A Escola de Jornalismo Medill abriu, há poucos meses, um campus longe da Universidade Northwestern, em Evanston, nos EUA. A nova turma de jornalismo – formada por alunos de 10 nacionalidades diferentes – teve início em agosto no Catar. O governo do país árabe paga por tudo, incluindo salários e acomodações para os professores, e deve, ainda, fazer uma ‘contribuição’ para a universidade americana.
O objetivo é simples: levar educação de primeira qualidade, direto dos EUA, ao Catar. Com população de 1,4 milhão de pessoas, o país tem um dos mais liberais líderes do mundo árabe – o xeque Hamad Bin Khalifa al-Thani –, mas ainda tem pouca experiência quando o assunto é liberdade de expressão.
Transformação
O programa de jornalismo é idêntico ao aplicado na escola nos EUA e, ao fim de quatro anos, os alunos receberão o mesmo certificado que os americanos. ‘Isso certamente irá mudar este país’, aposta o professor Richard Roth, que se mudou para o Catar há poucos meses depois de dez anos lecionando em Evanston, no estado de Illinois. ‘Estamos educando pessoas que, de outra maneira, não receberiam este ensino… e, quando ajudamos em sua educação jornalística, também ajudamos a transformar a sociedade’.
O projeto da Medill começou de maneira discreta: são 39 estudantes e sete professores. O intuito, no futuro, é chegar ao mesmo tamanho da escola nos EUA, com 180 alunos. Roth conta que não é fácil levar professores para Doha, capital do Catar. ‘Há falta de conhecimento sobre esta parte do mundo. Eles pensam que há guerra e ficam com medo, então eu fico enviando mensagens dizendo que a vida é boa aqui’, diz.
Cidade da Educação
O programa de jornalismo faz parte de um projeto maior, chamado Cidade da Educação. Especialistas em educação avaliam se tratar de uma abordagem inovadora. Em vez de se concentrar em uma grande instituição, o governo do Catar escolheu escolas de destaque dos EUA para criar uma espécie de campus universitário híbrido. Além de jornalismo, os alunos podem estudar engenharia, medicina, administração, relações internacionais e arte. As universidades de Cornell e Georgetown estão entre as instituições que abriram programas no campus.
A escola de jornalismo talvez seja a mais intrigante pela experiência de se ter uma instituição de um país que conhecidamente respeita e estimula a liberdade de expressão instalada em uma região que não tem uma tradição nesta liberdade. Para Robert Baxter, porta-voz da Fundação Catar, que supervisiona o projeto educacional, ‘é fantástica’ a presença da Northwestern ‘para ensinar jornalismo ao estilo americano em um país que não tem histórico de uma imprensa livre’.
Já Abdulla bin Ali al-Thani, vice-presidente de educação da Fundação Catar, diz ainda não saber se o país está pronto para aceitar todos os aspectos do jornalismo dos EUA, com direito a críticas ao governo e reportagens investigativas. ‘O quão longe poderemos ir, não sabemos’, afirma. ‘Se você simplesmente entra e passa a criticar uma sociedade que não está acostumada e este tipo de crítica, será preocupante. Mas se você faz isso de maneira responsável, dará tudo certo’.
Teste
A Medill foi procurada pelo Catar, pela primeira vez, em 2006. Segundo Roth, a esposa do emir, Mozah Bint Nasser Al Missned, dirige o projeto de educação e, em visita à universidade americana, no início deste ano, garantiu a estudantes que a liberdade de imprensa seria respeitada. Foi também por iniciativa do emir que foi lançada no Catar a controversa emissora de TV al-Jazira.
Parcerias entre o canal e o projeto de jornalismo serão inevitáveis, acredita Roth, ressaltando que estudantes da Medill deverão acabar estagiando na al-Jazira. ‘Seremos um teste’, resume a professora Janet Key, que ensinará jornalismo investigativo no Catar. ‘Viemos para cá com a idéia de que teremos liberdade de imprensa. O teste acontecerá quando pusermos nossos alunos nas ruas para reportar’. Informações de Liz Sly [Chicago Tribune, 2/10/08].