Uma imagem dominou as capas de jornais do Reino Unido na semana passada: a do príncipe Charles e sua esposa, Camilla, assustados e boquiabertos dentro de um Rolls-Royce durante um ataque de manifestantes contra o aumento de anuidades em universidades britânicas. Quem registrou a cena – que certamente será replicada muitas vezes no futuro – foi o fotógrafo Matt Dunham, da agência Associated Press. A foto tem valor histórico porque consegue fazer uma junção entre o momento da vida política no Reino Unido com a vida do príncipe. Além disso, é praxe que os membros da família real sempre estejam tranquilos e serenos em suas aparições públicas. A foto joga por terra quase dois séculos de autodisciplina da monarquia britânica.
Dunham foi o único fotógrafo a captar a imagem, em um misto de sorte, habilidade e determinação. Ele cobria a praça do Parlamento desde o meio-dia, saindo e entrando nos limites do cordão policial, quando necessário, para enviar fotos à redação. Quando escureceu, por volta das 18 horas, e com os protestos tornando-se mais violentos e caóticos, ele não pôde mais ultrapassar o cordão policial. O fotógrafo viu, então, um grupo de 200 jovens e decidiu segui-los. ‘O grupo estava lá para causar confusão’, contou. Eles tentaram, primeiro, atear fogo a uma árvore de Natal na Trafalgar Square e, depois, gritaram que estavam indo para a Leicester Square. ‘Eles estavam chutando latas de lixo e tentavam quebrar janelas. Mudavam de direção a todo o momento e eu os segui. Quando chegamos em Piccadilly, eles quebraram as janelas do Starbucks e estavam gritando que iam para o Top Shop. Havia poucos policiais e já eram umas 300 pessoas’.
Quando chegaram à Rua Regent, Dunham viu dois batedores e percebeu que deveria estar vindo um carro real. ‘O local estava tomado. O carro foi chutado e havia gritaria. Corri e vi que eram Camilla e Charles. Primeiro, Charles parecia estar acenando calmamente, tentando ser amigável, mas depois ficou preocupado. Camilla ficou visivelmente agitada. Havia poucas pessoas tirando fotos com celulares, mas eu sabia que era o único fotógrafo profissional no local’, lembra. ‘Havia desligado o flash, para não chamar atenção, mas para registrar dentro do carro com aquela iluminação era impossível. A adrenalina corria, liguei o flash e tirei cinco fotos. Peguei um taxi e voltei para a AP’. Como as fotos foram tiradas às 19h20, ele sabia que daria tempo de chegar às capas dos jornais do dia seguinte. Informações de Ian Jack e de Roy Greenslade [The Guardian, 10/12/10].