Saturday, 21 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Comunique-se

O FUTURO DO JORNAL
André Rosa

Com crise da imprensa, profissionais questionam futuro do jornalismo

‘Entusiasta dos modelos de colaboração na Internet, o jornalista e diretor da The Information Company nos EUA Pedro Augusto Costa publicou, no site InvestNews, um artigo sobre a sustentabilidade financeira da Wikipedia. Antes, tratou de convidar usuários do site Wikimedia no Brasil, para corrigir e ajustar o texto.

Cerca de 30 colaboradores o ajudaram a aprimorar o conteúdo do artigo – que, em um dos trechos, afirma: a Wikipedia, reunindo conhecimento de forma prática e ágil, está tomando o lugar dos jornais. ‘Todo mundo gera conteúdo e compete com você, e essa mudança está vindo de uma forma muito rápida’, complementa Costa, profissional acostumado a ‘separar o joio do trigo’ há 30 anos.

Nesse cenário onde artigos sobre ciência, economia ou tecnologia podem ficar melhores se escritos a várias mãos, em uma conversa onde leitores e espectadores participam da produção editorial, qual o papel de quem está acostumado a filtrar o que interessa? ‘E pra que esse profissional?’, devolve Costa, questionando a necessidade do jornalista.

‘Se todo mundo está convidado a ser jornalista, as pessoas ainda vão precisar de alguém que escolha suas notícias? Será que existirão repórteres daqui a cinco, seis anos? O jornalismo é uma atividade muito bonita para ficar apenas nas mãos dos jornalistas’, provoca.

Outras vozes

O debate sobre o futuro do jornalismo aumentou nas últimas semanas, coincidindo com as notícias sobre a crise nos jornais impressos, sobretudo nos EUA. Discurso similar ao de Pedro Costa, sobre a falta de otimismo da imprensa norte-americana, tem o colunista de O Estado de S. Paulo Pedro Doria.

Seu ponto de vista, que rendeu 140 manifestações em seu blog, Doria lembra que os números indicam aumento na circulação de jornais, mas por uma conjuntura econômica. Isso quer dizer, em suas palavras, que ‘os grandes grupos de mídia brasileiros têm mais tempo do que os norte-americanos para enfrentar as mudanças que já estão acontecendo’.

Pedro Costa lembra que, diante desse impacto, a imprensa ainda não encontrou um modelo viável para pagar seus custos. ‘A mídia sabia que isso aconteceria e não fez nada para mudar, não se preparou para este futuro. E ainda é impossível dizer qual a alternativa para isso’, conclui. Para Doria, três modelos estão sendo analisados: a publicidade, a existência de fundações mantenedoras e doações do público.

Autor do blog de sugestivo nome ‘O Jornalismo Morreu!’, o professor do curso de Comunicação do Centro Universitário Una Jorge Rocha convidou jornalistas para analisar este panorama. Ao final, uma pergunta permanece sem resposta: ‘então, a partir daqui, para onde é que nós vamos?’.

Entre tantas incertezas, a constatação de Pedro Costa é: ‘precisamos nos adaptar’.’

 

Comunique-se

Equipe estuda integração física de site e jornal O Globo

‘Embora a integração das redações das versões impressa e online do Globo já tenha sido completada na parte conceitual, jornalistas ainda não trabalham lado a lado, o que deve acontecer em breve. Como não é possível esperar por uma obra que permita que isso aconteça, uma equipe está avaliando espaços e necessidades dos profissionais.

A estrutura organizacional já foi alterada. A versão online se reporta à redação da versão impressa. Inclusive, quando o Comunique-se visitou a redação do Globo para acompanhar um dia de produção do jornal, percebeu que editores do site já participavam ativamente das reuniões de pauta que acontecem no segundo andar do prédio, no Centro da cidade do Rio.

Os estudos ainda não estão concluídos para fazer a integração física das equipes, mas uma das possibilidades é levar o Jornal de Bairros para onde hoje funciona a redação do online.’

 

INCOMPATIBILIDADE
Comunique-se

Jornalista do Senado fazia campanhas e não se licenciava

‘Jornalista e advogada, a diretora da Secretaria Especial de Comunicação Social do Senado Federal, Elga Mara Teixeira Lopes, tem deixado a Casa para se dedicar a campanhas eleitorais. A denúncia é da edição desta sexta-feira, do jornal O Globo. Segundo o diário, Elga, que é especialista em pesquisa de opinião, trabalhou em campanhas mas continuava recebendo os vencimentos do Senado. A jornalista conta que, quando realizou esse tipo de trabalho, estava de férias.

Levantamento feito pelo jornal junto à Diretoria de Recursos Humanos mostra que não houve registro de afastamento ou licença nos períodos em que ela fez campanhas.

Contratada em 28/02/03, nomeada pelo então presidente José Sarney (PMDB-AP) como secretária parlamentar, ela trabalhou na campanha de João Paulo (PT) à prefeitura de Recife, um ano depois. Em 2006, fez a cmapanha do senador Delcídio Amaral (PT) ao governo do Mato Grosso do Sul. Também fez a campanha pelo Amapá de Sarney e o segundo turno da campanha de Roseana Sarney (PMDB) no Maranhão.

‘A Elga trabalhou durante a minha campanha de 2006, mas depois foi chamada pelo Sarney para ir para o Amapá. Ela teve que ir embora porque ele estava apertado lá’, conta Delcídio.

Coordenador de rádio e TV das campanhas de Sarney e Roseana, Ricardo Soares contou que Elga atuou nas campanhas do presidente do Senado no Amapá e no segundo turno no Maranhão. ‘Esteve lá o tempo inteiro e trabalhou bastante. Dizia que era contratada do Senado, de onde vinha seu pagamento, e que tinha sido levada para lá pelo Sarney’.

