Informações divulgadas esta semana revelam que o uso de escutas telefônicas ilegais na News Corporation era generalizado e de conhecimento da alta administração, noticia a AP [16/8/11]. Uma carta escrita há quatro anos pelo ex-editor Clive Goodman e tornada pública por advogados desmente afirmações feitas por James e Rupert Murdoch sobre o caso dos grampos no tabloide News of the World em depoimento no Parlamento britânico, no mês passado.
Com as novas informações, James Murdoch, que preside a News International, e Andy Coulson, ex-editor do News of the World e ex-chefe de comunicação do primeiro-ministro David Cameron, podem ter de depor novamente. Quatro ex-funcionários do News of the World já foram intimados a prestar depoimento em uma nova audiência marcada para setembro.
Na correspondência à gerência de recursos humanos, Goodman alerta que escutas telefônicas eram amplamente usadas no tabloide e que executivos sabiam disso. O jornalista foi condenado em 2007 a quatro meses de prisão por grampear telefones de funcionários de membros da família real britânica. Goodman relata que Coulson havia garantido que ele não perderia o emprego, desde que não acusasse ninguém do jornal em seu julgamento.
Mais contradições
Além desta carta, foi divulgada outra, da ex-firma de advocacia do grupo, a Harbottle & Lewis, que acusou a News Corporation de não usar adequadamente seus conselhos jurídicos. A empresa, com sede em Londres, contou que foi solicitado que fizesse uma “revisão superficial” de emails do News of the World após queixa feita por Goodman, que perdeu o emprego depois da condenação. No Parlamento, no mês passado, Murdoch-pai e Murdoch-filho afirmaram que a Harbottle & Lewis havia realizado uma “avaliação completa”.
O ex-advogado do grupo, Jonathan Chapman, declarou, em carta ao comitê de mídia da Câmara dos Comuns, que as alegações dos Murdoch continham “sérias imprecisões” – dando a entender que não é verdade que os dois não sabiam das ações de seus subordinados. “Ninguém impediu James Murdoch ou outro executivo qualquer da News International/News Corporation de estar a par dos fatos”, afirmou.
Outros executivos refutaram a alegação de James Murdoch de que não estava ciente de uma evidência que sugeria que a prática de grampos ilegais era recorrente. A evidência, contida em um email aparentemente destinado a um repórter do News of the World, mostra ser falsa a alegação de que o grampo telefônico era limitado a Goodman.
James Murdoch disse a advogados que não sabia do email na época, mas seu ex-conselheiro legal, Tom Crone, contou que chamou sua atenção para o assunto durante um encontro em junho de 2008. “Não tenho dúvidas de que informei Murdoch da existência do email”, afirmou Crone, em carta.
As novas informações colocam mais pressão sobre o clã Murdoch e a News Corporation, que já fechou o News of the World e teve de desistir da compra da companhia de TV paga BSkyB por conta do escândalo. O caso também derrubou o secretário de imprensa do primeiro-ministro e dois funcionários do alto escalão da Scotland Yard. Para Paul Connew, ex-editor do jornal, a sugestão de que os Murdoch teriam mentido no Parlamento fará com que Rupert Murdoch analise cuidadosamente a posição de seu filho na empresa. Na semana passada, o magnata afirmou que James não é sua primeira opção para sucedê-lo na presidência da News Corp. Com informações de Sarah Lyall, Ravi Somaiya e Alan Cowell [New York Times, 16/8/11].
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Mais um jornalista preso
James Desborough, ex-repórter do News of the World que cobria Hollywood, foi preso na manhã de quinta-feira, 18 (horário de Londres), por suspeita de conspiração para interceptar comunicações. Ele se apresentou em uma delegacia de polícia no sul de Londres para ser questionado sobre atividades criminais no extinto tabloide.
Segundo artigo no Guardian [18/8], as acusações seriam ligadas a acontecimentos antes de Desborough ser promovido a editor do News of the World nos EUA, em abril de 2009. Ele mudou-se para Los Angeles menos de um mês depois de ganhar o British Press Award na categoria de “repórter de showbusiness” – elogiado pelos furos que não deixavam “as celebridades com segredos dormirem em paz”. A detenção do jornalista é, segundo o Guardian, significativa porque levanta questões sobre o uso de técnicas ilegais de apuração também nos EUA.
Desborough é a 13ª pessoa detida na operação que investiga os grampos ilegais no News of the World – na lista estão Andy Coulson e a ex-executiva-chefe da News International Rebekah Brooks.