O Estado de S. Paulo, 17/4
Stephanie Rosenbloom, The New York Times
O senhor poderia autografar meu Kindle?
Numa mesa na Barne & Noble em St. Petersburg, Flórida, T.J. Waters autografava cópias do seu livro Hyperformance, quando um fã que estava na fila com a versão no e-book se aproximou e disse: ‘Pena que o sr. não pode autografar o meu Kindle!’. Waters, consultor sênior do QG de Comando de Operações Especiais dos EUA pensou: ‘Como é possível que a tecnologia consiga pôr um homem na lua e eu não posso assinar um e-book?’.
Os consumidores, hoje acostumados a ouvir música e ver filmes em aparelhos liliputianos, também estão lendo cada vez mais Scott Turov e Suzanne Collins em Kindles, Nooks e iPads. O leitor pode ser um apaixonado por Haruki Murakami e não ter um único romance do escritor na estante.
E essa tendência se torna cada vez mais comum. Segundo a Forrester Research, até 2015, as vendas de e-books nos EUA deverão triplicar para quase US$ 3 bilhões. Entretanto, essa drástica transformação criou um dilema: Como os autores vão autografar um livro? Alguns leitores resolveram pedir aos autores que assinem as costas dos seus iPads e as capas dos Kindles. Mas a crescente demanda por soluções mais elegantes provocou uma corrida das empresas de software e de marketing para trazer os autógrafos de livros para a era digital.
Waters faz parte da vanguarda. Ele e Robert Barrett, um executivo da área de tecnologia da informação, planejam lançar o Autography na BookExpo America em Nova York, em maio.
A assinatura num Autography e-book funciona assim: um leitor posa com o autor para uma foto, que pode ser tirada com uma câmera de iPad ou externa. A imagem aparecerá imediatamente no iPad do autor (se tirada com uma câmera externa, será enviada para o iPad via Bluetooth). Então com uma caneta stylus ele rabiscará uma mensagem digital embaixo da foto. Ao terminar, pressionará uma tecla no iPad enviando ao fã um e-mail com um link para a imagem, que então poderá ser baixada no e-book.
Quanto demora tudo isso? Cerca de dois minutos e meio. Potencial para gabar-se? Infinito: Os leitores podem postar a foto personalizada no seu perfil no Facebook e no Twitter.
O Autography foi testado em reuniões de autógrafos nos EUA e no exterior, inclusive em visitas às tropas americanas: Waters assinou um e-book em pleno voo a cerca de 12 mil metros de altura sobre o Iraque.
Recentemente, ele assinou e-books para fãs em Dublin durante show de rádio na Flórida, enviando aos visitantes um e-mail com link com seu autógrafo.
Rachel Chou, diretora de Marketing da Open Road Integrated Media, a companhia editora e de marketing que organizou as assinaturas eletrônicas, disse que ainda este ano os consumidores conhecerão uma variedade de avanços no campo da assinatura digital, inclusive e-books com páginas em branco para essa finalidade. Alguns aparelhos já têm soluções próprias, como o Reader da Sony, que permite ao autor usar uma caneta para assinar uma página na tela.
Mesmo assim, Chou ponderou que nem todos os leitores ligam para autógrafos. ‘A dúvida é: o que vale mais, o autógrafo ou a prova concreta de que você conheceu aquela pessoa?’. Na era da modernização, ela acha que é a segunda opção.
No ano passado, a Open Road organizou um encontro de autógrafos em São Francisco para o livro Midnight Guardians, de Jonathan King, numa convenção anual sobre mistério. Em vez de assinar seu nome inúmeras vezes, King posou com os fãs para fotos, que eles receberam em pen drives carregados com informações exclusivas, como entrevistas em vídeo. No fim, os leitores ganharão mais com o dinheiro que gastarem, posando nas reuniões de autógrafos. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA