Em coluna no New York Times [10/5/05], o deputado democrata John Tierney defendeu que a imprensa deveria parar de noticiar com tanto destaque os atentados suicidas no Iraque. Ele argumenta que esse tipo de ação tem, em linhas gerais, sempre as mesmas características, e que, por isso, não vale a pena desperdiçar o trabalho dos repórteres, quando poderiam estar cobrindo fatos mais importantes. ‘Nas últimas décadas, vi centenas, talvez milhares de artigos sobre atentados suicidas, mas li somente três até o final, e isso apenas porque eu os havia escrito’, comenta o político e jornalista.
Tierney compara a atual cobertura do Iraque com a época em que a televisão e os tablóides insistiam em mostrar assassinatos em Nova York diariamente, apesar de que a política do então prefeito, Rudolph Giuliani, vinha reprimindo a criminalidade. Mesmo que a metrópole diminuísse muito seus índices de violência, sempre haveria algum crime para a imprensa destacar. Na ocasião, o prefeito pediu que a polícia local segurasse as informações de delitos para depois do horário de fechamento, o que irritou a imprensa, mas causou pouca repercussão entre a população. Só então, segundo Tierney, os cidadãos começaram a se dar conta de que sua cidade era relativamente segura.
Se algo semelhante acontecesse no Iraque – ou se os próprios jornalistas buscassem outro enfoque sobre o país – a opinião pública internacional também poderia se dar conta de que os ataques suicidas são uma realidade, mas que afetam um número proporcionalmente pequeno de pessoas. ‘Um pouco de contenção daria ao público uma visão mais realista dos perigos do mundo’, conclui, argumentando que colocar os atentados suicidas diariamente nas manchetes é algo que só interessa aos terroristas que os tramam.