Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Comediante britânico enfurece governo cazaque

Não há praticamente nada de verídico na satírica representação do Cazaquistão – mostrado como uma terra de pobreza, prostituição e intolerância – feita por Sacha Baron Cohen, comediante britânico que interpreta um repórter de TV grosseiro, anti-semita, homofóbico e misógino chamado Borat Sagdiyev. Ainda assim, o comediante conseguiu irritar o governo do Cazaquistão, que, ao tentar esclarecer os fatos popularizados por Borat, atraíram ainda mais atenção para o assunto no país. As palhaçadas de Borat, transmitidas em emissoras de TV no Reino Unido, nos EUA e na internet, agora também circulam entre os cazaques.

Borat na telona

Há grande probabilidade de que Cohen venha a ficar ainda mais conhecido, com o lançamento em breve, nos EUA, do longa-metragem Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan (Borat: Ensinamentos culturais dos EUA para beneficiar a gloriosa nação do Cazaquistão, tradução livre). Tal notícia irritou ainda mais o governo do Cazaquistão, que já informou que fará de tudo para evitar a importação do filme no país, assim como a distribuição legal de seu DVD.

A pré-estréia do longa, no Festival de Filmes de Toronto, em setembro – antes da visita do presidente do Cazaquistão, Nursultan A. Nazarbayev, aos EUA –, piorou ainda mais a situação. A crítica pública da embaixada cazaque em Washington ao filme gerou uma série de artigos em jornais afirmando – erroneamente, segundo a embaixada – que Nazarbayev tinha a intenção de reclamar de Borat com George W. Bush. Cohen tentou convidar o presidente Bush a assistir ao seu filme, mas foi barrado da Casa Branca. A visita do comediante estava programada para coincidir com a visita oficial de Nazarbayev, presidente do país desde sua independência da Rússia, em 1991.

Imagem negativa do país

A embaixada cazaque informou que irá continuar a representar o país de modo positivo em comerciais de TV e anúncios em jornais, como o que apareceu na semana passada no New York Times. ‘Estamos preocupados com o fato do Cazaquistão – terra desconhecida por muitos no Ocidente – estar sendo representado desta maneira’, informou o porta-voz do Ministério do Exterior, Yerzhan N. Ashykbayev. Ele criticou a performance de Cohen como apresentador do último MTV Europe Music Awards, em Lisboa, e alegou que o comediante estaria agindo por ‘ordem política de alguém’ para denegrir o Cazaquistão e que o governo ‘tinha o direito de realizar qualquer ação legal para prevenir novas atitudes deste tipo’.

Cohen, que é judeu, defendeu-se em um vídeo divulgado em seu sítio. ‘Desde as reformas de Tulyakov, em 2003, o Cazaquistão está tão civilizado como qualquer outro país do mundo’, diz o personagem Borat no vídeo. ‘Mulheres podem agora viajar nos ônibus. Homossexuais não têm de usar chapéus azuis. E a maioridade subiu para oito anos’.

Tiro pela culatra

Ironicamente, não foi a atuação de Cohen, mas sim a reclamação do Ministério do Exterior, que deu à mídia do país a oportunidade de falar do assunto – e foi só aí que muitos cazaques souberam que havia um comediante britânico chamando a atenção mundial para o seu país. ‘Há uma regra não escrita de que a personalidade do presidente não deve ser nunca criticada’, afirma Baryz Bayen, correspondente e editor da emissora TV 31, canal privado em Almaty.

O Cazaquistão deve se tornar um dos 10 maiores produtores de petróleo do mundo dentro de uma década. Aliado dos EUA na guerra do Iraque, o país recebeu críticas por deteriorar liberdades civis e por fraudes nas eleições. Informações de Steven Lee Myers [The New York Times, 28/9/06] e da Reuters [29/9/06].