Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Colunista acusa EUA de negligência

O colunista Nicholas Kristof [The New York Times, 26/7/05] atacou duramente a mídia americana por sua negligência na cobertura da violência no Sudão. A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, esteve recentemente no país africano e falou com vítimas da violência sexual usada para aterrorizar a população, no que se considera ser o primeiro genocídio do século 21 e que passou praticamente em branco na imprensa dos EUA. Kristof critica a mídia porque ela reclama que a Casa Branca não fez nada para ajudar a população sudanesa mas está, por sua vez, muito mais preocupada com Michael Jackson e Tom Cruise que com o conflito naquele país. ‘Em certo sentido, retrocedemos: a mídia americana cobriu melhor o genocídio da Armênia, em 1915, que o (da região) de Darfur’.

Kristof cita exceções, notando que os grandes jornais dedicaram algum espaço ao tema. A revista Time até mesmo reservou-lhe uma capa. ‘Mas os semanários noticiosos deveriam se envergonhar de que muitas vezes havia melhor cobertura de revista para Darfur na Christianity Today‘, dispara. A televisão também teria fracassado amplamente no seu dever de denunciar a violência no Sudão. Em todo o ano passado, as grandes redes e mesmo os canais de notícias dedicaram menos de uma hora cada uma para este assunto. ‘Quem dera o julgamento de Michael Jackson tivesse sido em Darfur’, ironiza o colunista, observando que o processo contra o cantor ganhou 55 vezes mais reportagens na TV que o massacre no Sudão. ‘Nós criticamos Bush por sua passividade e espero que ele retruque. Nos comportamos de maneira tão lamentável quanto ele’, conclui.

Joe Strupp, da Editor & Publisher [30/7/05], foi ouvir editores de grandes veículos para saber o que achavam da acusação de Kristof. Muitos deles concordaram que faltou cobertura para o Sudão, mas apontaram motivos para isso. Os EUA seguem lutando no Iraque e isso exige um considerável esforço econômico e de infra-estrutura dos veículos. É natural que outras regiões do mundo fiquem mais desguarnecidas.

O Sudão não é o único lugar em que aconteceram fatos relevantes. Conflitos e turbulências ocorrem freqüentemente em diferentes partes do planeta. ‘Quantas coisas estão se desenrolando na América Latina também? Nós nos debruçamos sobre elas quando temos recursos e achamos que é a hora certa de fazê-lo’, comenta o editor de Internacional do USA Today, James Cox. Ele observa ainda que o jornal mandou um correspondente para Darfur e que foi dificílimo obter um visto para ele. ‘Mandamos uma solicitação que ficou emperrada por meses’.

Sobre o suposto excesso de espaço para histórias de celebridades, enquanto milhares de pessoas perecem sob a violência mundo afora, os editores ouvidos por Strupp apelaram ao argumento de que fofoca é o que o público quer ver. ‘Se não cobrirmos casos como o de Michael Jackson, será o nosso fim’, sentencia John Yearwood, editor internacional do Miami Herald.