Os meios de comunicação ocidentais encontraram na contratação de jornalistas iraquianos uma maneira de expor menos seus repórteres e, é claro, gastar menos com precauções de segurança na cobertura da ocupação do Iraque. Sem contrato fixo e ganhando bem abaixo de profissionais europeus e americanos, os repórteres locais arriscam suas vidas para chegar a locais perigosos como a cidade de Fallujah, dominada por forças rebeldes, e enfrentam represálias por supostamente colaborarem com os invasores.
Há cerca de um mês, por exemplo, o repórter Salaam Jihad recebeu, em sua casa, em Bagdá, uma carta de ‘aviso final’. Endereçada ao ‘agente Salaam’, ela ameaçava de morte a ele e sua família, por ‘cooperarem com as forças americanas’. No dia anterior, Jihad, que trabalha para veículos estrangeiros, havia comparecido a uma coletiva do Congresso Nacional Iraquiano, partido apoiado pelo Pentágono. Desde que recebeu a ameaça, ele tem de viver escondido. Não tem a segurança dos profissionais estrangeiros, que, após o trabalho, vão para hotéis fortemente guardados. Nos últimos dois meses, houve pelo menos três casos de assassinatos por suposta colaboração com forças estrangeiras. Citando vários casos em que jornalistas iraquianos foram alvos de violência, Annia Ciezadlo, do libanês Daily Star [5/5/04], mostra que, dos 12 profissionais de imprensa que morreram desde o início do ano na cobertura dos conflitos no Iraque, todos eram locais. Durante a guerra, a maioria das vítimas era ocidental.
‘As organizações jornalísticas tomaram a decisão de não enviar nenhum repórter americano a Fallujah. Desde então, cerca de 70% de todas as matérias e reportagens que se lêem são feitas por iraquianos. E o triste é que não ganham crédito’, denuncia o tradutor iraquiano de um grande jornal dos EUA, que não quer ser identificado para não perder seu trabalho. Ultimamente, além de traduzir, ele tem feito reportagem também. Desloca-se a locais perigosos para conseguir personagens para matérias que, na maioria das vezes, não levam seu nome.