Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Crítica diária

10/1/08

Folha omite furo sobre compra da Brasil Telecom

A chamada da manchete da Folha, ´Oi acerta compra da Brasil Telecom´, com a assinatura de repórteres, dá a entender que se trata de furo do jornal.

A impressão é reforçada com o lide na capa de Dinheiro: ´Os controladores da Oi (ex-Telemar) acertaram o preço de compra da Brasil Telecom (BrT) por R$ 4,8 bilhões, segundo a Folha apurou junto a um dos envolvidos nas negociações´.

Pouco depois das 18h de ontem, o blog do jornalista Lauro Jardim, da Veja, informou sobre o negócio, com o título ´Telemar compra a Brasil Telecom´.

As informações essenciais que a Folha traz hoje já estavam no ´Radar Online´.

O problema é de (falta de) transparência, mas não só.

O jornal informa em Dinheiro que a Oi divulgou ´fato relevante´. Faltou dizer a que horas. Antes ou depois das notas na internet (18h10 a 18h12)?

A Comissão de Valores Mobiliários, ´por volta das 20h´, ´pediu esclarecimentos às empresas sobre a movimentação dos acionistas, que provocou valorização das ações das empresas´.

Era indispensável contextualizar: àquela hora, o negócio já tinha divulgação jornalística.

O ´Valor` deu manchete para o mesmo assunto, ´Oi faz uma proposta de R$ 4,8 bilhões pela BrT´.

´Estado` e ´Globo` citaram o ´Radar Online` e seu furo.

Jornalismo acuado, Folha negligente

Título de primeira página do Globo: ´Justiça proíbe Requião de uso político da TVE´.

A reportagem foi editada em alto de página.

A Folha tinha a informação. Publicou-a em pé de página, em uma coluna.

Outro título na primeira página do Globo: ´Mídia proibida de exibir agressores` (de prostitutas na Barra da Tijuca). A medida atinge quatro jornais do Rio e seis emissoras de TV. Eles não podem mostrar imagem nem citar o nome dos estudantes.

A Folha não traz a informação. Amanhã, poderia publicar as fotos e escrever os nomes, nos marcos do jornalismo crítico, plural e equilibrado que preconiza (concedendo o direito de os agressores se defenderem).

Nas últimas semanas, várias decisões da Justiça cercearam a atividade jornalística, configurando censura prévia.

Quando um colunista da Folha, Juca Kfouri, foi alvo de medida dessa natureza, não houve chamada na primeira página. Nem o jornal disse que Kfouri é seu colunista. Nem que o blog do jornalista, no qual foram veiculados os textos contestados, se hospeda no UOL, portal controlado pela Folha.

O jornal tem sido leniente ao noticiar as decisões judiciais que afrontam a liberdade de imprensa.

De carona com a Ferrari

Sem tirar nem pôr, a ´reportagem` ´Tratamento a pilotos será igual, diz Ferrari` (pág. D3) poderia ser um release da escuderia.

Há nota no pé: ´A jornalista viajou a convite da Ferrari´.

Pelo que entendi, a Ferrari pagou a viagem da repórter da Folha à estação de esqui.

E a viagem até Maranello foi integralmente bancada pelo jornal, em um desperdício de dinheiro que eu não testemunhava havia tempos.

Grande sacada

Ótimo título do texto-legenda da primeira página, sobre delegacia feminina com capacidade para 12 detentas e que abriga 119: ´Pelo ladrão´.

