O Financial Times estreou esta semana [15/9] um novo design em sua edição impressa, após sete anos sem mudanças. As páginas ficaram mais “limpas”: as colunas estão mais amplas, as reportagens têm mais espaço para respirar e o texto agora conta com uma fonte personalizada que tem como objetivo evocar a herança britânica do jornal; a cor salmão característica das laudas, no entanto, continua intocada.
A última vez que o FT mexeu em seu projeto gráfico foi em 2007, quando o jornal tinha 445.756 assinantes. Hoje, conta com 677 mil assinantes; destes, apenas 222 mil compram a edição impressa, enquanto o resto possui assinatura digital. Por que então o investimento na edição impressa?
Kevin Wilson, diretor de design do Financial Times, diz que, embora o jornal tenha se definido cada vez mais como um veículo de operação digital, ele ainda é um impresso de sucesso que continua proporcionando bons níveis de receita publicitária. “Achamos que era hora de demonstrar preocupação com nosso produto”, afirma, “mas também de redefinir algumas das nossas prioridades: o que é o jornal impresso e o que ele pode oferecer de melhor, e qual é a sua relação com o digital?”
Na prática, a edição impressa fugirá um pouco dos furos e se concentrará mais em análises e em reportagens aprofundadas. O design, por sua vez, tornará a leitura menos cansativa, pois as oito colunas foram substituídas por seis. Wilson explica que as mudanças fazem parte de uma estrutura editorial evoluída e que, ao contrário das reformulações anteriores, onde a estética era o ponto principal, hoje há uma busca por pistas e respostas sobre como lidar com o papel do impresso na era digital.
O designer tipográfico Kris Sowersby declarou ter fugido do “estilo clássico dos jornais” para criar as novas fontes e disse que foi preciso pensar nas telas dos dispositivos móveis, sempre levando em conta o limite horizontal dos celulares e tablets e da noção vertical teoricamente infinita destes, por causa do efeito da barra de rolagem.
Sem visão fatalista
Em entrevista ao diário britânico The Guardian, Lionel Barber, editor-chefe do Financial Times desde 2005, reforçou a postura do jornal, que parece contrária à tendência do mercado de priorizar cada vez mais o investimento na parte digital. Barber defende a ideia de que o jornal impresso ainda é uma propriedade muito valiosa. “Nós pensamos muito sobre o futuro dos impressos e delineamos grandes conclusões”, declarou. “Para começo de conversa, qualquer um que disser que os impressos estão mortos está errado. Eles ainda rendem bons lucros com publicidade”.
Barber também se recusa a definir a reformulação do FT como um “último suspiro” na tentativa de sobrevivência dentre os impressos. “Estou concentrado em manter um jornal vibrante que permanece atraente para anunciantes e leitores. Eu simplesmente não tenho uma visão fatalista. Somos capazes de fazer um ótimo impresso e um ótimo site e conteúdo para a era digital”, conclui.