a Folha foi bem…’, copyright Folha de S. Paulo, 2/8/09.
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