Resposta ao ombudsman 1

Recebi do editor de Cotidiano, Rogério Gentile, a seguinte resposta sobre a nota ´De volta ao Masp´, da crítica de ontem:

´Discordo da avaliação de que o Estado foi melhor que a Folha na investigação policial do Masp. Lembro que no dia em que as obras foram recuperadas, o concorrente publicou um abre de página dizendo que as mesmas deveriam estar no Leste Europeu. Já na edição de ontem (quarta) ignorou o que publicou e apresentou uma série de informações sobre a investigação policial sem indicar a origem e que, ao longo do dia, foram desmentidas pela polícia. No texto de quarta afirmou ainda, em seu último parágrafo, que o ´´Estado` acompanhou a apuração policial, mas, diante do risco de as obras serem danificadas, não as publicou´. Se estava tão bem informado assim sobre os passos da investigação, qual o motivo de ter publicado a história do Leste Europeu?´.

Resposta ao ombudsman 2

Recebi da editora-adjunta de Mundo, Luciana Coelho, a seguinte resposta sobre a nota ´Tia Cotinha´, da crítica de ontem:

´Apenas uma ressalva em relação ao comentário do ombudsman sobre Mundo nesta quarta-feira: o título do texto sobre Sarkozy citado na nota ´Tia Cotinha` pode parecer frívolo, mas o fato de o presidente francês, em sua primeira entrevista coletiva no cargo, ter feito de seu relacionamento com uma cantora o principal tema não deixa de ter implicações políticas, como deixa clara a matéria. Além do mais, não estivemos sozinhos –´New York Times´, a BBC, e jornais ingleses de peso (´Times´, ´Telegraph´, ´Guardian´) fizeram o mesmo´.

9/1/08

Hillary Rodham Clinton

Merece elogios a prudência da Folha na edição Nacional, quando não pretendeu antecipar o resultado que não poderia: o vencedor das primárias do Partido Democrata no Estado de New Hampshire (EUA).

Na edição São Paulo concluída às 2h07, a manchete foi ´Polícia recupera quadros do Masp´.

Abaixo, também rasgando a página em seis colunas, o jornal titulou: ´Hillary e McCain vencem primária nos EUA´.

A despeito das pesquisas que conferiam largo favoritismo a Obama, a Folha agarrou-se à virtude da prudência, a despeito de um vacilo.

Seu principal concorrente local, depois de anunciar a inexistente vitória do ´sim` chavista no referendo da Venezuela em dezembro, voltou a apostar, em sua edição Nacional, e errar de novo.

A crítica de hoje é dominada por notas sobre a cobertura da ´corrida` americana.

Valor

Título na primeira página do Valor: ´Vitórias põem Barack Obama sob holofotes´.

Uma das vitórias seria a de ontem, não confirmada, em New Hampshire.

O jornal, está claro, foi concluído antes do anúncio dos resultados.

A chamada na capa fala sobre ´essa nova vitória´, em New Hampshire.

Financial Times no Valor…

O sóbrio jornal britânico ´Financial Times` teve traduzida no ´Valor` parte da reportagem intitulada, no jornal brasileiro, ´Núcleo da máquina partidária ainda é pró-Hillary´.

A abertura, na tradução fiel ao original inglês: ´Hillary Clinton não deixará New Hampshire com o status de quem ´deu a volta por cima´, que seu marido, Bill, desfrutou após a primária de 1992´.

Chutou e errou.

… e na Folha

O mesmo texto saiu na Folha, com seleção bem diferente de trechos.

O mais notável é que a Folha suprimiu, em sua tradução, o lide de bola de cristal.

Assim, não embarcou na ´barriga´.

Em compensação…

O erro da Folha ocorreu em texto publicado na edição Nacional e retirado na São Paulo: artigo de William Kristol, ´editor da ´Weekly Standard` e ideólogo conservador´, conforme o pé biográfico, destinado originalmente ao New York Times.

Eis a abertura: ´Obrigado, senador Obama. O senhor derrotou a senadora Clinton em Iowa. E de novo em New Hampshire. Não haverá um retorno dos Clinton, o país agradece´.

Em Iowa, sim.

Em New Hampshire, não.

Mesmo de autoria alheia aos quadros do jornal, o artigo de adivinhação não deveria ter sido publicado pela Folha, que o substituiu por outro na edição São Paulo.