No ano passado, trabalhou com a equipe de Kaká Colonesi por dois meses em Manaus, na campanha do candidato a prefeito Omar Aziz (PMN). Segundo pessoas que conviveram com Elga, ela ficou por dois meses por lá.

Através do assessor de imprensa do gabinete de Sarney, Chico Mendonça, Elga avisou que apresentaria documentos provando suas férias, o que não foi feito. Disse também que é celetisa (não concursada), e que por isso não devia exclusividade ao Senado.

‘Em 2006, não exerci qualquer função nas campanhas de Roseana e do senador José Sarney. Estive em São Luís por poucos dias, quando dei literalmente, palpites na análise de pesquisa de opinião da campanha da governadora de Roseana’, disse, através de Mendonça.

Estatatuto do servidor público não permite ausência em função original

O estatuto do servidor público, válido para celetistas também, diz que a prestação de serviço fora de sua função só é permitida se não prejudicar a original.

‘Se ela era diretora do Senado não poderia receber de contratos particulares. Não sabia que ela tinha participado dessas campanhas e se não teve um afastamento da função, vamos examinar o caso para ver o que fazer’, disse o 1º secretário do TCU, Heráclito Forte (DEM-PI).

Se for comprado que Elga se ausentou de suas funções no Senado sem se licenciar para atuar nas campanhas, o TCU pode entrar com ação pedindo que ela devolva os salários pagos pela Casa nesses períodos.

Elga tem mestrado em pesquisa de opinião na França. No Senado, atuou como diretora da Secretaria de Pesquisa de Opinião Pública.

Procurada pelo Comunique-se, Elga não está no departamento de Comunicação do Senado nesta sexta. Segundo colegas, só volta ao Senado na segunda-feira (30/03).’

 

CONTEÚDO NA REDE
Bruno Rodrigues

Quando uma notícia merece destaque?

‘Por vezes nos esquecemos das explicações básicas sobre para que serve a web, mas são justamente estas que precisamos tirar da gaveta de quando em quando e espanar a poeira acumulada com o tempo. Veja o benefício da transparência, por exemplo.

Mais do que as outras mídias, a online cria a possibilidade da troca entre quem consome informação e quem produz. O que já nos parece tão óbvio nem sempre é aproveitado com todo o potencial e como usuários esperam.

Mais que abrir uma janela para receber opiniões, o recurso da interatividade cria, queiramos ou não, a ‘síndrome do pequeno príncipe’: uma vez que o leitor se sente cativado com todas as possibilidades de troca com a equipe editorial do site, cai no colo dos jornalistas a responsabilidade de aguentar o tranco. Em resumo, vira-se alvo rapidamente, seja para críticas ou elogios.

Por isso, nas últimas semanas a possibilidade – ou compromisso? – da transparência foi posta em cheque à medida que dois acontecimentos se desenrolavam: o falso ataque neonazista à brasileira na Suíça e a excomunhão dos médicos e da mãe da menina de nove anos, grávida, em Pernambuco.

Diferente do que acontecia na televisão e no jornal, em que os fatos chegavam ao final do dia devidamente lapidados e apresentados dentro de uma linha editorial equilibrada em relação às outras notícias, na web o que ocorria era apresentado a conta-gotas e era possível notar claramente os poréns que garantiam destaque ou não nas primeiras páginas dos sites.

Veja o caso da brasileira na Suíça. Nos noticiosos online, a questão começou mais como uma questão de ameaça à soberania nacional do que uma questão de grave violência. Na TV e nos impressos, dourava-se a pílula e a informação chegava menos emocional, mas cautelosa.

Estou longe de achar que o tom emocional da ‘notícia de agora’ que caracteriza a notícia na web seja um ponto negativo; esta maneira de tratar os fatos foi herdada do rádio e ela é um grande diferencial – é a base de uma preciosa persuasão da qual os telejornais e dos ‘jornais do dia seguinte’ se ressentem.

Mas é transparente (e aí chegamos ao ponto) que há muito mais na cabeça dos jornalistas e seus respectivos veículos online do que supomos. A notícia precisa chegar tão ‘emocionalmente lapidada’ a quem recebe a informação através de outras mídias? Ser tendencioso é uma coisa; envolver os fatos em um pouco de emoção e daí criar empatia e persuasão é outra.

Sobre a pobre menina engravidada pelo padrasto, a questão foi diferente. Enquanto a excomunhão era a pauta do dia, os noticiosos online abriam as portas para a opinião dos leitores, que abarrotavam os comentários dos sites com impropérios ou defesas inflamadas sobre a ação do arcebispo de Olinda. Foi a Igreja refutar a ação dom José Cardoso Sobrinho para a questão ter sua hierarquia até mesmo visual – a posição e o tamanho dentro das páginas – rebaixada. O que antes era destaque virou, em pouco tempo, link de ‘leia ainda’ nos sites. Por quê? Era assunto interessante enquanto criava polêmica, e uma vez que a ação foi minimizada, não era chamariz o bastante para o leitor, foi isso?

O usuário nota, porém. Não foram poucos os comentários de leitores que perceberam este ‘desnível’ de destaque em ambas as notícias. Enquanto isso, à noite e no dia seguinte, tv e jornal tratavam os assuntos com o (devido?) distanciamento.

E você, notou esta diferença de tratamento? Já percebeu esta postura com relação a outros fatos jornalísticos?

