Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Uma indigesta ceia de natal

Nenhum caminhão atravessou nosso mercado de Natal como aconteceu, há dias , em Berlim, mas foi como se tivesse.

Nosso Natal foi pro brejo porque desde que o bom velhinho existe, a mídia só estimula gastanças , haja fundo ou não, e ceias fartas com peru,  tender, bacalhau, cerejas. Sem esses elementos gastronômicos que nada tem a ver com os trópicos, sem neve e trenó em pleno verão tropical, o Natal no Brasil não existe.

Existiu? Presentes foram escassos, a mesa teve galinha e farofa ou nada, as árvores, pobres, a iluminação das ruas, apagada, e os brasileiros ficaram frustrados porque o Natal por aqui nunca atingiu seu real significado de união, proteção, amor, solidariedade. Poucos articulistas investiram nisso em montanhas de publicidade vendendo o contrário.

Nada estranho que as mensagens de Natal deste ano viessem dos … Bancos, ou dos agentes investidores na pele do ator Murilo Benício e do ex-modelo e integrante do Manhattan Connection, Pedro Andrade.

Natal acalentado por bancos

“Gostaria de apresentar um Banco para você…”,diz a mensagem natalina. Ou ” tudo o que você precisa quando a economia mais precisa de você “. Mais uma ,” O que faz um ano inesquecível são aqueles segundos que se tornam eternos dentro da gente”. E ” Feliz 2017, e conte com o Banco… em cada segundo”. Mensagens poéticas enganam a gente, ” eu sou o tempo…gostaria de te dar um conselho. Pense menos em mim, mais em você. É perdendo tempo que se ganha a vida. O segredo do tempo não está nas horas que passam, está nos momentos que ficam. Porque são eles que vão contar a sua história. Eu sei disso. Eu sou o tempo”. E lá vem a assinatura do Banco ” para você ter mais tempo de ser pessoal”

E assim o brasileiro passou um Natal incomum, acalentado pelos Bancos que cobram os juros mais exorbitantes do planeta, e sem dinheiro para a ceia de Natal, quanto mais para investir. Pacotes ? Nenhum para abrir , só pacotes natalinos na economia.

Um Natal embrulhado por delações de onde jorram inacreditáveis bilhões em propinas espalhadas por aí. Um Natal onde se falou mais de economia do que amor e,  como escreveu Gil Castello Branco ( Globo, 20/12), respondendo à pergunta ” o que os brasileiros pediram a Papai Noel?, o melhor presente, a Lava-Jato.

Pelo menos nesse ítem tivemos um Natal menos indecente como escreveu Clovis Rossi (Folha de S. Paulo, 25/12). Mas com essa companhia política fica difícil seguir os preceitos cristãos , amar o próximo como a nós mesmos. E nos perguntamos como Machado de Assis questionou no célebre soneto, “mudaria o Natal ou mudei eu?”