Estado

A edição do ´Estado` concluída à 1h trouxe o título no pé da primeira página: ´Hillary e Obama, voto a voto´.

Sim, o quadro ainda estava indefinido.

Assim como na edição concluída às 20h50, com o título no alto da capa: ´Apuração começa com Obama à frente´.

A linha-fina: ´Em alguns distritos de New Hampshire, o pré-candidato teve ampla vantagem sobre Hillary´.

A abertura da chamada: ´Ontem, nas primárias de New Hampshire, o pré-candidato democrata Barack Obama saiu na frente e despontava como vencedor de mais uma prévia para as eleições americanas´.

Em seguida o jornal citou dois distritos, onde Obama vencia Hillary por 16 votos a 3. A primária democrata teve dezenas de milhares de eleitores…

Dentro, também na edição fechada cedo, o Estado afirmou que Obama ´despontava ontem como o vencedor nas primárias democratas´.

Assegurou o fracasso da ex-primeira-dama ao dizer que ´o futuro da campanha de Hillary depende da dimensão da derrota no Estado´.

Não houve derrota, mas vitória eleitoral e política.

Fotografia é informação

Folha, ´Globo` (só tive acesso à terceira edição, que informa a vitória de Hillary) e Estado mantiveram em suas versões finais, nas primeiras páginas, fotografias da avó africana de Barack Obama.

São imagens interessantes e de impacto.

Como escreveu Igor Gielow hoje na Folha, Obama ´é ´o` personagem desta etapa da campanha americana´.

Mas o personagem do dia é a senadora Clinton!

Por isso que, no alto das primeiras páginas do ´Washington Post` e do ´New York Times´, as fotos são dela. A imagem do segundo é mais informativa: mostra Bill Clinton atrás, aplaudindo a mulher.

A fotografia na capa da Folha deveria ter sido a de Hillary.

Lugar-comum

´Lupa` da reportagem ´New Hampshire tem votação recorde` (pág. A10 da edição Nacional): ´[…] Primária no Estado, apesar de pouco peso nacional, agrega valor por ser a primeira dos EUA´.

Repito: ´agrega valor´.

Sem comentários.

Calendário (Erramos)

O quadro ´Corrida à Casa Branca` (pág. A10) afirma que as próximas primárias ocorrerão na Carolina do Sul (dia 19 para os republicanos e dia 26 para os democratas).

Ocorre que o artigo ´Resultado embaralha cenário republicano´, na mesma página, sustenta que haverá primária republicana dia 15 em Michigan.

As informações são contraditórias, pelo menos uma está errada.

E o ´New York Times` de hoje afirma que haverá primária democrata dia 19 em Nevada.

O texto do ´Financial Times` na Folha fala em primárias em Nevada na semana que vem.

É preciso checar.

Os motivos

O resultado surpreendente pró-Hillary (na véspera pesquisa da CNN lhe dava nove pontos a menos que o principal rival) exige análise sobre os motivos, o que não ocorreu –e talvez não fosse possível, por causa do horário– na edição de hoje.

Hipóteses comentadas: o comparecimento em massa de mulheres, comovidas com a cena de emoção da senadora anteontem; os ataques mais duros de Bill Clinton a Obama, poupando a mulher, alvo de rejeição vigorosa, de fazê-los; o relativo sucesso, enfim, do mote da ´experiência´; a máquina eleitoral dos Clinton.

Equação

Em dias como hoje, de cobertura ampla, com duas páginas destinadas às primárias, é importante mostrar como os delegados dos partidos são escolhidos.

E acompanhar a contagem de delegados fechados com cada candidato, concedendo o crédito para projeções como a da CNN.

Pesquisas e pesquisas

É importante entender por que as pesquisas não se confirmaram.

É claro que elas eram retrato da véspera, mas ficaram longe do resultado da primária democrata.

