NowThis é uma empresa jornalística que foi criada para distribuir cont. Seus custos são baixos – uma equipe pequena, um investimento pequeno (em tecnologia de capital intensivo), nenhuma infraestrutura tradicional – e há pouco menos de dois anos pôs fim à sua presença em desktops. “Homepage. Até a palavra parece velha” é a mensagem que agora saúda as visitas com a intenção de enviá-las a outras empresas. Atualmente, os vídeos curtos produzidos pela NowThis dão origem a 1,6 bilhão de visitas por mês nas plataformas de outras empresas. A receita é compartilhada proporcionalmente.
Se antes os publishers usavam as redes sociais como uma ferramenta promocional para atrair usuários de volta a seus websites, agora as redes sociais e os aplicativos de mensagens se transformaram em hospedeiros de conteúdo – basta pensar nos Instant Articles, do Facebook; no Snapchat Discover; no Apple News; no LinkedIn Pulse; no Google AMP e até nos Twitter Moments. “Onde outras pessoas viam esta tendência como uma ameaça, nós a vimos como uma oportunidade”, disse Athan Stephanopoulos, presidente da NowThis, a uma audiência do painel de debates organizado pela Reuters Tomorrow’s News em Londres no início deste mês.
Este novo modelo coloca alguns problemas, principalmente o da sustentabilidade financeira. Falando durante o mesmo evento, Aron Pilhofer, editor executivo da versão digital do Guardian, disse: “Há um mundo que gostaríamos que existisse e há um mundo que existe. E o mundo que existe está cada vez mais distribuído e com menos intermediários financeiros. Podemos ignorá-lo e fingir que podemos criar uma empresa orientada por um destino – e não por um objetivo –, como se estivéssemos em 1996, ou podemos conviver com ele.”
É uma atitude pragmática por parte de um publisher tradicional. Também existem outras questões, como, por exemplo, a de repensar as relações com o leitor em plataformas controladas ou de propriedade de outras empresas. Trata-se de plataformas onde publishers consolidados concorrem com uma porção de outras fontes (umas, boas, outras, ruins) compartilhando invariavelmente um conteúdo idêntico ou semelhante.
Um acordo com os usuários
“Trata-se de um enorme desafio”, reconheceu Nathalie Malinarich, editora de aplicativos móveis na BBC News online. “Quando você olha para os dados que recebe do Facebook, depois de meia hora você já nem desconfia de onde vieram as notícias… A solução é encontrar sua própria voz e suas próprias matérias.” Para a BBC, identificar sua própria voz tem a ver com imparcialidade e confiança. “Isso é muito importante numa área de conteúdo distribuído. Em quem você vai confiar?”
Repetindo o que havia dito Nathalie Malinarich, o chefe do departamento de notícias estratégicas e parcerias com publishers do Google, Eero Korhonen, comparou a confiança implícita que um leitor tinha num jornal com a relação que um usuário tem para com uma plataforma social guiada por dados. “Eles perdoavam o jornal nos dias em que ele não lhes dava o que queriam, ou não os surpreendia, porque, em termos de média, o jornal o fazia”, disse Korhonen. “O algoritmo não sabe em qual conteúdo deve confiar.”
Portanto, como é que você vai produzir confiança numa era de conteúdo distribuído? Para Nathalie Malinarich, trata-se de princípios e transparência. “Quando falo de confiança, estou falando de padrões editoriais de ética”, disse ela. “Você confiou que o veículo jornalístico tivesse checado a matéria, que ele estivesse dizendo o que sabe e o que não sabe. Também é sobre a atribuição das informações – se você as recebeu de outra fonte, então diga.”
Para Mark Challinor, presidente da International News Media Association, confiança significa reconhecer que se os futuros modelos de receita se baseiam em dados de grande procura por parte dos leitores, então “precisamos convencer os usuários que em troca de nos darem informações sobre eles, nós iremos dar-lhes um serviço de qualidade”.
A curadoria de conteúdo
Também para a NowThis, confiança significa um contrato com o usuário para fornecer conteúdo relevante, interessante e agradável. “Quando alguém gosta de sua página, essencialmente está lhe dando a autoridade para você contribui com seus dados jornalísticos. Portanto, você tem um certo nível de responsabilidade”, disse Stephanopoulos à audiência da Reuters.
E quanto a uma solução por algoritmos? O Trust Project, que foi criado com um financiamento inicial de Craig Newmark, fundador da Craigslist, espera que a tecnologia “possa incluir, de maneira clara, as provas de uma reportagem confiável – precisão, transparência e inclusão – em novas práticas, ferramentas e plataformas”. Quando o projeto compartilhou um primeiro conjunto de táticas práticas, o professor e escritor Jeff Jarvis interveio com uma série de propostas suas guiadas pela tecnologia. Suas sugestões incluíram citações rigorosas através de links, priorizando o trabalho original, e não as novas versões ou o serviço de correções que acompanha o leitor. A ideia é criar uma série de sinais que ajudem a determinar a exatidão por trás da matéria que é narrada.
Jarvis criou sua lista de desejos no final de 2014. Embora, na época, estivesse escrevendo antes que a distribuição de conteúdo pelas redes sociais se tornasse a regra, muitas de suas sugestões são pertinentes até hoje. É duvidoso, por exemplo, que citações através de mapas com links com o Facebook e outras redes sociais construam algo parecido com os jardins murados no estilo do AOL e do Yahoo! da década de 90. Infelizmente, o hyperlink parece incompatível com o grande projeto de distribuição social de conteúdo.
A curadoria de conteúdo – combinando a filtragem guiada por dados com a intervenção humana – poderia ser outro caminho para criar confiança e garantir a procedência do jornalismo mais procurado. Mas também isso, como o Facebook descobriu no mês passado, não é isento de riscos. Afinal, as plataformas sociais podem incluir a tecnologia, mas não têm embutidos padrões editoriais éticos, processos e instinto.
***
Jon Bernstein é consultor independente de mídia digital