A Mongólia chegou a ser considerada um exemplo de democracia jovem nos anos 90, quando emergia de mais de sete décadas de ditadura comunista. No entanto, os velhos governantes, após perderem uma eleição em 1996, estão de volta ao poder já adaptados ao jogo democrático e empenhados em desestruturá-lo, como mostra Geoffrey York, do canadense Globe and Mail [21/6/04]. Na medida em que o país asiático volta a ganhar feições autoritárias, sua imprensa independente também sofre as conseqüências.
O antigo Partido Comunista, que chegou ao poder em 1921 com o auxílio de tropas bolcheviques russas, mudou seu nome para Partido Revolucionário do Povo Mongol (PRPM). Deixou de ser único, mas, depois de conquistar 72 das 76 cadeiras do congresso em 2000, aprovou uma lei que tira o status de partido das organizações com menos de oito parlamentares. Na prática, isso acabou com o direito dos representantes de oposição de se manifestarem nas sessões mais importantes do congresso. Depois, 15 mil funcionários públicos foram demitidos e substituídos por governistas. A comissão eleitoral mongol também passou a ter 9 situacionistas entre seus 11 integrantes.
No último ano, profissionais dos dois principais jornais de oposição do país foram intimados a comparecer a tribunais ou delegacias pelo menos 27 vezes, segundo uma organização de defesa da liberdade de imprensa. A repórter Erdenetuya (que, como a maioria dos mongóis, só tem um nome), de 23 anos, passou 23 dias presa, condenada por difamação do governo. Hoje vive com medo e quer deixar a Mongólia. ‘Às vezes tenho pesadelos de que estou na prisão. Quero realmente esquecer o que aconteceu. Terei de ser cuidadosa com o que escreverei no futuro’, resigna-se. Após libertada, Erdenetuya voltou a seu emprego com salário de US$ 100 mensais.
O primeiro-ministro Nambar Enkhbayar, líder do PRPM, disse que foi contra a prisão da jornalista, mas apoiou a decisão do governo de manter a difamação como um crime passível de prisão no novo código penal aprovado, um resquício da era comunista. ‘Estamos tentando tornar os jornalistas mais responsáveis. Há muitos artigos pagos’, disse Enkhbayar.