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A próxima edição de meu curso ‘Webwriting & Arquitetura da Informação’ começa em 7 de abril no Rio. Para quem deseja ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição da informação na mídia digital, é uma boa dica! As inscrições podem ser feitas pelo e-mail extensao@facha.edu.br e outras informações podem ser obtidas pelo telefone 21 21023200 (ramal 4).

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Gostaria de me seguir no Twitter? Espero você em twitter.com/brunorodrigues.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

 

EXTRA! EXTRA!
Milton Coelho da Graça

O Globo testa tablóide, mas não diz para o quê

‘O pessoal da direção do JORNAL DO BRASIL viveu uma agitação especial na semana passada com o exame minucioso de um exemplar em formato tablóide de O GLOBO. Era uma edição experimental, distribuída a um grupo selecionado de assinantes, aparentemente um teste para medir a reação do público a uma mudança de formato.

O próprio JB também é hoje um tablóide, mas a circulação posterior não permite uma comparação adequada. Após cortes de pessoal e outras medidas equivocadas, nenhum analista sério poderia dizer se o novo formato agravou ou vem suavizando a trajetória de decadência do jornal. O DIA, que já foi o mais vendido no País, buscando reverter mais uma significativa queda de circulação no ano passado, desde a edição de 20/03, busca recuperar-se como tablóide. Os primeiros números não são animadores, mas ainda é cedo para uma avaliação sobre o acerto ou não da mudança..

O diretor de redação de O GLOBO, Rodolfo Fernandes, desmentiu formalmente à reportagem de Comunique-se a hipótese de que a edição experimental tenha sido um teste para eventual mudança de formato do jornal:

‘O GLOBO está permanentemente analisando as tendências de mercado, em fóruns permanentes, como a WAN (World Association of Newspapers), ou em troca de informações com as principais publicações no exterior. Portanto, jamais adotaria o formato tablóide, identificado no mundo inteiro com um segmento de mercado diferente do que ele atua.’

A afirmação de Fernandes sobre a identificação do formato tablóide com um segmento diferente de O GLOBO foi verdadeira até algum tempo atrás. Mas hoje vários jornais dirigidos ao público mais qualificado, como os britânicos The Times e The Independent, já se tornaram tablóides. E, no Rio Grande do Sul, um tablóide – ZERO HORA – está no time nos jornais classe A desde seu lançamento e é o jornal proporcionalmente mais lido do País, se a circulação for comparada com o mercado atingido.

Mas, como Fernandes foi peremptório no desmentido, restam duas explicações para as edições experimentais (há informações seguras sobre outras, que circularam apenas internamente, sob a designação genérica de ‘testes de máquina). Também há quem afirme que a direção da empresa está preocupada com os fracos resultados do DIÁRIO DE S. PAULO e os testes fariam parte de preparativos para a mudança de formato da fracassada – pelo menos até agora – tentativa da Infoglobo de botar um pezinho em território paulista. Ou (aqui acrescento um simples palpite) não se pode esquecer que o formato tablóide poderia ser uma boa proposta para guindar a circulação do EXTRA ao primeiro lugar em circulação no Brasil.

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Netsunami cada vez mais aparente

Pesquisas americanas necessariamente não são válidas para o Brasil. Mas, pela experiência, acreditamos que, quando o assunto é imprensa, em geral as tendências se repetem aqui.

Como os americanos tomam conhecimento do noticiário local? Estes números comparativos entre 2006 e 2008 mostram um considerável avanço da internet em dois anos: em 2006, 34% só se informavam em jornais impressos, 5% só na Internet e 4% usavam as duas fontes; em 2008, esses números passaram a ser, na mesma ordem, 25%, 9% e 5% .

Como os americanos se informam ‘regularmente’ sobre notícias locais? 66% indicaram a TV, 41% jornais, 34% o rádio e 31% a Internet. O entrevistado podia mencionar mais de uma fonte de informação ‘regular’.

E como sentiriam o fechamento de seu jornal local? Entre os que lêem jornais ‘regularmente’, 55% sentiriam ‘muito’, 25% ‘mais ou menos, 10%, ‘não muito’ e 10% ‘nem um pouco’. Mas, entre as pessoas que só lêem ‘algumas vezes’, os números são péssimos para a auto-estima dos jornais: apenas 12% ‘sentiriam muito’, 25% ‘mais ou menos’, 21% ‘não muito’ e 42% ‘nem um pouco’.

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Senador Heráclito, os nomes, por favor

O senador Heráclito Fortes anunciou que a lista de ‘amigos’ de seus companheiros de Câmara Alta, merecedores de afagos especiais sob a forma de passagens aéreas gratuitas, inclui muitos jornalistas e, por isso, causaria grande impacto.

Que bom, senador! A coisa de que jornalista mais gosta é impacto na opinião pública. Por favor, revele todos os nomes e todas as passagens concedidas, indicando datas e percursos.

Certamente, cada um de nós, a ABI, a Fenaj e os sindicatos ficaríamos muito felizes e gratos por essa demonstração de que V. Exa. não teve a menor intenção de nos intimidar. Se a revelação não ocorresse, ficaria obviamente a impressão de que V. Exa. não é tão sério como até hoje demonstrou.

(*) Milton Coelho da Graça, 78, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

 

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Não estamos aqui para denegrir ninguém

‘Amantes são

meninos estragados pelo

mimo de amar

(Drummond, jornalista e poeta.)

Não estamos aqui para denegrir ninguém

Em sua apreciada coluna aqui no C-se, o considerado Antônio Brasil chama de excelente o artigo intitulado Palavras discriminatórias, da lavra de Jarbas Vargas Nascimento e datado de 21 de abril de 2007. Nascimento, diretor acadêmico da Faculdade Zumbi dos Palmares e doutor em Letras pela USP, discorre sobre ‘palavras incorporadas em nosso dia-a-dia que podem ferir a identidade do negro brasileiro. Um exemplo é o verbo denegrir.’

