Em 12/7, dia em que foi divulgada a informação de que jovens muçulmanos foram responsáveis pelos primeiros atentados à bomba no sistema de transporte de Londres, foi pedido ao repórter do Guardian Dilpazier Aslam que escrevesse um comentário sobre o assunto. Aslam é um muçulmano britânico de 27 anos que, desde outubro do ano passado, participava do programa de treinamento do diário londrino.
O artigo foi publicado no dia seguinte, sob o título ‘Nós balançamos o barco: os muçulmanos de hoje não estão preparados para ignorar injustiças’, sem nenhuma indicação de um detalhe importante para seu contexto: Aslam é membro do Hizb ut-Tahrir, partido político islâmico que, segundo descrição do Ministério do Interior britânico, defende a criação de um estado islâmico, por meios não-violentos.
O texto de Aslam chamou a atenção de blogueiros, que divulgaram um documento publicado há dois anos no sítio da revista online do partido, Khilafah.com. O artigo em questão cita uma passagem do Corão (‘mate-os sempre que encontrá-los’) e afirma que ‘os judeus são um povo calunioso…traiçoeiro…que fabricam mentiras e distorcem palavras’.
O Hizb ut-Tahrir é uma organização permitida no Reino Unido, embora seja proibida em outros países, como Rússia, Alemanha e Holanda. Apesar de ser considerado pelo Ministério do Interior como ‘radical, mas não violento’, o grupo defende opiniões anti-semitas, antiocidentais e homofóbicas.
Em artigo publicado em 22/7, o Guardian afirma que Aslam foi selecionado para o programa de treinamento dentro de uma iniciativa do jornal para aumentar a diversidade cultural na redação. ‘O Guardian – assim como grande parte das organizações de notícias – explora ativamente meios para expandir a diversidade em sua equipe’, é explicado no início do texto.
O diário ressalta que Aslam não mencionou, em seu formulário de aplicação ao programa, que era membro do Hizb ut-Tahrir, apesar de ter sido convidado a descrever qualquer participação em campanhas ou manifestações políticas. Depois de entrar para o jornal, entretanto, Aslam não fez segredo de sua filiação ao partido – a informação era conhecida por vários de seus colegas de trabalho e editores.
Depois do artigo de 13/7, que sugeria que o Reino Unido não deveria ficar tão chocado com os atentados suicidas, o Guardian abriu uma investigação interna sobre a participação de Aslam no partido e chegou à conclusão de que ela seria incompatível com seu trabalho no jornal. O trainee foi avisado de que o Guardian considerava que o Hizb ut-Tahrir havia promovido material incitando a violência e o anti-semitismo em seu sítio. Aslam informou a seu editor que não estava disposto a deixar o partido e que, embora pessoalmente repudiasse o anti-semitismo, não acreditava que o material publicado no sítio tivesse algo errado.
O contrato do jornalista com o Guardian foi rescindido em 22/7. Em uma declaração, o jornal afirmou: ‘Foi pedido ao senhor Aslam que se desvinculasse do partido, mas ele preferiu não fazê-lo. O Guardian respeita seu direito em tomar esta decisão, mas concluiu, infelizmente, que não havia opção a não ser encerrar o contrato do senhor Aslam com a companhia’. Com informações de Steve Busfield [The Guardian, 22/7/05].