Tradução

Dói nos olhos e nos ouvidos o título ´Líder de time de Obama foca em personalidade em vez de política´.

No Brasil, a palavra ´time` está associada a esportes.

´Team` é equipe, cujo conteúdo em português vai além das competições.

Diário da Corte

Justifica-se plenamente, devido ao lugar dos EUA no mundo, a atenção conferida às primárias americanas.

Equilíbrio

Não custa lembrar que, embora a disputa pela indicação do candidato democrata tenha mais apelo jornalístico no momento, cabe acompanhar com igual atenção a escolha do candidato republicano.

Tia Cotinha

Título na pág. A12: ´Contrariando vontade da mãe presidente, Florencia Kirchner tem site de fotos´.

Está no pé da página.

Já no alto da pág. A13: ´Sarkozy insinua que se casará em breve com Carla Bruni´.

Mudaram as estações…

Saiu como ´Em praia de bacana não faltam água nem champanhe´, no Painel do Leitor de hoje, o título de reportagem dominical.

Se o jornal considera que cometeu erro de português ao publicar no domingo ´falta´, no singular, deveria se corrigir em Erramos.

Na minha opinião, as duas opções são aceitáveis.

E o título deve ser citado como saiu.

… nada mudou

É um desrespeito aos leitores a publicação da carta do empresário Pedro Corrêa do Lago no Painel do Leitor.

Ela deveria ser editada na Ilustrada ou em Cotidiano.

Sarney-Lobão

A Folha faz hoje a melhor cobertura sobre os negócios do senador Edison Lobão e do clã Sarney.

Se viajar ao Maranhão, pode descobrir informações novas e relevantes.

Não entendi por que na reportagem ´Polícia investiga saques de empresas e da família Sarney` (pág. A6) o jornal não informou que em 2006 Roseana Sarney concorreu ao governo do Maranhão (perdeu) e José Sarney ao Senado pelo Amapá (venceu).

´Ele [Fernando] não foi candidato a nada em 2006´, diz a Folha.

Mas sua irmã foi, informação importante, como registra o Estado em reportagem sobre os mesmos fatos.

O ´Estado` tentou ouvir Roseana.

A Folha, não.

Colunista Sarney

José Sarney, padrinho da indicação de Edison Lobão ao Ministério de Minas e Energia, e pai de Roseana e Fernando, é colunista da Folha.

O jornal tem o dever de publicar essa informação em reportagens que citem o político. Não costuma citar.

Evidenciar a ligação de Sarney com a Folha é providência elementar de transparência.

Palavrão jornalístico

Tem seis sílabas o palavrão na manchete do caderno Dinheiro: ´Governo avalia racionalização de energia´.

Como escreveu hoje o colunista Vinicius Torres Freire, quem está a empregar o termo ´racionalização` é integrante do governo.

Não cabe à Folha incorporar o eufemismo, que também é jornalisticamente impróprio, pelo tamanho e pouca clareza.

A mulher e o cabo

Legenda da foto do alto da capa de Cotidiano: ´Mulher tira cabo apoiado sobre a tela ´O Lavrador de Café´, de Portinari, que foi recuperada com ´retrato de Suzanne Bloch´, de Picasso´.

O cabo, presumo, é o azul entre os quadros.

Mas ficou parecendo que, conforme a legenda, ela iria retirar o cabo… da enxada do lavrador.

Vale um sorriso.

De volta ao Masp

A cobertura do ´Estado` sobre a investigação policial que recuperou os quadros do Masp é bem superior à da Folha.

Manual legenda de fotografia na pág. C3 se refere a uma ´coletiva de imprensa´.

Como ensina o Manual da Redação (Publifolha, 2001, verbete ´coletiva´, pág. 59), a expressão correta é ´entrevista coletiva´.