Janistraquis, que é fã de Antônio Brasil, pede vênia para discordar dele e também do professor:

‘Considerado, falece-me paciência para agüentar (assim mesmo, com o trema) esses politicamente corretos, os quais, ainda por cima, adjuram em causa própria. O elogiado texto do professor não desce tão redondo assim e sua tese é ominosa, pois nenhuma palavra deve ser escorraçada do idioma só por que cismaram com ela, né mesmo? O vernáculo exige respeito e os intelectuais negros devem ter coisa mais importante a fazer do que incinerar vocábulos em praça pública.’

Este colunista concorda e aproveita para lembrar que, quando alguém, por exemplo, se refere à judiação imposta a um infeliz, não assume, obrigatoriamente, atitude anti-semita; judiação, todos sabem, é fazer de uma criatura alvo de escárnio ou de maus-tratos.

Confira o artigo do professor.

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Vinhos destilados?!?!?!

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre o cinismo oficial enxerga-se o presidente no estafante trabalho de construir um milhão de casas populares, sem nenhum interesse eleitoreiro, diga-se, pois Roldão lia o caderno de turismo do Correio Braziliense quando deparou com esta informação na matéria intitulada NORMANDIA – Em tempos de paz:

O calvados, um vinho de maçã, é a bebida típica da Normandia. Da maçã é extraída a sidra, depois fermentada e destilada.

Mestre Roldão, homem viajado e de hábitos finos, que aprecia todos os líquidos preciosos, desaprovou:

A rigor, vinho é a bebida alcoólica obtida pela fermentação da uva, embora se aceite a extensão da denominação de ‘vinho’ para outras bebidas fermentadas. A sidra é um ‘vinho (espumante) de maçã’. O calvados é uma bebida alcoólica destilada. Não é um ‘vinho’. Pode-se dizer que é uma aguardente de maçã.

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Mimo de amar

Leia no Blogstraquis a íntegra de Destruição, soneto da lavra de nosso colega jornalista Carlos Drummond de Andrade. Excelente para se dizer àquela ingrata, em mesa de bar, tendo uma garrafa de calvados por testemunha.

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O mal é a fome

Outra e mais recente ‘pesquisa’ sobre saúde e alimentação, desta vez feita pela revista da Associação Médica Americana, garante que o consumo de carne vermelha e carnes processadas leva ao câncer e ao ataque cardíaco.. A megapesquisa analisou dados de meio milhão de voluntários entre 50 e 71 anos de idade.

Janistraquis leu, soltou boas gargalhadas e eructou:

‘Considerado, esses caras reclamam de barriga cheia; qualquer mula perdida na caatinga, qualquer cachorro das ruas sabe que a maior causa de mortalidade, no mundo inteiro, é justamente a fome…’

A propósito, leia no Blogstraquis o saboroso artigo da considerada Marly Gonçalves, intitulado Os Proibidos.

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Sabedoria

Esta frase percorre a internet e encerra um curso supletivo de ciência política:

Existem duas ocasiões perfeitas pra ficar calado: quando você sabe de menos e quando você sabe demais.

Outra que circula por aí:

OBAMA agora é chamado de OB: ele está no melhor lugar, mas na pior hora.

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Miguezim de Princesa

Janistraquis ignorava, porque Janistraquis é um ignorante, mas o considerado Claudio Humberto reservou em seu sortido site um arquivo especial para a obra do poeta Miguezim de Princesa, o qual acaba de produzir outra e formosa diatribe, desta vez dirigida ao ‘Senado que trabalha demais’. Leia aqui.

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O Supremo e os ladrões

O considerado Estevão Magalhães, engenheiro no Rio, envia matéria da Folha de S. Paulo, na qual está escrito, sob o título Para STF, furto de pequeno valor não é crime:

Furtos de pequeno valor não devem ser considerados crimes, conforme já se manifestaram todos os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) em julgamentos do tribunal. Levantamento do próprio Supremo mostra que em ao menos 14 casos julgados em 2008, a Corte considerou ‘insignificante’ os delitos praticados.

(…)A Folha teve acesso aos processos dos considerados crimes de bagatela. O furto de uma garrafa de catuaba, uma garrafa de conhaque, um saco de açúcar e dois pacotes de cigarro, produtos com valor de R$ 38, por exemplo, chegou ao STF no ano passado. Em outro caso, os ministros julgaram o furto de uma carteira com documentos e R$ 80 em espécie.

O engenheiro Magalhães confessa indignação, porém Janistraquis, tomado de sesquipedal euforia, já anda de olho nas galinhas do vizinho.

(Leia no Blogstraquis os detalhes dessa novidade do STF, a qual transforma o Brasil, definitivamente, em franquia da Casa de Noca.)

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Fome zero

Frase que percorre a internet com a velocidade de notícia ruim:

Trabalhe duro. Milhões de pessoas que vivem do Fome Zero dependem de você.

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Motivo do sigilo

Lido no estimulante Dê sua opinião, do UOL:

Para você, por que o governo não abre arquivos da época da ditadura militar?

Janistraquis, que jamais emitiu opiniões, porém suspeita de deus e o mundo, reagiu:

‘Ora, considerado, os arquivos da ditabranda devem estar repletos de histórias acerca de militantes de esquerda, hoje no PT, que se revelaram uns cabras muito mofinos; submetidos a interrogatório vivaz, certamente deduraram as próprias mães…’.

Meu assistente falava sério, todavia notei um discretíssimo tom de deboche, ao estilo presidencial.

