Menos de uma semana antes das eleições legislativas nos EUA, a internet repercutiu uma matéria publicada no site Gawker, na qual um homem contava que Christine O’Donnel, candidata republicana ao Senado pelo Estado de Delaware, teria aparecido em casa embriagada – e vestida de joaninha – na noite de Halloween. Ele escreveu anonimamente e sua matéria não tinha nenhum comentário de Christine ou de sua campanha.
Um blogueiro do Washington Post, responsável por monitorar conteúdo noticioso online e no impresso, perguntou à diretora de notícias Sara Goo se o Post não deveria colocar um link para a matéria em seu site, tendo em vista que ela já tinha se espalhado online. Sara o instruiu a não fazer nada. No entanto, horas depois, Alexandra Petri, que tem um blog no site do Post,publicou uma nota sobre a história, com link para o Gawker.
Desafio
As decisões contraditórias ilustram o desafio de interpretar normas do jornal impresso na era digital, comenta o ombudsman do Post, Andrew Alexander. Seja lidando com opinião ou notícia, os jornalistas geralmente se encontram em águas inexploradas. Em um meio com uma necessidade inerente pela velocidade, Alexander questiona o quão estritas devem ser as regras antigas de autenticidade e precisão. ‘É como andar em cascas de ovos. Tudo fica maior, pois estamos em um ambiente altamente competitivo em que segundos fazem diferença’, disse Sara.
O impulso por dar a notícia primeiro pode gerar problemas. Em junho, com o legendário técnico do time de basquete da UCLA John Wooden perto da morte, um membro da equipe online escutou uma conversa na redação que o levou a acreditar – erroneamente – que Wooden havia morrido. Sem verificar a suposição, a notícia foi rapidamente divulgada no site e repercutiu na rede, deixando o Post envergonhado.
Treinamento
No começo do ano que vem, o jornal irá começar um treinamento obrigatório em padrões e ética para todos da redação. O manual de redação do Post possui partes longas sobre precisão no uso de fontes anônimas. Em conversa com jornalistas veteranos, a maior parte admitiu que há anos não lia o manual. Os novos recebem pouco mais de um discurso sobre sua importância. A maior confusão, entretanto, é sobre se as normas devem ser aplicadas online.
A mudança veloz para as notícias digitais expôs diferenças fundamentais entre jornalistas do impresso e do online. Elas se sobressaíram com a contratação de novos funcionários, muitos com pouca ou nenhuma experiência no processo de apuração de notícias. Dentre as novas contratações deste ano, os que trabalham na produção e edição na internet estão em número maior que os contratados para apuração impressa. ‘Estamos com um novo mix de habilidades na redação. A web nos apresentou questões sobre como as regras antigas se aplicam online e o treinamento irá oferecer orientação sobre o quão usáveis elas são, e em que circunstâncias’, explicou Peter Perl, editor assistente que lidera o grupo de treinamento. O Post não divulga suas normas internas, porém, na opinião de Alexander, elas deveriam ser públicas.