Imagens de crianças feridas pelas Forças de Defesa de Israel em Rafah dominaram os noticiários na Grã-Bretanha e em outras partes do mundo há duas semanas. Os editores do BBC World Service e da BBC News 24 (que transmite apenas dentro da Grã-Bretanha) reportaram ininterruptamente as ações de Israel, enfatizando o perigo que elas representavam para a população civil. Como a mais importante organização de mídia do Reino Unido, a BBC exerce influência sobre centenas de outras organizações de mídia em todo o mundo, afirma Sharon Sadeh [Haaretz, 31/5/04].
Malcolm Balen, que em novembro assumiu o cargo de consultor editorial da administração da BBC, na prática é uma espécie de ombudsman para questões relacionadas ao Oriente Médio. Desta forma, Balen lida com reclamações sobre as reportagens feitas pela companhia e suas formas e critérios de edição. Em outubro, ele deverá apresentar um relatório conclusivo sobre estes problemas para Mark Thompson, que será o novo diretor-geral da BBC; Mark Byford, atual diretor-geral, que comanda o Serviço Mundial da companhia; e Richard Sambrook, diretor de notícias.
Balen está preparando um ‘olhar’ geral da cobertura feita sobre as questões do Oriente Médio. ‘Estou fazendo uma longa revisão editorial, uma retrospectiva. A verdade é que, em qualquer trabalho editorial, você está tão concentrado em seguir o programa e os prazos, que simplesmente não tem tempo de parar um pouco e olhar a cobertura como um todo’, afirma ele.
A tarefa de Balen indica que a BBC está tentando se livrar de sua imagem de arrogante e alienante, diz Sharon. A questão principal, afirma ela, é se Balen pretende abordar em seu relatório considerações sobre as regras utilizadas nas reportagens sobre o Oriente Médio, como a proibição do uso de terminologias que desagradariam o público árabe.
O apresentador Robert Kilroy-Silk teve seu talk show cancelado há quatro meses depois que publicou um artigo em que criticava os estados árabes. Para ele, a demissão ocorreu ‘porque eu estava falando a verdade sobre os regimes árabes repressivos – e a BBC é dominada por correções políticas’.
O ex-editor do programa de rádio Today, Rod Liddle, compartilha as mesmas opiniões de Kilroy-Silk. Em um artigo publicado em maio de 2003 no jornal The Espectator, Liddle pôs o título ‘Por que a BBC tem tanto medo da verdade’. ‘Não importa o que aconteça, a população muçulmana que vive na Grã-Bretanha não pode se sentir ofendida pelas notícias; então, não reporte nada que possa ofendê-la’, define ele a política adotada pela BBC.
Entretanto, esta política não é coerente, afirma Sharon: ela diz respeito apenas ao contexto Israelense-Palestino, ou quando tem algo relacionado ao Iraque. Balen rejeita a acusação de que a BBC é obrigada a usar definições autorizadas pelo governo britânico, que considera o Hamas e Jihad Islâmica organizações terroristas. ‘A BBC existe como uma organização de mídia que possui independência editorial’, rebate ele.