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Caras&bocas

Manchetinha que se leu e leu e se escutou e se viu por aí afora:

Mulher já fez mais de 60 plásticas

Janistraquis não se conformou quando ficou provado que a mulher em questão não era Marta Suplicy:

‘Considerado, errei, mas você há de concordar comigo de que a notícia é a cara da Marta, né não?’

É a cara, sim!

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Renovação

Título de notinha no Clipping TV:

Ratinho surpreende e renova com o SBT

Janistraquis não acompanhou a noveleta, é claro, mas tem certeza de que a notícia certa seria esta:

SBT surpreende e renova com Ratinho

‘É uma simples questão de hierarquia, considerado, somente isso’, explicou.

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Dura lex

O excelente Globo Rural mostrou a miséria de uma família do cerrado, escondida num casebre com a cobertura aos pedaços porque o Ibama não permite o corte das folhas de buriti que lhe serviriam de remendo. A lei deve ser cumprida, apregoa-se.

Título de matéria na Folha: Lei falha converte biólogo que porta arma em bandido; deve-se cumprir o estatuto do desarmamento.

Por essas e tantas outras Janistraquis está convencidíssimo de que a frase segundo a qual ‘a lei existe para ser cumprida’ é a mais desalumiada, estulta, estúpida, imbecil, néscia, pacóvia e tola do mundo, se é que o mundo pensa com a cabeça do Brasil:

‘Considerado, quem já freqüentou algum curso primário antes de se formar em direito e virar delegado ou juiz, deveria saber que a lei, qualquer lei, não existe para ser cumprida, mas para ser in-ter-pre-ta-da. O resto é conversa fiada em porta de cadeia.’

Concordo plenamente. Aliás, existem leis tão cretinas que não deveriam ser cumpridas nem interpretadas, mas jogadas no lixo e o autor encaminhado à prisão mais próxima.

(Leia no Blogstraquis a matéria da Folha e perca o que resta do seu humor.)

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Nota dez

A coluna recebeu 32 mensagens, das quais algumas trazem até abaixo-assinados, todas a exigir nota dez para o artigo do considerado José Maria e Silva, intitulado Ciência Viciada e publicado na Folha de S. Paulo. O texto alberga frases assim:

— Na prática, o uso de drogas já foi legalizado no país, com a bênção de tucanos e petistas -ideologicamente ecumênicos quando se trata de subverter costumes.

— as universidades estão defendendo cotas para drogados nas mesas diretoras do Congresso, nos gabinetes ministeriais e nas cortes de Justiça. Deve ser por isso que os autores da declaração condenam, veementemente, o exame antidoping.

(Leia no Blogstraquis a íntegra do corajoso e demolidor artigo)

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Tempos da Inquisição

Leia também o artigo do doutor Drauzio Varella, intitulado Incoerência Católica. Eis algumas frases pinçadas por Janistraquis:

Os males que a igreja causa em nome de Deus vão muito além da excomunhão de médicos.

(…) Podemos acusar a Igreja Católica de inúmeros equívocos e de crimes contra a humanidade, jamais de incoerência. Incoerentes são os católicos que esperam dela atitudes incompatíveis com os princípios que a regem desde os tempos da Inquisição..

(…) Os políticos não ousam afrontar a igreja. O poder dos religiosos não é consequência do conforto espiritual oferecido a seus rebanhos nem de filosofias transcendentais sobre os desígnios do céu e da terra, ele deriva da coação exercida sobre os políticos.

(Hospeda-se no Blogstraquis a íntegra do herético e excomungado artigo)

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Errei, sim!

Esta é do suplemento Viagem, do JB. Na Alemanha, três boas livrarias, dizia a manchete de página. Janistraquis leu, releu e comentou: ‘Considerado, três boas livrarias tem é em Caruaru; na Alemanha eu garanto que tem muito mais.’ (novembro de 1992)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 66 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

 

JORNALISTAS & CIA
Eduardo Ribeiro

30 anos depois, a greve mantém-se insepulta

‘Um excepcional trabalho conduzido pelo repórter free-lancer Rubens Marujo, sobre quem já escrevi aqui em outras oportunidades, acaba de sair do forno: uma suculenta edição especial do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, sobre os 30 anos da greve de 1979, a completar-se em maio próximo. Ele foi inicialmente planejado para oito páginas, mas acabou saindo com 20, tantos e tão intensos foram os depoimentos colhidos com personagens da base, da cúpula do movimento e também do patronato.

Fica patente nos depoimentos que aquela greve, aprovada numa noite fria do dia 22 de maio de 1979, no Tuca, teatro da PUC, em Perdizes, por 1.692 profissionais, foi histórica na sua capacidade de mobilização e desastrosa na organização e nos resultados obtidos, levando os jornalistas de São Paulo a uma dura derrota, com graves consequências.

Participei intensamente daquela greve, comparecendo a todas as assembleias, às reuniões na redação em que trabalhava (revista A Construção São Paulo, da Editora Pini) e aos piquetes na porta do Estadão e da Folha de S.Paulo. Mas, novato ainda, eu era apenas um militante de baixa graduação no então florescente movimento sindical.

Eu quis a greve como a esmagadora maioria da categoria e como ela muito menos pelas reivindicações postas na mesa (aumento real de 25% fora da data base e estabilidade no emprego para os membros do Conselho Consultivo de Representantes da Redação – CCRR) e muito mais para turbinar aquele momento histórico de luta pela redemocratização do País.

