A rede de TV americana CBS afastou do trabalho a correspondente Lara Logan, responsável por uma matéria com informações falsas exibida no fim de outubro no programa 60 Minutes. “Eu pedi a Lara Logan, que tem se destacado e colocou-se no caminho do perigo muitas vezes ao cobrir matérias para nós, para tirar uma licença, o que ela concordou em fazer”, escreveu, em email à equipe, o presidente da CBS News, Jeff Fager, que também é produtor-executivo do 60 Minutes. Lara virou notícia em 2011 justamente por uma das ocasiões em que se colocou no caminho do perigo: a jornalista sofreu um ataque sexual quando cobria a queda do governo egípcio na Praça Tahrir, no Cairo.
O produtor Max McClellan também foi afastado. No programa em questão, sobre o ataque terrorista ao complexo diplomático americano em Benghazi, na Líbia, Lara entrevistou Dylan Davies, um profissional de segurança que alegou ter testemunhado o episódio que matou o embaixador Christopher Stevens e três outros americanos em setembro de 2012. Davies, que treinou guardas de segurança para o Departamento de Estado dos EUA, afirmou ter escalado uma parede naquela noite, batido em um terrorista com seu rifle até ele ficar desacordado e visto Stevens morto no hospital.
No entanto, quatro dias depois da exibição do programa, o Washington Post alegou que Davies contou a alguém de sua equipe que não estava em Benghazi na noite do ataque, dado que não casava com o apresentado no 60 Minutes – e que havia sido incluído em uma biografia de Davies publicada por uma editora que é subsidiária da CBS, relação que não foi mencionada na reportagem.
Erro lamentável
Dias depois, o programa levantou questões sobre as informações conflitantes. Mas, na ocasião, segundo Fager, Davies lhe garantiu que estava em Benghazi na noite do ataque e a informação divulgada pelo Post não era precisa. No dia 6/11, Fager ainda defendeu o programa. Um dia depois, no entanto, o New York Times revelou que Davies havia contado ao FBI que não esteve no complexo americano em Benghazi, em um relato diferente do concedido ao 60 Minutes e ao livro. Lara desculpou-se com o público em uma correção de pouco mais de um minuto. “Sentimos muito. A coisa mais importante para qualquer pessoa no 60 Minutes é a verdade. E a verdade é que cometemos um erro”, afirmou.
Fager compartilhou a culpa: “Eu sou responsável pelo que entra no ar. Eu me orgulho de pegar quase tudo, mas esse erro conseguiu passar e isso não deveria ter acontecido. Foi um erro lamentável. Mas há muitos bons profissionais no 60 Minutes, que produzem alguns dos melhores exemplos do telejornalismo, cobrindo as histórias importantes e interessantes do nosso tempo, e eles vão continuar a fazê-lo a cada domingo. Há muito a aprender com esse erro”.
Segundo ele, estão sendo feitos ajustes para evitar que erros ocorram novamente. Para Al Ortiz, diretor-executivo de padrões da rede, a reportagem foi deficiente em vários aspectos, e fontes mais amplas deveriam ter sido usadas para obter informações do Departamento de Estado e do FBI.
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