Os assassinos da fotojornalista Zahra Kazemi, vítima de espancamento em uma prisão no Irã, continuam impunes. O crime aconteceu há um ano e, com a proximidade do julgamento, marcado para 17/7, os Repórteres Sem Fronteiras temem que os verdadeiros culpados não sejam punidos.
‘Suspeitamos que os altos oficiais iranianos envolvidos no caso continuarão impunes e que um bode-expiatório será condenado em seus lugares para que o país possa dar fim a um episódio vergonhoso para o regime’, afirmou a organização [8/7/04]. Para o julgamento, dois oficiais foram acusados como suspeitos pelo assassinato: Mohammad Reza Aghdam Ahmadi, agente da inteligência iraniana; e Mohammad Bakhshi, oficial da penitenciária de Evin.
Zahra tinha 54 anos e dupla cidadania canadense e iraniana. Ela foi detida quando fotografava parentes de presos do lado de fora da penitenciária de Evin, ao norte de Teerã, em 23/6/03. Espancada na cadeia, a jornalista morreu duas semanas depois, em conseqüência dos ferimentos sofridos. As autoridades iranianas, que primeiro tentaram abafar o caso, admitiram a causa da morte em 16/7/03.
Uma comissão de inquérito foi imediatamente instalada a pedido do presidente Mohammad Khatami e o relatório conclusivo apontou que, durante a semana em que permaneceu detida, Zahra foi interrogada em turnos pela polícia, por oficiais do promotor público Said Mortazavi e por oficiais do setor de inteligência. Segundo o relatório, a fratura no crânio que causou a morte da jornalista ocorreu menos de 36 horas antes de ela ser levada ao hospital na madrugada de 27/6. Pela cronologia estabelecida pela investigação, o ferimento fatal poderia ter sido feito pela equipe do promotor público ou pelos oficiais da inteligência. O relatório afirma também que os médicos do hospital de Baghiatollah determinaram a morte cerebral de Zahra no mesmo dia que ela foi internada, mas não explica porque estes mesmos médicos só anunciaram oficialmente sua morte em 10/7.
O corpo da fotojornalista foi enterrado na cidade de Chiraz, em 22/7, contra a vontade de seu filho, Stephan Hachemi, que vive no Canadá. A mãe de Zahra, iraniana, afirmou publicamente que foi pressionada a autorizar seu sepultamento no país. Às vésperas do julgamento, os Repórteres Sem Fronteiras fazem dois pedidos às autoridades do Irã: que os advogados de Zahra possam participar dos preparativos para o julgamento e que os restos mortais da jornalista sejam levados ao Canadá para uma autópsia independente, como deseja seu filho.