Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Debate político amplia censura à mídia

Diante de eleições nacionais marcadas para novembro, o governo da Namíbia parece ter dado início a uma campanha para reprimir a participação do público na mídia local. A rede estatal de rádio e TV Namibian Broadcasting Corporation (NBC) tirou do ar, na semana passada, o programa de rádio Chat Show, que contava com ligações do público, sob alegação de que os ouvintes passaram a incitar o ódio.

O cancelamento do programa parece ser uma reação do partido de situação, Organização dos Povos do Sudoeste da África, ao partido do ex-ministro Hidipo Hamutenya, a Reunião pela Democracia e pelo Progresso (RDP). Hamutenya foi tirado do governo em 2004, por razões desconhecidas, e fundou o partido dissidente em 2007, participando este ano de sua primeira eleição nacional.

Com o aumento do debate político no país, o conselho de veteranos do partido de situação pediu o cancelamento dos programas de rádio que permitem a participação do público e de uma seção nos jornais que publica mensagens opinativas dos leitores. Segundo Phil ya Nangoloh, diretor da Sociedade Nacional para os Direitos Humanos, esta não é a primeira vez que o governo tenta controlar o debate público. Em novembro de 2007, o Chat Show foi proibido, por alguns dias, de discutir sobre o partido de situação ou o RDP.

Tensão

A Organização dos Povos tem vantagem grande no pleito por dominar a mídia estatal, em especial a NBC, opinam os analistas políticos Andre du Pisani e Bill Lindeke. ‘A rádio NBC alcança a maior audiência do país, com mais de 80% da cobertura nacional. Além disso, o canal de TV também é predominante, especialmente nas áreas urbanas’, afirmam.

O grupo dissidente, no entanto, criou novas tensões tanto na mídia quanto nas ruas. As reuniões do RDP na capital e nas regiões do centro e do norte tiveram veículos apedrejados e membros perseguidos, em locais públicos que partidários da Organização dos Povos dizem ser áreas proibidas para eles. Por isso, a polícia está sempre presente nos eventos.

Um dos mais conhecidos membros da Organização dos Povos, Andimba Toivo ya Toivo, de 84 anos, pediu tolerância política em carta aberta à mídia local. ‘Os que deixaram o partido tornaram-se nossos oponentes políticos, mas continuam nossos irmãos’, escreveu ele, em novembro. Dias depois, cerca de 200 carros com partidários da Organização dos Povos impediram os membros do RDP de realizar uma reunião na cidade de Outapi.

Veículos foram apedrejados e bandeiras do partido dissidente, queimadas. O inspetor-geral da polícia chegou a pedir a todos os partidos para acabar com a violência. O RDP defende-se. ‘Apesar da violência contra nossos membros, eles são instruídos a não reagir com violência’, declarou Hamutenya. Informações da AFP [13/3/09].