Polêmica na TV italiana. Ao exibir o filme Brokeback Mountain, esta semana, o canal estatal RAI cortou uma cena de sexo entre dois homens e uma seqüência em que os protagonistas – dois caubóis – se beijam. Ativistas e grupos em defesa dos direitos dos homossexuais acusaram a emissora de censura, afirmando que ela nunca cortaria cenas similares se fossem protagonizadas por um casal heterossexual. Políticos sugeriram que o assunto deve ser discutido no Parlamento. A RAI, por sua vez, alegou que exibiu a versão com cortes por engano.
Brokeback Mountain, dirigido por Ang Lee, mostra um romance entre dois caubóis na década de 60. A montanha Brokeback é o cenário para o início da relação entre os personagens. O longa, de 2005, ganhou três Oscar, incluindo melhor diretor, e o Leão de Ouro no Festival de Veneza.
Horário nobre
Entre as cenas cortadas, estavam uma de sexo dentro de uma barraca e um beijo ardente entre os protagonistas, interpretados pelos atores Heath Ledger e Jake Gyllenhaal. A RAI divulgou declaração afirmando que o filme chegou da distribuidora já cortado para que pudesse ser exibido no horário nobre; quando ficou decidido que ele iria ao ar no fim da noite, ninguém lembrou de procurar pela versão sem cortes. A emissora prometeu exibir o longa com todas as cenas em breve.
A justificativa, entretanto, não convenceu. ‘Não acho que tenha sido um descuido. Creio que houve censura prévia’, afirmou o ativista gay e ex-legislador Vladimir Luxuria. Em entrevista ao diário La Repubblica, Luxuria comparou os cortes a exibir a Mona Lisa sem a cabeça.
TV liberal
Alguns políticos alegaram que, mesmo se o filme fosse exibido mais cedo, os cortes não seriam necessários. ‘É grotesco que a RAI censure cenas que têm o mesmo conteúdo de muitas exibidas nos filmes do horário nobre’, declarou o deputado conservador Benedetto Della Vedova ao jornal Corriere della Sera.
A televisão italiana costuma apresentar programas com mulheres com pouca roupa e permitir a exibição de cenas de sexo e violência em filmes. ‘Eu gostaria de entender por que um beijo entre dois homens deveria nos ofender mais do que cenas de sexo heterossexual ou violência sangrenta’, completou o comentarista do diário La Stampa Massimo Gramellini em um artigo de primeira página. Informações de Ariel David [AP, 10/12/08].