A cobertura jornalística de conflitos pode ajudar a promover a paz? Esta questão é abordada anualmente por Roy Greenslade [The Guardian, 29/10/2010], com seus alunos da City University. A ideia levanta polêmica entre jornalistas. Muitos são contrários à proposta de uma cobertura voltada para a resolução de conflitos, denominada ‘jornalismo de paz’. Greenslade conta que muitos dos seus alunos, no entanto, são céticos a princípio, mas depois percebem a influência e responsabilidade do jornalismo na promoção da paz.
Em termos práticos, há ainda um longo caminho a percorrer, como mostra um novo estudo sobre a cobertura da violência e de conflitos, realizado pelo Instituto para Economia e Paz (IEP) e pelo instituto de análise e monitoramento de mídia Media Tenor. Nos 37 programas de TV analisados pela pesquisa, de 23 emissoras de 15 países, apenas 1,6% do total era de ‘matérias positivas e promotoras de paz’. Há dados surpreendentes na pesquisa, como o fato de a al-Jazira ter sido a rede que ofereceu a cobertura mais equilibrada sobre o conflito no Afeganistão e de as emissoras americanas exibirem mais violência que outros países.
Promoção da paz
Quando se cruza os dados do estudo com o Índice Global da Paz, lista feita em parceria por universidades na Austrália, Reino Unido e Suécia, que avalia os países do mundo em seus esforços para se obter a paz, conclui-se que a violência não apenas tende a ser divulgada em países mais pacíficos do que em lugares onde há conflitos, como a cobertura também tende a ser desproporcional. A cobertura do conflito do Afeganistão, por exemplo, foi intensa nas emissoras europeias e americanas. Por sua vez, mesmo com a al-Jazira também tendo divulgado a violência, a cobertura foi mais dedicada a temas relacionados ao progresso na promoção da paz. Comparada à BBC World, a al-Jazira teve três vezes mais matérias positivas e, com a CNN, oito vezes.
Para Steve Killelea, fundador do IEP, é essencial a cobertura de promoção da paz, seja com o tom positivo ou negativo. ‘Há sempre algum progresso sendo feito, não importa o quão terrível seja a situação. Quando muita atenção da mídia é colocada na violência e na segurança, isto reforça a visão de que estes são os únicos caminhos para se estabelecer a paz’, opinou.