Após um período de três meses em uma penitenciária da Virgínia, a repórter do New York Times Judith Miller decidiu, na semana passada, colaborar com a investigação do vazamento da identidade de uma agente da CIA. O desfecho simples após a polêmica que levantou acaloradas discussões sobre os direitos e deveres dos jornalistas parece ter deixado mais confusão no ar do que respostas.
Dois fatos levaram Judith a concordar em testemunhar na sexta-feira (30/9): um telefonema de sua fonte, I. Lewis Libby, chefe de gabinete do vice-presidente dos EUA, liberando-a para quebrar o sigilo de identidade; e um acordo com o promotor federal Patrick J. Fitzgerald, que investiga o caso, para que ela revelasse o nome de apenas uma fonte. Até aí, tudo claro. O problema é a divulgação de cartas escritas pelos advogados de Judith e Libby, segundo as quais a jornalista teria permissão para quebrar o sigilo de fonte há pelo menos um ano.
Em carta de Libby para Judith, em setembro, o chefe de gabinete teria se mostrado surpreso com o pedido dos advogados da jornalista para ‘repetir a desistência da confidencialidade que ele havia dado há um ano’. Segundo Floyd Abrams, um dos advogados de Judith, em carta ao advogado de Libby, Joseph Tate, a permissão dada pelo chefe de gabinete teria sido forçada pelo governo. Abrams afirma que, em conversa com Tate, ele teria afirmado que Libby teria dado a permissão por pressão do governo, ou perderia o emprego. A falta de contato posterior entre Libby e a jornalista fez com que ela tivesse dúvidas quanto à seriedade da permissão. Já em carta endereçada a Fitzgerald, Tate nega a afirmação de Abrams e conta que, na ocasião, a permissão de seu cliente foi voluntária.
Acordo negado
Sobre o acordo com Fitzgerald, Abrams diz que a jornalista havia tentado fazer o mesmo há um ano com o promotor, mas ele teria recusado a proposta de limitar o testemunho de Judith à revelação de apenas uma fonte. Alguns advogados envolvidos no caso afirmaram que a decisão de Fitzgerald de rejeitar a primeira tentativa de acordo indicaria que Libby teria se tornado uma figura importante para concluir a investigação do promotor, iniciada há dois anos. No entanto, outros repórteres fizeram acordos com Fitzgerald no ano passado que limitaram seus testemunhos. Glenn Kessler, repórter do Washington Post, testemunhou em julho de 2004 sob as mesmas condições negadas a Judith há um ano, por exemplo. Na época, o jornalista teria revelado que o nome de Valerie não fora mencionado em suas conversas com Libby.
Fitzgerald teria informado que encerraria sua investigação quando obtivesse a cooperação da jornalista do Times – que, fique claro, nunca publicou nenhuma linha sobre a identidade da agente da CIA. O grande júri havia considerado que o caso seria investigado até o dia 28 de outubro próximo, quando então perderia a validade. O promotor pode indiciar alguém ou concluir que nenhum crime foi cometido – advogados envolvidos no caso prevêem que ele deverá informar suas intenções ao longo desta semana. Informações de Adam Entous [Reuters, 2/10/05], Adam Liptak [New York Times, 1/10/05] e Katharine Q.Seelye [The New York Times, 1/10/05].