O jornalista Jason Rezaian, do Washington Post, teve sua segunda audiência no tribunal iraniano onde é julgado por espionagem e por divulgar propaganda contra a República Islâmica, acusações que podem levar a uma sentença de até 20 anos de prisão. O jornalista nega todas as acusações. A sessão, ocorrida no dia 9/6, não pôde ser acompanhada pela imprensa.
Rezaian, que tem cidadania americana e iraniana, atuava como chefe da sucursal do Post em Teerã e foi preso em julho de 2014 junto com sua mulher, a também jornalista Yeganeh Salehi, que é iraniana, e outras duas pessoas – uma fotógrafa freelancer e o marido dela, que não tiveram as identidades reveladas. O casal, que também tem dupla cidadania iraniana e americana, foi libertado dias depois, assim como Yeganeh Salehi, liberada sob fiança em outubro.
A primeira audiência do caso ocorreu em maio, porém pouca informação do que foi discutido durante a sessão foi divulgada ao público, já que o julgamento está sendo realizado a portas fechadas. De acordo com a legislação iraniana, é ilegal tornar públicos os acontecimentos de um julgamento.
Vazamento
Apesar de nenhum repórter ter participado do julgamento, a agência semioficial de notícias Mehr divulgou uma declaração de Rezaian em que o jornalista se declara inocente. “Eu sou um jornalista e todas as minhas atividades têm sido conduzidas como jornalista, e são todas legais”, teria argumentado, no tribunal, o correspondente.
A Mehr também reportou que, entre as evidências que foram apresentadas como provas contra o jornalista, estão uma visita que ele fez ao consulado americano para tentar obter um visto para sua mulher e uma carta escrita por ele para o presidente Barack Obama em 2008.
Ainda não se sabe como a agência de notícias teve acesso a essas informações – já que as sessões deveriam ser fechadas. O procurador-geral do Irã ameaçou denunciar qualquer veículo de comunicação que divulgasse informações sobre o julgamento de Rezaian. Ainda não foi anunciado se a Mehr será investigada.
Muitos analistas políticos iranianos acreditam que a prisão de Rezaian foi orquestrada por opositores do presidente do país, Hassan Rohani, que acreditam que podem usar o caso para sabotar um possível acordo nuclear, que eles desaprovam. O judiciário iraniano, que atua de forma independente do executivo, é controlado pela ala conservadora do país. Abolghassem Salavati, juiz que preside o caso de Rezaian, é considerado linha-dura, conhecido por conceder sentenças rigorosas.
Intocáveis
O caso também ressalta uma mudança ocorrida nos últimos anos: até recentemente, os correspondentes estrangeiros de grandes veículos de mídia eram considerados intocáveis. Os governos chegavam a expulsá-los ou a impedir que entrassem no país, mas eles não eram presos ou ameaçados fisicamente. A longa prisão e o julgamento de Jason Rezaian demonstram bem essa mudança. De acordo com o Comitê para Proteção dos Jornalistas, ele é o jornalista americano que há mais tempo se encontra preso no Irã. As acusações contra ele só foram formalizadas nove meses após a detenção.
Antes, os correspondentes estrangeiros usavam seu status de intocáveis para divulgar informações que os jornalistas locais não podiam reportar; em alguns casos, esta era a única forma de furar a censura imposta por governos repressores. Porém, casos como a prisão dos três jornalistas da Al-Jazeera no Egito, a prisão de Rezaian no Irã e as execuções de jornalistas praticadas pelo Estado Islâmico demonstram que a relativa sensação de proteção que os correspondentes estrangeiros tinham ficou no passado.
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