Já se passaram 11 meses desde que o colaborador do New York Times Zhao Yan foi preso pelo governo da China sob acusação de permitir o vazamento de segredos de Estado ao diário americano. Por se tratar de um suposto caso de espionagem, ele não está sendo julgado pela justiça, mas pelo Ministério de Segurança do Estado. Não foi dada nenhuma explicação pública sobre sua detenção e sua família não pode visitá-lo. Sabe-se que já perdeu mais de 10 quilos no cárcere, mas que, ainda assim, não estaria colaborando com as autoridades, motivo pelo qual pode receber uma pena ainda mais dura.
Antes de trabalhar para o Times em Pequim, Zhao já tinha uma longa carreira de jornalista em que denunciou problemas de corrupção no governo. No entanto, segundo reportagem de Jim Yardley [The New York Times, 31/8/05], é provável que sua prisão esteja mesmo vinculada às investigações que fez para o diário nova-iorquino. Especificamente, deve estar ligada a uma matéria que adiantava a renúncia do então líder chinês Jiang Zemin, fato que se concretizou com sua aposentadoria em setembro do ano passado.
O Times já declarou à China que não foi por Zhao que soube do afastamento de Jiang. A promotoria do caso, no entanto, dispõe de uma nota em que o jornalista descreve uma disputa do então presidente com seu sucessor, Hu Jintao, a respeito da promoção de dois generais. Como se trata de uma fotocópia, não é válida como prova segundo a lei chinesa. O advogado de Zhao, Mo Shaoping, rejeita as acusações contra seu cliente, alegando que não há qualquer evidência de que ele tenha recebido informações de funcionários do governo. Caso seja condenado, o jornalista pode ficar preso por mais de 10 anos.
Editor protesta contra prêmios para repórteres
Um editor sênior do Diário da Juventude de Pequim, veículo subordinado ao Partido Comunista, escreveu carta de 19 páginas criticando uma espécie de programa de milhagem para os jornalistas do diário. Segundo o sistema introduzido pelo editor-chefe Li Datong, os repórteres iriam acumulando pontos que se converteriam em dinheiro sempre que suas matérias fossem elogiadas pela Liga da Juventude Comunista. ‘Se isto não for mudado, nosso jornal vai virar pura falsificação’, escreveu Li Datong, no documento-protesto. Graças ao vazamento da carta, o regime chinês se sentiu constrangido e suspendeu o programa de recompensas. O diário é visto como progressista dentro do ambiente repressivo em que vive a mídia chinesa, e já trouxe à tona problemas como a corrupção oficial.