Pelo telefone

Abertura da reportagem ´Oito da mesma família são mortos no MA` (pág. C9): ´Oito pessoas da mesma família, entre elas, [sic] quatro crianças, foram encontradas mortas anteontem à noite pela polícia do Maranhão em um povoado de Zé Doca (340 km de São Luís)´.

As informações foram apuradas e o texto foi escrito em São Paulo.

Os leitores ganharão se a Folha enviar repórter para cobrir a barbárie –ele pode aproveitar e investigar os negócios de Lobão e da família Sarney.

8/1/08

O jornal e os jovens

A Folha informa em texto-legenda na pág. 4 do caderno Fovest que amanhã haverá prova de história e química na segunda fase da Fuvest.

A informação está errada. Aquelas matérias constaram do exame de ontem. Amanhã, a prova será de física.

Trata-se de erro grave que deveria ser corrigido com destaque amanhã.

O que talvez possa parecer um tropeço pontual é capaz de ter efeito devastador na credibilidade do jornal entre os jovens que prestam vestibular ou o acompanham por outros motivos: todos, ou quase, sabem que já houve prova de história e química. E que a Folha presta um mau serviço ao confundir o calendário.

Se o jornal não sabe nem o que ‘todo mundo sabe´, do que de fato saberá? –eis um raciocínio possível.

Em fontes numerosas da internet, encontra-se a informação correta. No jornal impresso, errada.

Mas não é no jornalismo em papel que a informação é ou deveria ser mais confiável?

Duplo sentido 1

Título na primeira página: ´Menino filho de refém das Farc trocou de mãos quatro vezes´.

Duplo sentido 2

Também na primeira página, no texto-legenda ´Assalto frustrado´: ´Acusado de tentar roubar hotel na Aclimação […] em carro de polícia´.

Duplo sentido 3

Título na pág. B4: ´Desaceleração nos EUA não afeta país, diz BC´.

Pauta quicando

O jornal segue a anunciar que Edison Lobão será o novo ministro de Minas e Energia, capitania do senador José Sarney.

Imagino que não faltem histórias para contar sobre Lobão.

Um perfil é urgente.

Prioridades, ainda

A Folha, que não tem correspondente no Maranhão de Sarney e Lobão, nem no Pará e em Alagoas, outros Estados onde a notícia segue a se impor, continua na Itália cobrindo o oba-oba da Ferrari.

A notícia de hoje, sobre o papel de Schumacher na escuderia, é antiga. Como o próprio texto lembra, faz semanas que o alemão foi para a pista testar carro.

Sem padronização

Com um pouco de capricho, o jornal poderia resolver um problema que irrita os leitores, a falta de padronização.

Na reportagem ´´País terá de cortar na veia outra vez´, diz Lula` (pág. A4), o IOF é descrito como ´Imposto sobre Operações Financeiras´.

Já em ´Aliados acusam DEM de defender bancos` (pág. A5), IOF quer dizer ´Imposto sobre Operação Financeira´, no singular.

No primeiro texto, emprega-se o artigo ´a` antes de CSLL, uma contribuição.

No segundo, ´o´, masculino.

Partidarismo

Imagino que não tenha sido a intenção, mas empregar a expressão ´Aliados´, ainda mais com maiúscula (por abrir título), dá uma conotação simpática aos ´aliados do presidente Lula` (´Aliados acusam DEM de defender bancos´, pág. A5).

Uma coisa é ser aliado de A ou B. Outra coisa é tratar os partidários do presidente como ´Aliados´. Só falta denominar a oposição de ´Eixo´.

Há certas palavras às quais a história concedeu significados que não devem ser aplicados em qualquer situação.

Nossa memória 1

Na reportagem ´Marta afirma não ter pressa para decidir se será candidata` (pág. A7), o jornal assume como sua a informação/opinião da ministra: ´Ela tem, portanto, até 5 de junho para tomar uma decisão´.

A Folha deve, portanto, Erramos das edições em que afirmou que o prazo era o fim de março.