Neste belo e histórico trabalho conduzido por Marujo, para o Unidade, os depoimentos falam por si. Otavio Frias Filho, do Grupo Folha, por exemplo, lembra que ‘na época, eu entendia bem as razões políticas dos grevistas e simpatizava com elas. Mas atuei no fechamento do jornal naqueles dias, atendendo a uma solicitação de meu pai, o Sr. Frias, que estava convencido de que ceder, naquele momento, enfraqueceria demais a posição dos jornais. E penso hoje que ele estava certo’. Frias também confirma uma afirmação que ficou na cabeça de todos os jornalistas e patrões desde então: ‘Não diria que após a greve os patrões se ‘uniram para demitir jornalistas ao longo do tempo’. Penso que a greve teve um efeito perverso, do ponto de vista sindical: ela mostrou que era possível fazer edições sofríveis com apenas cerca de 20% dos efetivos das redações. Ficou óbvio que as redações estavam em alguma medida inchadas e por esse motivo houve dispensa de parte dos profissionais nos meses seguintes’.

A opinião externada pelo diretor de Opinião do Grupo Estado, Ruy Mesquita, sobre aquele movimento é um soco no fígado dos que votaram ou defenderam a greve com todas as forças: ‘A greve, como dissemos à época, foi ‘injusta, inconsequente, irresponsável, inoportuna, anti-democrática e, finalmente, ilegal’. Ruy também afirmou que ‘outro mito a respeito do movimento é o de que 90% dos jornalistas abandonaram seus postos de trabalho. Não houve tal adesão. Nos primeiros dois ou três dias, houve, de fato, considerável número de ausências, motivadas, em boa parte, pelos métodos agressivos e nem um pouco pacíficos utilizados pelos piquetes para impedir o acesso às redações dos jornalistas que queriam trabalhar. Esses problemas foram sendo contornados e, no sexto dia da greve, pelo menos dois terços dos jornalistas que trabalhavam nas redações do Grupo Estado estavam a postos.

O então presidente do Sindicato, David de Moraes, recluso, diz que não quer mais falar sobre essa greve – ‘esqueça que eu existo e coloque tudo que já saiu a respeito na minha boca’, afirmou a Marujo, que no texto relatou que encontrou ao telefone um David de Moraes arrasado. David foi responsabilizado por tudo que de ruim aconteceu, chegando a ser chamado maldosamente de Jim Jones, o missionário que levou centenas de pessoas ao suicídio anos antes. Mas há também muitos colegas que o defendem, afirmando que ele foi injustiçado e que não faz qualquer sentido responsabilizá-lo individualmente pelos acontecimentos. Aos 72 anos, aposentado e fazendo alguns frilas de vez em quando, como ressalta Marujo, David quer distância dessa polêmica: ‘Você sabe muito bem que o Lula tinha voz de comando. Quando ele dizia que ia fazer uma greve, todos os metalúrgicos respeitavam. Mas jornalista é diferente, todo mundo quer dar palpite e deu no que deu’.

Em sua defesa saiu Vicente Alessi Filho, à época um importante militante sindical e que hoje é sócio-diretor da Autodata Editora. Diz Vicente: Há jornalistas que foram justiçados com rigor como consequência da greve de 1979, principalmente pelo seu tão óbvio e incondicional alinhamento aos patrões. David de Moraes, nosso presidente naqueles dias, não é um desses. A palavra que se aplica a ele é outra: injustiçado. Sacanamente injustiçado. Chamado de Jim Jones entredentes nos desvãos das escadas por gente sem coragem para qualificá-lo pessoalmente. E por gente que, por outras razões, queria ver sua gestão navegar no descrédito’. Vicente não cita nome mas garante ter havido naquele movimento a participação sórdida de uma quinta-coluna: ‘Tantos anos passados, pode me falhar alguma cronologia dos fatos. Mas jamais me faltará a repulsa por grupo político que, depois de defender com ardor a criação dos CCRR, os Conselhos de Redação, e de incentivar a greve, abandonou-a imediatamente após a sua decretação. Animar o sentimento de greve e imediatamente deixá-la à própria sorte foi tática daquele grupo político. Ou seja: a quinta-coluna aconteceu de caso pensado. O caso foi urdido dias antes da assembleia de decretação da greve.’

Alberto Dines, idealizador e diretor do Observatório da Imprensa, diz que ‘o efeito mais devastador da greve foi a criação da ANJ, Associação Nacional de Jornais (que inicialmente incluía a Editora Abril). A criação de uma entidade deste tipo é, em si, legítima. Mas pode ter consequências catastróficas quando a aproximação entre veículos liquida o pluralismo. O patronato carioca e paulista dividia-se em feudos, as empresas não se comunicavam, os grandes barões da imprensa não se falavam, os aristocratas quatrocentões desprezavam ostensivamente os ‘arrivistas’. A mediação era exercida por políticos ou grandes empresários. A greve uniu o patronato definitivamente.’

Outro depoimento importante presente nesse Especial vem de Audálio Dantas, ex-presidente do Sindicato e da Fenaj, que lembra: ‘Em 79 eu era deputado federal e estava, portanto, fora das redações. Mas acompanhei de perto a greve, participei de assembleias, numa das quais, na Igreja da Consolação, Emir Nogueira (Nota da Coluna: que viria a suceder David de Moraes, no comando do Sindicato, falecendo no exercício da função) fez um discurso profético: a greve podia fracassar, pela simples razão de que os jornais continuavam circulando, muitos deles noticiando a greve na primeira página. Era uma posição digna e corajosa, pois Emir, mesmo exercendo cargo de chefia na Folha, participava do movimento, a despeito de dele discordar em vários aspectos’.

