Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crítica (tardia) às pressões sobre a imprensa

The New York Times criticou a pressão do governo estadunidense sobre a imprensa. Em editorial publicado na quinta-feira (10/11), o diário revelou que setores da Casa Branca pressionaram The Washington Post a assumir como falso um artigo sobre a existência de ‘cárceres secretos’ operados pela CIA em outros países. Além disso, os líderes republicanos no Congresso abriram investigação para descobrir as fontes usadas pelo Post.

Para o Times, a articulação da Casa Branca tem como objetivo evitar qualquer avanço nas discussões políticas que envolvam o escândalo das torturas em Abu Ghraib e em outras prisões controladas pela CIA em outros países, como em Guantánamo (Cuba). ‘O governo passou os últimos 18 meses trabalhando para impedir qualquer investigação séria sobre o abuso real a prisioneiros desses cárceres e em outros’, diz o jornal mais influente dos EUA.

Outro trecho do editorial, intitulado ‘Culpando o mensageiro’, destaca: ‘Esse novo drama político é um ótimo caso de estudo do quão vital para as empresas de comunicação é informar seu público sobre o que o governo suprime por razões políticas. Esse tipo de jornalismo depende da manutenção da confidencialidade das fontes’.

Todos calados

O jornal ressalta que alguns republicanos seguem afirmando que o artigo do Washington Post danificou a imagem dos EUA, prejudicou seus soldados e colocou em risco seus agentes. Para o Times, todo esse dano foi causado pelas ações e políticas da Casa Branca, e não pelas revelações da mídia: ‘São os campos secretos em si e os abusos e tortura de prisioneiros que sujam a imagem dos EUA (…)’.

Embora The New York Times tenha adotado esta posição de enfrentamento em relação aos homens de Bush, essa não tem sido a principal característica do diário. No livro recém-lançado Corrupção à americana – Desnudando as mentiras, a imprensa, os empresários e os políticos que produzem e lucram com a guerra (Bertrand Brasil), a jornalista independente Amy Goodman recorda que em 2003, durante a propaganda da invasão ao Iraque, o jornal publicou diversas matérias corroborando o discurso oficial, em sua maioria assinadas pela jornalista Judith Miller, que só agora, no fim de 2005, veio a ser demitida justamente por atuação parcial a favor do governo [ver nesta edição matéria sobre a saída da repórter do NYT].

No capítulo intitulado ‘Matando o mensageiro’ (qualquer semelhança…), Amy Goodman revela que o primeiro alvo dos EUA no Iraque foi o escritório da emissora de notícias árabe al-Jazira. Ao que toda a mídia comercial estadunidense calou-se. Toda.

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Editor do Fazendo Media