Nossa memória 2

A boa reportagem ´Governo perde recursos e deve abrir arquivos do Araguaia` (pág. A8) afirma que ´a AGU (Advocacia Geral da União) recorreu ao STF no dia 5 de novembro passado´.

Pois em 23 de setembro de 2007 a primeira página destacava: ´União desiste de recurso e deve abrir arquivos sobre Araguaia´.

Como visto, não desistiu –e perdeu.

Serra e publicidade

Traz informações relevantes a reportagem ´Governo paulista vai gastar 45% a mais com publicidade` (pág. A7). Nenhuma publicação nacional monitora despesas públicas com publicidade como a Folha. Ganham os leitores.

Mas há problemas.

O pulo de R$ 60 milhões para R$ 88 milhões, nas minhas contas, é de 47%, e não de 45%. É o de menos.

O mais grave é a despolitização da notícia.

Cabia ao jornal registrar que José Serra é pretendente à vaga do PSDB à Presidência da República. Nada.

Mais: que 2008 é ano eleitoral, quando o governador tentará eleger aliados seus a prefeituras e Câmaras Municipais. Nada.

Duas vezes se usou o verbo ´explicar` para as afirmações do governo. Este verbo legitima o que pessoas e instituições dizem, por isso a Folha o evita.

Deveria continuar a evitar.

A Redação não tem TV?

Há algo estranho no texto ´Acirramento da disputa deixa Hillary à beira do choro em cafeteria` (pág. A10), produzido pela Redação.

O jornal conta como a candidata a candidata se emocionou e tasca: ´Nesse momento, narra o ´New York Times´, sua voz se tornou um sussurro e ela disse pausadamente (…)´.

Adiante: ´Aqui, seu tom de voz esteve, segundo descrição de repórteres presentes ao local, marcado por sentimentos entre o ressentimento e a raiva´.

Por que ´narra o ´New York Times´´? Milhões de pessoas viram pela TV, mundo afora, a declaração de Hillary Clinton.

Eu a assisti em casa, antes do fechamento da Folha.

Por que o jornal tem de apelar a outra publicação, se basta ver a cena na TV e descrevê-la da forma que considerar mais indicada?

Não há submissão jornalística e cultural?

Menos mal que a Folha não disse que Hillary chorou, como o Globo (´Hillary parte para o corpo-a-corpo e chora´).

Não chorou. Como disse a CNN, se ´emocionou´.

Gente, inflação e empréstimo consignado

A manchete de hoje, ´Governo muda crédito para aposentado´, trata do que deveria tratar.

A cobertura tem dois problemas, creio.

Desconfio –o verbo é esse, faltam-me informações para concluir– que, como as medidas têm conseqüência no crédito, talvez haja impacto no consumo. Portanto, na inflação que se quer reduzir.

É esse um objetivo do governo? Faltou esclarecer.

O outro problema é geral na Folha, embora algumas editorias se saiam melhor: as decisões do governo atingem a vida de milhões de pessoas.

Nenhuma delas, porém, apareceu no jornal.

A Folha se limitou ao mundo oficial.

Alma de release

A reportagem, correta, informa a fonte do número: ´[…] segundo cálculos da Abravest (Associação Brasileira do Vestuário)´.

O aspecto de nota promocional é do título, ´Indústria da moda perde R$ 6 bi ao ano com pirataria` (pág. B7).

A informação pode estar correta ou não –é a indústria que a divulga.

Errado é a Folha bancá-la.

Colunas e ruínas

Começou bem a coluna Mônica Bergamo em página inteira, sendo ou não verdade o que afirma o empresário Pedro Corrêa do Lago (´Debret do Masp não é um Debret, diz pesquisador´).

Termelétricas

Manchete de hoje do ´Estado´: ´Falta de chuvas faz governo ligar usinas térmicas´.

Título da Folha no alto da pág. B7 da sexta-feira: ´Termelétricas produzem perto do limite´.