Lu Fernandes, então uma jovem repórter e a quem o destino reservou a missão de suceder Emir Nogueira no comando do Sindicato pouco tempo depois, disse que ‘nem nos meus piores pesadelos poderia imaginar o ambiente e a contra-ofensiva que assistimos nas redações na volta ao trabalho. Demissões em massa, ressentimentos, sentimento de derrota, apesar da formidável adesão’.

Ricardo Kotscho, hoje repórter da revista Brasileiros e à época da revista IstoÉ, escreveu para o especial um trecho do que publicou em seu livro Do golpe ao Planalto – Uma vida de repórter: ‘Embora a adesão à greve tivesse sido expressiva, nenhuma publicação deixou de circular no período, o que levou alguns colegas mais desesperados a pichar em muros o apelo: ‘Não compre jornais’. No cemitério do Araçá, na avenida Doutor Arnaldo, um gaiato acrescentou: ‘minta você mesmo’. Kotscho disse também que ‘não tenho nenhuma saudade desta greve nem daquele período negro da nossa história, todos nós ainda submetidos a uma feroz ditadura militar. A maioria dos brasileiros hoje vive melhor e, o que é mais importante, em plena liberdade’.

Juarez Soares, que à época trabalhava na Globo e hoje é apresentador e comentarista esportivo da Rádio Record, recorda de ter participado ativamente da greve: ‘Falava com veemência em todas as assembleias. Era totalmente a favor da greve, defendia este ponto de vista. Deixava isso bem claro. Como sempre acontece, os pontos de vista eram conflitantes. Me lembro que eu argumentava contra a posição de Emir Nogueira, jornalista que tinha sido professor de grande parte dos que compareciam à assembleia. Emir era contra a greve. Existia o Partidão e sua incontrolável vocação para comandar. O Partidão nunca deixou claro para mim, se queria a greve ou não. Mas esteve presente no comando da paralisação. A Libelu, outra facção política, incendiava as assembleias. Queria por que queria, a greve’. Juarez lembrou ainda que naquele momento entrou em cena a figura de Luís Fernando Mercadante, diretor de Jornalismo da Globo em São Paulo: ‘Desde os primeiros sinais da greve, ele foi claro: ‘Apoio a decisão de vocês e seguro a bronca’. Sempre esteve do nosso lado. Quando a greve terminou, eu procurei o Mercadante para conversar. Expliquei que ele não poderia fazer mais nada. Entreguei a ele uma lista com sete nomes. De comum acordo, estávamos entregando nossos cargos e empregos para que os demais companheiros fossem preservados. Eram 126.. Assim foi feito’.

Juca Kfouri foi outro que ressaltou o papel sereno de Emir Nogueira durante o movimento: ‘Ele sim foi exemplar ao lado de tantos companheiros que se sacrificaram por uma causa perdida. Porque, ao contrário de tantos que por discordar da greve aprovada legitimamente trataram de furá-la vergonhosamente, Emir deixou um cargo de confiança na Folha, parou junto com a categoria e não deixou de ser a ponderação em pessoa, apesar de estrepitosamente vaiado’. Afirmou também: ‘Teria sido muito melhor não ter feito aquela greve, embora, que fique claro, eu não me arrependa de tê-la feito, porque éramos nós e nossas circunstâncias’.

Eu também dei a esse especial meu modesto depoimento. No trecho final destaco: ‘Foram momentos de muita emoção, de catarse, de reencontro com algo maior que estava presente em nossos corações e mentes. Momentos de coragem de quem queria a greve e de prudência e sabedoria dos que não a queriam. Perderam os vencedores e venceram os perdedores. Coisas da Vida. Mesmo derrotada, a greve de 1979 foi o maior movimento da história do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, só comparável à mobilização de três anos antes que se sucederia ao assassinato de Vladimir Herzog, em outubro de 1975, nos porões do Doi-Codi, de São Paulo. Foram tempos realmente muito difíceis e que deixaram cicatrizes. Mas a história se constroi com vitórias e derrotas’.

Vale a pena ver a edição. Para quem é do metier, é documento imprescindível.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

 

TELEVISÃO
Antonio Brasil

‘O senhor está denegrindo a imagem do Brasil’

Jamais esqueci esta acusação. Eram os anos de chumbo no Brasil. Trabalhava como correspondente estrangeiro em meu próprio país. Pautava, produzia e enviava matérias sobre o Brasil para a Worldwide TV News, WTN, a principal agência de notícias internacionais para a TV durante nos anos 1980 e 1990.

Era um trabalho difícil e delicado. Pela primeira vez uma agência internacional de notícias para TV contratava um brasileiro para cobrir o Brasil. As pressões e tensões eram enormes. Havia grande interesse pelos assuntos brasileiros no noticiário internacional. Mas todas as matérias que saiam do Brasil para o exterior eram submetidas a alguma forma de controle ou censura.

Tínhamos somente duas alternativas para enviar matérias para o exterior. Via satélite, através das televisões locais como a Globo e submetidas ao controle dos editores da emissora, ou exportadas como ‘carga com conteúdo jornalístico’ via aeroportos internacionais.

Em janeiro de 1984, ao tentar enviar uma extensa matéria sobre o início da campanha pelas Diretas Já em São Paulo, fui surpreendido pela decisão do censor de plantão no Aeroporto do Galeão: ‘Não posso autorizar a exportação desta matéria. O senhor está denegrindo a imagem do Brasil.’ Corte rápido para minha expressão de surpresa, decepção e espanto.

Toda a situação era absurda e se repetiu em diversas ocasiões. Eram tempos absurdos no Brasil. Qualquer deslize ou dúvida, principalmente em questões relacionadas ao ‘patriotismo’, eram punidos exemplarmente. Ainda mais para um correspondente brasileiro com nome de Brasil que trabalhava para estrangeiros. Situação difícil e delicada. Ainda mais em tempos de ditadura. Havia grande interesse de controlar ou manipular as notícias sobre o Brasil que veiculavam no exterior.

