Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Cerco à imprensa do Sudão e de Uganda

Embora o presidente do Sudão, Omar el-Bashir, tenha decretado o fim da censura por parte do governo aos jornais do país, autoridades sudanesas suspenderam por um dia dois jornais que cobriram manifestações na capital, Cartum. O editor do al-Watan, Ahmed Khalifa, informou que, no sábado (6/8), agentes de segurança confiscaram 400 mil exemplares do jornal com uma matéria responsabilizando o governo de Cartum pelas mortes causadas pelos tumultos na capital. Hussein Khojali, editor do outro jornal cujos exemplares foram apreendidos, al-Wan, disse que o jornal foi suspenso porque publicou editorial recomendando uma retificação no acordo de paz assinado em janeiro.

As manifestações duraram três dias na capital após o anúncio oficial, na segunda-feira (1/8), da morte do ex-líder revolucionário e vice-presidente sudanês John Garang, quando ele voltava de helicóptero da Uganda até o Sudão, com mais 13 pessoas, no fim de semana anterior. Os distúrbios resultaram na morte de 111 pessoas em Cartum e deixaram mais de 300 feridos. Em todo o país, pelo menos 130 pessoas morreram.

Garang fundou a organização rebelde Exército da Libertação Popular do Sudão em 1983 para lutar pela independência do sul do Sudão, de maioria cristã e animista, do norte muçulmano. Ele teve um papel decisivo na conclusão dos acordos de paz em janeiro, após mais de duas décadas de guerra civil do país.

Restrições na Uganda

O presidente da Uganda, Yoweri Museveni, ameaçou fechar os jornais que continuarem a publicar teorias conspiratórias sobre a morte de Garang, alegando que tais especulações seriam uma ameaça à segurança nacional. Ele acusou diversos jornais – sobretudo o jornal sensacionalista Red Pepper – de ‘consumirem a desgraça de outros como se fossem urubus’. No ano passado, o Red Pepper quebrou um grande tabu em Uganda – e na África em geral – ao revelar que o ministro do Exterior da Uganda, James Wapakabulo, havia morrido de AIDS. As matérias às quais Museveni se refere especulavam que o corpo de Garang havia sido encontrado com marcas de bala, insinuando que Ruanda estaria por trás do acidente aéreo.

Mesmo com as ameaças do presidente, o jornalista ugandense Andrew Mwenda continuou a especular sobre as causas da queda do helicóptero que matou Garang. Na sexta-feira (12/8), Mwenda, editor político do jornal Daily Monitor, foi preso, acusado de sedição, e a rádio K FM, na qual ele apresenta um programa, foi fechada. Informações da Reuters [6/8/05], de Sebastian Usher, da BBC [10/8/05] e da AP [12/8/05].