Thursday, 07 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Cresce intolerância, debate e pedidos de paz

O maior jornal do Irã anunciou na terça-feira (7/2) que realizará um concurso internacional de charges referentes ao Holocausto, em uma retaliação à publicação dos desenhos do profeta Maomé por jornais europeus. O Hamshahri, que é administrado pela prefeitura de Teerã, alegou querer descobrir se a liberdade de expressão se estende ao desrespeito à tentativa de extermínio dos judeus pelo nazismo alemão.


‘A questão para os muçulmanos é se o Ocidente permite a liberdade de expressão para se referir a crimes cometidos pelos EUA e por Israel, ou a um incidente como o Holocausto, ou se esta liberdade existe apenas para insultar os valores sagrados das religiões’, questionou o diário, um dia depois de manifestações contra a embaixada da Dinamarca em Teerã. O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, comparou a publicação dos cartuns ao questionamento da veracidade do Holocausto – referindo-se à reação de líderes europeus depois que o polêmico presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, classificou o Holocausto de ‘mito’ e pediu a destruição de Israel, no ano passado. ‘Esta liberdade não permite duvidar ou negar o genocídio de judeus, mas possibilita insultar as crenças de 1.5 bilhão de muçulmanos’, afirmou Khamenei. O Irã retirou seu embaixador da Dinamarca e planeja rever seus laços comerciais com todos os países que publicaram os desenhos.


A Liga Árabe Européia, organização política islâmica para a defesa dos direitos das comunidades árabes e muçulmanas na Europa, publicou em seu sítio, no sábado (4/2), charges anti-semitas em resposta às charges do profeta. Nas imagens, Hitler aparecia na cama com Anne Frank, menina judia que morreu em um campo de concentração aos 15 anos e se tornou símbolo da perseguição nazista ao ter seu diário publicado e traduzido para mais de 60 línguas. Negar o Holocausto é ilegal por lei em grande parte dos países europeus, onde também são proibidas intimidações e incitamento de ódio com base em etnia, cultura, religião e opção sexual.


Nesta quarta-feira (8/2), cerca de 300 palestinos atacaram na Cisjordânia a missão da Presença Temporária Internacional em Hebron (TIPH, sigla em inglês) – força de Paz da ONU para restabelecer o clima de paz e segurança entre palestinos e israelenses – e tentaram atear fogo em um de seus prédios, onde trabalhavam 60 funcionários. Há uma semana, onze membros dinamarqueses da TIPH deixaram a cidade, segundo a porta-voz da missão, Gunhild Forsely.


Jornal israelense publica cartuns


O Jerusalem Post foi o primeiro jornal israelense a publicar, na segunda-feira (6/2), os polêmicos desenhos de Maomé. As charges ilustravam artigo sobre os protestos que acontecem em todo o mundo contra os jornais ocidentais que as publicaram. Em editorial intitulado ‘A honra do Profeta’, o jornal ressaltou que, enquanto muçulmanos protestam pela publicação das charge, ‘cartunistas árabes rotineiramente demonizam judeus como conspiradores globais, corruptos e sanguessugas’. ‘Uma charge no al-Watan, do Catar, publicou, certa vez, o primeiro-ministro Ariel Sharon bebendo um cálice com sangue de crianças palestinas’.


Jornal francês republica charges


O semanário satírico francês Charlie Hebdo publicou na primeira página desta quarta-feira (8/2) as charges de Maomé publicadas inicialmente pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten e uma outra que mostrava o profeta encobrindo o rosto e dizendo ‘É difícil ser amado por idiotas’, na mais recente provocação aos manifestantes muçulmanos. Na mesma edição, o jornal publicou outras caricaturas referentes a outras religiões, como o cristianismo e o judaísmo.


Organizações muçulmanas da França tentaram impedir o jornal de republicar os desenhos, mas uma corte rejeitou o pedido na terça-feira (7/2). O presidente Jacques Chirac condenou ‘provocações públicas’ que poderiam aumentar a ira de muçulmanos. A redação do Charlie Hebdo passou a ser protegida por policiais. A comunidade muçulmana na França é a maior da Europa, com cinco milhões de pessoas vivendo no país, o que representa 8% de sua população.


Pelo fim da violência


No Afeganistão, uma organização islâmica pediu nesta quarta-feira (8/2) o fim dos protestos violentos, após a morte de quatro manifestantes durante ataque a uma base da Otan, que deixou também 20 feridos. ‘O Islã permite manifestações, mas sem empregar violência. Isto deve parar. Nós condenamos os desenhos, mas isto não justifica a violência, pois as manifestações estão difamando o nome do Islã’, declarou o clérigo Mohammed Usman. Outros membros do Conselho Ulama, grupo que reúne os principais líderes religiosos do país, foram às emissoras de rádio e televisão pedir calma à população.


Onze pessoas morreram nos protestos dos últimos dias, que foram dirigidos principalmente a alvos governamentais – aumentando as suspeitas de que há algo mais por trás dos ataques além de apenas intolerância religiosa. Algumas autoridades afegãs acreditam que a al-Qaeda e o Talibã estejam organizando as manifestações violentas.


Os chefes da ONU, da União Européia e do maior grupo islâmico do mundo divulgaram uma declaração conjunta na terça-feira (7/2) pedindo o fim dos protestos. ‘Agressão à vida e à propriedade só prejudica a imagem do Islã’, afirmava o texto, assinado pelo secretário-geral do ONU, Kofi Annan, pelo chefe da UE, Javier Solana, e por Ekmeleddin Ihasanoglu, da Organização da Conferência Islâmica. Com informações de Gwladys Fouché [The Guardian, 6/2/06], Jerusalem Post [6/2/06], Nazila Fathi [The New York Times, 8/2/06], Associated Press [2 e 8/2/06], e Kerstin Gehmlich e Swaha Pattanaik [Reuters, 8/2/06].