Racismo

Muitos jornalistas brasileiros e estrangeiros eram acusados de fazer campanhas no exterior contra a imagem do Brasil. Na perspectiva dos donos do poder, o país se confundia com o governo que se confundia com os militares que se confundia com o Brasil. Não faltavam pressões, ameaças e algumas tentativas de influenciar ou ‘comprar’ a boa vontade dos correspondentes ou dos editores internacionais.

Mas a escolha daquela expressão em particular, ‘denegrir a imagem do Brasil’, tornava aquela situação ainda mais simbólica. A escolha da palavra ‘denegrir’ era particularmente infeliz.

O Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa registra o verbo denegrir, ‘atribuindo-lhe sentidos de tornar negro, escuro, infamar, manchar, macular’.

A escolha do termo ‘denegrir’ refletia a escuridão reinante no país ou era uma expressão racista?

Para o Prof. Jarbas Nascimento da Faculdade de Administração Zumbi Palmares da USP, em excelente artigo sobre o tema (ver aqui), trata-se de escolha essencialmente racista. ‘É o caso do verbo denegrir que, dada a sua etimologia e conseqüente institucionalização em território nacional, pode ferir a identidade do negro brasileiro…na medida em que recobre conteúdo interpretativo, aberto à negatividade: escuro ( sombrio, tenebroso, tristonho), infamar ( tornar infame, desonrado), manchar ( sujar, enodar ), macular ( sujar ).’

Afinal, como um jornalista pode ser acusado de ‘denegrir’ a imagem do Brasil? Quem decide o que piora ou melhora a imagem do nosso país no exterior? Afinal, o que é essa tal de imagem do Brasil no exterior? Ela seria diferente daquela que temos de nós mesmos aqui no Brasil? É possível controlar, manipular ou comprar essa imagem?

Imagem-miragem

Pois essas serão as perguntas que tentaremos responder em palestra sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil pelos Jornalistas Internacionais’ que acontece na próxima segunda- feira, 30/03, às 10horas no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRJ no Museu Nacional na Quinta da Boa Vista do Rio de Janeiro.

A partir de incidentes polêmicos como a ‘quase’ expulsão do correspondente do New York Times no Brasil, Larry Rohter em 2004, campanhas do Ministério de Relações Exteriores para influenciar editores internacionais e as recentes campanhas da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, vamos discutir se é mesmo possível denegrir ou melhorar a imagem do Brasil no exterior.

Aproveito para adiantar algumas dos principais dados e conclusões da pesquisa:

‘A construção da imagem de um país e de seu povo é considerada um produto intangível, pois está associado à percepção de cada audiência…Eve ntualmente, alguns incidentes isolados e de natureza conjuntural provocam abordagens negativas por parte da imprensa em geral. Entretanto, atento à repercussão que tais incidentes possam promover, várias informações e esclarecimentos são permanentemente disponibilizados para os correspondentes estrangeiros e jornalistas interessados, com vistas a minimizar os efeitos que aqueles incidentes possam causar à imagem do País. Programa Divulgação do Brasil no Exterior, MRE em 2002.

Ver aqui.

‘Em face de reportagem leviana, mentirosa e ofensiva à honra do Presidente da República Federativa do Brasil, com grave prejuízo à imagem do país no exterior, publicada na edição de 9 de maio passado do jornal The New York Times, o Ministério da Justiça considera, nos termos do artigo 26 da Lei nº 6.815, inconveniente a presença em território nacional do autor do referido texto. Nessas condições, determinou o cancelamento do visto temporário do sr.William Larry Rohter Junior’. Ver aqui.

‘Secom quer mostrar o ‘Brasil verdadeiro’. A CDN – Companhia de Notícias vai cuidar da imagem do Brasil no exterior, com o contrato de um ano, no valor de R$ 15 milhões assinado com a Secretaria de Comunição da Presidência da República, Secom. Ver aqui.

‘A imagem do Brasil no exterior não é tão ruim como a maioria das pessoas pensa. Acho que o Brasil teve muitos avanços nos últimos 10 anos: o peso político do Brasil no cenário internacional é muito maior agora do que antes… Mas isso tudo coexiste com a idéia do estereótipo’. Ana Maria Geres, correspondente da agência EFE – Espanha

‘Nenhuma imagem é inocente’ André Gazut

Essas notícias e reflexões fazem parte da nossa pesquisa que aproxima a Antropologia do Jornalismo em um novo campo de conhecimento que chamamos de Antropojornalismo. O objetivo é utilizar o rigor e profundidade das pesquisas etnográficas em investigações jornalísticas. Em muitos aspectos o trabalho do antropólogo e do correspondente internacional se encontra e se assemelha.

A pesquisa também indica que há enormes dificuldades na utilização do conceito de imagem para identificar representações nacionais.

O principal problema é que as imagens não são necessariamente ‘verdades’. As imagens não são mais do que…. imagens. Elas pertencem a um discurso mítico, polissêmico e incontrolável.

A imagem do Brasil, assim como a imagem de qualquer outro país pertence ao universo do imaginário. Pode ser uma construção intencional de viajantes, escritores ou jornalistas. Mas também poder ser o produto da nossa auto-imagem. Os correspondentes e editores internacionais simplesmente replicam e adicionam valor às nossas próprias visões do Brasil.

Talvez essa ‘Imagem do Brasil’ não passe de mera ilusão ou uma ‘miragem’.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007.. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’

 

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