Na semana passada, com base em mais um vazamento do site WikiLeaks, o New York Times publicou uma série de reportagens referentes a comunicações internas de diplomatas americanos sobre amigos e inimigos do governo. O mundo discreto das embaixadas parece ter vindo abaixo com as revelações sobre os mais diversos temas: o Irã com suas armas nucleares, a Coreia do Norte cada vez mais sem controle, o Paquistão cada vez mais instável, e as fofocas sobre líderes mundiais.
Foi impossível ignorar Julian Assange, fundador do WikiLeaks, afirma o ombudsman do NYTimes, Arthur S. Brisbane. Ele orquestrou a divulgação pela mídia, liderada pelo britânico Guardian e outras organizações européias. A imagem de Assange como animador de circo é amplamente perturbadora, diz o ombudsman, especialmente desde que ele passou a ter gosto pela notoriedade mundial. Mas, na opinião de Brisbane, mais pertubadora ainda é a participação das organizações de mídia neste espetáculo.
Para críticos, há alguns ‘problemas’ jornalísticos na divulgação de documentos oferecidos pelo WikiLeaks – o mais grave deles, a manipulação da mídia por alguém cujos objetivos são obscuros. Neste ponto, surgem as questões: e o se o NYTimes tivesse escolhido não divulgar os 250 mil documentos secretos do WikiLeaks? E se o jornal tivesse determinado que a divulgação de informações tão delicadas prejudicaria os esforços do governo em avançar nos interesses americanos no mundo?
Sem levar em consideração os ‘problemas’ jornalísticos, é simplesmente inconcebível que o NYTimes escolhesse esta opção. Assim como outras organizações de mídia sérias em países democráticos, o jornal existe para investigar e publicar informações – mais especificamente as que o governo, conglomerados e outros centros de poder preferem ocultar. O propósito das organizações de mídia é fornecer conhecimento aos leitores, e os jornalistas são motivados por este fim. Além disso, o impulso em obter e publicar dados inacessíveis é reforçado em uma era na qual o sigilo governamental é cada vez maior.
Interesse público
Para editores, a oportunidade de informar aos leitores dados difíceis de serem obtidos é algo de extrema necessidade. ‘Não há dúvida de que publicar este material tem vários desafios’, opinou o editor-executivo Bill Keller. ‘Mas desde o momento em que analisamos os dados, não houve dúvidas sobre sua divulgação. É claro que consideramos potenciais riscos legais e já havíamos antecipado críticas. O processo de selecionar o que seria publicado dos documentos foi intimidante. Fizemos um esforço tremendo para verificar o que seria material potencialmente prejudicial. Coordenar uma programação de publicação com outras organizações foi complicado. Mas nada disso tirou a excitação de que se tratava de uma grande história’.
Após uma análise, o ombudsman concluiu que os americanos ficaram mais bem informados em questões sobre relações diplomáticas depois da divulgação dos documentos. E é preciso considerar: e se o NYTimes tivesse, em 1964, documentos mostrando que a intenção do presidente Lyndon Johnson em atacar o Vietnã do Norte depois do incidente do Golfo de Tonkin foi baseada em informação falsa? E se o NYTimes tivesse evidências mostrando que as alegações do governo Bush sobre as armas de destruição em massa de Saddam Hussein eram infundadas? O jornal teria publicado estes dados?