Apesar do pedido da organização Repórteres Sem Fronteiras, a União Européia não fez menção à falta de liberdade de expressão na China em uma reunião com o governo do país asiático na semana passada, em Pequim. Mesmo durante a visita dos representantes europeus, a ditadura chinesa seguiu fechando veículos de comunicação, sítios de internet, além de prender dissidentes do regime. No dia 24/9, o governo bloqueou acesso à versão chinesa da página Wikipedia, uma enciclopédia escrita com a contribuição dos internautas que contém uma série de artigos sobre infrações de direitos humanos na China.
Ainda no mês passado, foi fechado o fórum de discussão virtual Yi Ta Hu Tu, criado em 1999 por uma universidade, que tinha 300 mil participantes. Além disso, foi fechada a publicação diplomática Zhanlue Yu Guanli (estratégia e administração), por causa de um artigo em que o economista Wang Zhongwen criticava o governo da Coréia do Norte. Em 17/9, agentes secretos prenderam o jornalista Zhao Yan, correspondente recém-contratado pelo New York Times em Pequim. Ele foi acusado de ‘fornecer segredos de estado a estrangeiros’.
Profissão de risco
O Comitê de Proteção de Jornalistas, organização com sede nos EUA, tem investigado casos de violência contra profissionais de imprensa na China e ressalta que algumas companhias de seguros já classificam o jornalismo como a terceira profissão mais perigosa do país, atrás apenas das de policial e minerador de carvão.
Segundo o ex-editor de um importante jornal chinês, o crescimento do número de ataques a jornalistas se deve ao fato de que eles estão fazendo mais reportagens investigativas. A maioria das agressões é feita por capangas contratados por preços irrisórios. Em Guangzhou, enclave capitalista com sérios problemas de violência, é possível contratar alguém para agredir qualquer pessoa por US$ 6. Wang Keqin é conhecido atualmente como o ‘repórter mais caro da China’. Em 2002 ele fez uma investigação do mercado acionário na cidade de Lanzhou que culminou com o fechamento de 400 empresas ilegais em 26 províncias. Um dos empresários citados em suas reportagens ofereceu US$ 600 mil para quem matasse Wang, que recebeu várias outras ameaças de morte.
Segundo o CPJ, 42 jornalistas se encontram presos na China atualmente. O único consolo é que algumas autoridades têm demonstrado interesse em criar mecanismos de defesa para a imprensa. No ano passado, legisladores de um condado da Região Autônoma de Xinjiang Uighur aprovaram lei que proíbe o governo local de ameaçar jornalistas e de ‘confiscar ou destruir seus equipamentos de reportagem’. Com informações do OneWorld South Asia [29/9/04].