Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Como fazer a cobertura de um massacre

O massacre na universidade Virginia Tech tomou conta da redação do Washington Post na semana passada e este foi o tema da coluna de domingo [22/4/07] da ombudsman do diário, Deborah Howell. Vários editores haviam visto na manhã de segunda-feira (16/4), na CNN, que duas pessoas tinham sido alvejadas na instituição – informação que foi confirmada pelo sítio da Virginia Tech. Às 10h28 daquela manhã, a notícia já estava no sítio do jornal.

Dentro de poucas horas, 75 repórteres estavam envolvidos no caso e na batalha por mais detalhes. As matérias foram divididas em dois grandes temas: a tragédia humana e como as autoridades lidaram com a tregédia. O editor da seção da Virgínia, Mike Semel, enviou os primeiros repórteres para Blacksburg por volta de onze da manhã. Logo depois, mais oito jornalistas, dois fotógrafos e um designer foram para o local.

Ao meio-dia, Semel informou em reunião de pauta que o número de mortos havia subido. Às duas da tarde, a repórter Sari Horwitz trouxe a informação de que 32 pessoas haviam sido mortas. ‘Meus editores e eu estávamos chocados. Não estávamos acreditando que aquilo era verdade. Liguei novamente para as minhas fontes antes de colocar isto na rede’, conta ela. Após estes dados, Semel fez uma conferência por telefone com os jornalistas que estavam a caminho da Virginia Tech. ‘Era importante manter um foco em cada matéria’, lembra.

Editores do sítio do Post mandaram videorepórteres e um editor para produzir arquivos em vídeo e áudio para abastecer o sítio com podcasts, galerias de fotos e vídeos e discussões ao vivo. Na terça-feira (17/4), foi lançado um blog com as últimas informações. Ainda na segunda-feira (16/4), a maior parte da apuração foi feita por telefone; os repórteres entraram em contato com hospitais, dormitórios e celulares de estudantes e professores da instituição. O repórter José Antonio Vargas conseguiu falar com um aluno que estava dentro de uma das salas atacadas. ‘Foi quando tivemos noção do terror que foi, e de como o atirador era – jovem, asiático, com duas armas’, conta o jornalista Michael Ruane.

Diagramação e comoção

Para a edição de quarta-feira (18/4), houve muita discussão sobre como diagramar a primeira página. ‘Colocar fotos e a matéria do assassino no topo da primeira página iria fazer com que ele se tornasse uma celebridade? Como seria o melhor tratamento dado às vítimas?’, questiona a ombudsman. Uma chamada para uma promoção da seção de gastronomia foi retirada pelos editores, por ser considerada frívola demais.

Segundo Deborah, geralmente os jornais fazem uma boa cobertura de casos como este nos primeiros dias, mas então a cobertura fica mais fraca. Com o Post, ocorreu o oposto. O editor David Maraniss escreveu um artigo, publicado na quarta-feira (18/4), que comoveu diversos leitores. Após os ataques terroristas de 11/9 de 2001, Maraniss havia escrito um artigo elogiado sobre os atentados. Na semana passada, ainda que estivesse se recuperando de uma cirurgia, ele produziu, a pedido do editor-executivo Leonard Downie, uma matéria no mesmo tom sobre o ataque na Virginia Tech. ‘Meu objetivo era fazer com que os leitores não quisessem parar de ler o texto’, conta.