7/1/08

As prioridades da Folha

Pelo segundo dia consecutivo, a Folha cobre na Itália o lançamento do carro da Ferrari para 2008. Como a reportagem esclarece (´Nova Ferrari ´clona` McLaren´, pág. D3 de hoje), ´o carro que vai estrear na Austrália, em 16 de março, deve ser bem diferente do apresentado ontem´.

Ou seja: é relativa a importância do evento em Maranello.

Como ficou claro nas duas últimas edições, a Folha não enviou repórter ´a convite´. Ou seja: bancou a viagem do seu profissional.

Fez bem: se o jornal pensa que o fato é digno de interesse jornalístico, deve se responsabilizar pelas despesas.

O impressionante é que, salvo engano, a Folha não enviou repórter à Itália para cobrir dois episódios recentes, muito, muitíssimo mais importantes que o automobilístico-esportivo: a disputa judicial que expõe a guerra de espionagem e o jogo bruto entre as teles no Brasil, envolvendo integrantes do governo Lula, e o processo relativo à Operação Condor que resultou na ordem de prisão de 11 brasileiros.

Em suma: o jornal considerou prioridade cobrir a sessão promocional da Ferrari, e não dois acontecimentos realmente de peso.

Reforma agrária

É boa a reportagem que resultou na manchete de hoje, ´Lula desapropria menos terras em 2007´.

Faltaram, creio:

1) explicação sobre a disparidade entre estimativas da Folha (a aérea desapropriada pela União em 2007 para fins de reforma agrária seria suficiente para assentar 6.000 famílias) e do Incra (afirma que foram assentadas 67 mil famílias);

2) ouvir (pelo menos tentar) o presidente da República. De acordo com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, um dos motivos dos resultados pífios é a não-atualização, por Lula, dos índices de produtividade no campo. Por que a Folha não cobrou o presidente?;

3) contemplar a opinião dos ruralistas. A opinião deles é tão relevante e legítima jornalisticamente quanto a dos sem-terra e a do governo.

Carteira comprada

Outra boa reportagem de hoje é a que valeu na primeira página a chamada ´Auto-escola usa dedo de silicone para fraudar lei` e em Cotidiano (pág. C4) o título ´Auto-escola usa digital falsa e ajuda condutor sem preparo´.

Uma passagem que não compromete o mérito da investigação: o jornal afirma que ´foi lá [em uma auto-escola] que, em entrevistas gravadas, outros alunos –de auto-escolas como Topo e Silver, na zona sul– confirmaram não terem sido submetidos à identificação digital´; a dúvida: os alunos sabiam que as entrevistas eram gravadas? Faltou esclarecer.

Erramos

Está errada a chamada de primeira página ´Kassab inaugura 80 obras até março de olho em candidatura´. O investimento não pode ser de apenas ´R$ 3,7 milhões´.

A capa repete erro que está em ´Kassab inaugurará 80 obras até março para tentar se viabilizar` (pág. C6), que cita o mesmo valor.

Sua Excelência

O leitor foi prejudicado com a decisão burocrática de editar em Brasil a reportagem ´Marta só espera o aval de Lula para concorrer` (pág. A8) e em Cotidiano a reportagem ´Kassab inaugurará 80 obras até março para tentar se viabilizar` (pág. C6).

Como os dois textos tratam de sucessão municipal, deveriam estar juntos, como indica a chamada única de primeira página.

Em vez de facilitar a leitura, o jornal a dificultou.

O leitor perde de novo

Depois da virada de ano privados de ler muitos cadernos, os leitores da Folha tiveram novas más notícias hoje: deixam de ser colunistas do jornal, em ordem alfabética, Bernardo Carvalho, Fernando Bonassi, Guilherme Wisnik e Marcos Augusto Gonçalves –todos da Ilustrada.

