O deputado britânico George Galloway ganhou um processo de difamação contra o jornal Daily Telegraph e irá receber 150 mil libras em indenização por danos causados por uma matéria que sugeria seu envolvimento com Saddam Hussein.
A reportagem publicada em abril pelo Telegraph sugeria que Galloway teria recebido secretamente 375 mil libras por ano de Saddam, além de ter desviado verbas de um programa que visava levar comida e remédios para o Iraque. As acusações baseavam-se em um documento encontrado pelo correspondente do jornal David Blair nas ruínas do Ministério do Exterior iraquiano, em Bagdá. Galloway foi expulso do Partido Trabalhista depois que a matéria foi publicada.
Chris Tryhorn, Owen Gibson e Claire Cozens [The Guardian, 2/12/04] informaram que Galloway culpou o Telegraph por arruinar sua carreira política e quase levá-lo à falência. O deputado afirmou ainda que o valor do processo não era satisfatório para cobrir o dano de ter sido expulso do partido; por isso, ele espera conseguir outras 500 mil libras.
Corrida pelo furo
Galloway acusou o Telegraph de não ter buscado uma resposta apropriada dele e de ter se precipitado em publicar a reportagem na ânsia pelo furo. O juiz David Eady considerou a matéria ‘seriamente difamatória’ e disse que não tinha outra opção a não ser favorecer o parlamentar. Apesar de ter levado em conta a conversa de 35 minutos entre Galloway e o repórter do jornal Andrew Sparrow, o juiz reconheceu que Galloway não teve acesso aos documentos e nem foi avisado de que a matéria seria publicada. Para Eady, qualquer leitor sensato teria concluído que Galloway estava sendo pago pelo ditador iraquiano depois de ter lido a reportagem. A decisão do juiz baseou-se no fato de o jornal não ter dado tempo suficiente a Galloway para refutar as acusações.
O Telegraph argumentou que as informações contidas nos documentos eram de interesse público e por isso o jornal tinha o direito de publicá-las. O editor-executivo do jornal, Neil Derbyshire, afirmou que a matéria não era nada mais do que uma ‘reportagem neutra’. Segundo ele, foi publicado que Galloway negava a veracidade das informações do documento, porém, apesar de nunca ter sugerido se as informações nele contidas eram ou não verdadeiras, os documentos eram genuínos, como a própria corte reconheceu. Derbyshire disse que ‘por causa da descoberta dos documentos, Galloway está sendo investigado pelo comissário parlamentar Philip Mawer’.
Golpe contra a liberdade
Para o Telegraph, a decisão da corte foi um golpe contra a liberdade de imprensa e o dia do julgamento foi um dia ruim para o jornalismo investigativo. O jornal pediu permissão para apelar da, já que o caso envolve questões fundamentais, como a liberdade de expressão. O juiz recusou o pedido, dizendo não acreditar haver uma previsão realista de que o processo pudesse ter sucesso.
Esta é a segunda vez que Galloway ganha um processo por difamação por causa de acusações contra ele. Em março, o deputado recebeu uma quantia não revelada do jornal americano Christian Science Monitor por causa de uma matéria que dizia que ele teria ganho 10 milhões de libras de Saddam Hussein. Galloway é um dos maiores críticos à guerra do Iraque.