Há poucas semanas um leitor tratou de colunismo sobre arquitetura, e a Redação informou (por meio do ombudsman) que estava satisfeita com Wisnik.

A ampliação da coluna de Mônica Bergamo, um dos melhores produtos jornalísticos oferecidos pela Folha, deve ser comemorada. Aparentemente, o jornal reage ao lançamento, no Caderno 2 do ´Estado´, da coluna de Sonia Racy.

É lamentável, contudo, que ocorra o afastamento de quatro colunistas.

É positivo o destaque maior à coluna de João Pereira Coutinho, um dos poucos articulistas da Folha, jornal defensor do pluralismo editorial, mais identificados com o que se denomina de direita.

Também nesse caso sua promoção ao alto da contracapa da Ilustrada não deveria implicar o fim da colaboração de Carvalho e Bonassi.

Pauta quicando

Quando morre uma modelo por anorexia, a Folha e o jornalismo em geral produzem séries de reportagens.

Quando há eventos como o Fashion Rio, a magreza às vezes esquelética vira charme.

Por que o jornal não aproveita a oportunidade para investir no tema?

Aula de jornalismo

Anotações sobre a reportagem ´A reinvenção da Lapa` (págs. C8 e C9 do domingo):

1) Um exemplo clássico sobre como um assunto dado como morto que renasce na pena de um grande repórter é ´Relato de um náufrago´, de Gabriel García Márquez. ´Todo mundo` já entrevistara o tal náufrago, dado como bagaço da laranja, fonte esgotada. O autor colombiano entrevistou-o e escreveu uma magnífica série de reportagens. Reportagem sobre a Lapa carioca parece batida demais. Pois desde o primeiro parágrafo Luiz Fernando Vianna pegou os leitores pelo cangote e, com brilhantismo, não os deixou escapar.

2) O texto é tão bom que, pelo contraste, chama atenção para qualidade média ruim das reportagens da Folha.

3) O jornal deveria promover a convivência entre seus melhores textos, tanto repórteres como colunistas, com o conjunto da Redação, em palestras, oficinas, conversas. Os leitores teriam muito a ganhar com a evolução do texto na Folha.

4) O crédito para a inspirada ilustração de Filipe Jardim, na bela página dupla, não deveria sair tão escondido.

Virou (continua a) bagunça

Ficou boa a reportagem da capa de Veículos, no domingo: ´Selo à venda – Chancela do Inmetro é vendida por R$ 50 e instituto diz que falsificação é normal; Denatran não mudará resolução 203 que regulamenta capacetes´.

Valia chamada, que não houve, na primeira página.

77 anos

Outra boa leitura dominical foi a entrevista com o maître Oswaldo Silveira, 77, na ´Revista da Folha´.

Ele é corredor de rua, maratonista.

Sem idade

A reportagem do alto da pág. A14 de domingo trata da avó do menino nascido em acampamento das Farc (´Avó de Emmanuel personifica drama dos seqüestrados´).

Textos dessa natureza exigem a idade do personagem, informação omitida. E logo pela Folha, que volta e meia ainda publica a idade de muitas pessoas quando o dado não tem relevância jornalística alguma.

Crianças

Peço perdão caso não tenha notado a eventual publicação, mas a Folha deveria comparar o roubo de crianças pelas Farc com os de autoria de militares na ditadura argentina mais recente.

As Farc entregaram um menino, filho de seqüestrada, a um orfanato.

Ontem, o ´Estado` publicou ótima reportagem sobre como militares largaram um casal de irmãos argentinos, de um e quatro anos de idade, no Chile de Pinochet. As crianças acabaram em um orfanato.

Inferno no litoral

A impressão é de que o jornal não deu os devidos destaque e tom ao inferno de milhares de paulistas no litoral na virada do ano.

Ontem, a boa reportagem ´Em praia de bacana não falta água nem champanhe` (capa de Cotidiano) mostrou que não é todo mundo que se deu mal.’