No ar, Primeira hora, Rede Bandeirantes de Rádio… Pan Sat, integrando o Brasil através da notícia. Rede Bandeirantes de Rádio, pioneira também na transmissão digital via Satélite. Primeira hoooora, primeira notícia…
Quem gosta e aprecia rádio, seja paulista ou não, já escutou a abertura de um dos mais tradicionais noticiários jornalísticos de rádio no Brasil. O jornal Primeira Hora, criado em 1º de maio de 1962, objetivava integrar o país através da informação. Sempre, das 7 às 8 da manhã, de segunda a sexta-feira, o programa marcou e marca história no radiojornalismo brasileiro.
A atração da Rádio Bandeirantes foi ao ar, para a surpresa de muitos, na última sexta-feira, também conhecido como dia de Natal. Diferentemente do tradicional, a programação da emissora do grupo paulista não se modificou no dia 25 e manteve sua grade como é habitualmente. Para o leitor que pouco acompanha rádio ou que tem memória fraca, não poderia haver surpresa com essa notícia. O que haveria de mais em uma emissora manter normal sua grade de atração no dia de Natal?
A surpresa a que me refiro é que há décadas, os 840 AM e mais recentemente os 90,9 FM do dial paulistano, estava habituado a ser sintonizado com uma seleção musical tocando na data do nascimento de Cristo. Começava às 20h do dia 24 e ia até a madrugada do dia 26, passando por toda a extensão do dia 25 e substituindo os clássicos Pulo do Gato, Primeira Hora, Jornal Gente, Manhã Bandeirantes, Esporte Notícia, Ciranda da Cidade, Jornal em Três Tempos etc. Contudo, quem ligou na Bandeirantes, surpreso ficou.
Cinco horas no ar ininterruptamente
A programação musical começou na noite do dia 24/12 e estendeu-se até as 7 horas da manhã do dia 25, quando o jornal Primeira Hora e sua tradicional vinheta entraram no ar.
Na realidade, não mais sua tradicional vinheta. Por algum motivo, que ainda não consegui compreender por inteiro, o tradicional texto foi suprimido, e não se ouve mais o “No ar, Primeira hora, Rede Bandeirantes de Rádio…” O patrocinador é dito, toca o bipe de cinco toques, depois o slogan da Rede Bandeirantes, novamente o patrocinador e já se iniciam as manchetes com Dedé Gomes e Silvania Alves. Nada da abertura clássica que marcou gerações. Nada também do encerramento com os créditos do jornal nem com o “Bom dia, Brasil!” Passa-se da chamada do patrocinador direto para o Jornal Gente, na sequência, sem encerramento algum.
A estranheza é tamanha que até José Paulo de Andrade demonstrou sua incredulidade com a edição do Jornal Bandeirantes Gente em pleno Natal. Logo na abertura da atração ele solta: “E chegou o dia de Natal. Eu não me lembro na minha vida profissional de um dia ter falado no Natal em rádio, é a primeira vez, inédito.” Nem você, José, nem nós nos lembramos de ter ouvido seus comentários e locuções no Natal. Porque simplesmente, isso nunca ocorreu.
Falando ainda de Jornal Gente, Rafael Colombo dividia a bancada com José Paulo de Andrade. Diferentemente do José, Rafael só não já trabalhou no Natal, como neste especialmente, esteve cinco horas seguidas no ar. Ficou das 6h às 7h30, Jornal BandNews no BandNews TV e na Rede Bandeirantes de Televisão; das 7h30 às 8h, segmento local do Primeira Hora; das 8h às 10h, Jornal da Bandeirantes Gente nas participações ao vivo e nas já gravadas com Zé Paulo e Salomão Ésper; e das 10h às 11h, participação no De Primeira Debate, da Bradesco Esportes FM. Além de ter de trabalhar no Natal, Colombo ficou ininterruptamente cinco horas no ar, lendo notícias, apresentando noticiários, apurando informações, tecendo análises e opiniões. Imaginemos que você, caro leitor, seja escalado para trabalhar no Natal pelo seu chefe, proprietário de várias empresas, e, além de colocá-lo para correr durante todo o seu expediente, o faz mudar de local, durante o dia, já que ele possui várias empresas, três vezes. Se não sabe como é, e está curioso para descobrir, basta perguntar para o Rafael Colombo que ele lhe conta.
O mais incrível é que este tipo de expediente é comum no grupo Bandeirantes. Colocar seus jornalistas para trabalhar em várias emissoras do grupo – vide Datena, que faz Bradesco Esportes FM, TV Band e BandSports, Boechat na Band e BandNews FM, Laura Ferreira em praticamente todas as emissoras de rádio e TV do grupo, Luiz Meghalli, Milton Neves, Ulisses Costa etc.
Parte da história do rádio
Uma das mais tradicionais emissoras de rádio na capital de São Paulo e do País parece que perdeu seu espírito e joga sua história para as laterais da prioridade, invocando-as apenas para momentos que precisa usar dos anais históricos para satisfazer os desejos atuais.
Rádio é mudança, é inovação, é credibilidade, é tradição. A Bandeirantes alterou significativamente sua grade nos últimos meses. Dois dos mais tradicionais jornalísticos do país foram excluídos da sua grade de uma hora para outra. O Ciranda da Cidade e o Jornal a Três Tempos, os quais ocupavam as tardes da emissora com prestação de serviço e informação, foram excluídos da grade de uma hora para outra, neste primeiro semestre de 2015. Junto com o mesmo se foi Milton Parron, escanteado no Cedoc da emissora.
Cedoc, parece que a história da casa lá ficou, usado em apenas poucos momentos, para fazer da imagem do seu presidente e neto do presidente Adhemar de Barros, Johnny Saad algo mais vislumbrante para si. Os erros financeiros dos cabeças do grupo estão, desde 2013, matando o grupo bandeirantes que, mesmo líder de audiência em várias cidades no segmento musical, vem fazendo transformações e alterações sem sentido e lógica, aumentando a carga de trabalho de seus profissionais e cortando jornalistas atrás de jornalistas, vê-se as demissões de José Maia, Alex Muller e cia, além da Rádio Bradesco Esportes que trimestralmente estampa manchetes falando das seguidas demissões.
A Rádio Bandeirantes fez, neste natal, algo que comparo a Rádio Jovem Pan paulista, caso esta última desejasse, de uma hora para outra, não transmitir o Sermão da Paixão pela Jovem Pan. O programa religioso da Pan, transmitido toda sexta-feira da paixão na emissora, é quase, sem muito exagero, uma tradicional radialistíca que faz parte da história da emissora e do rádio no país. É inconcebível pensar a Jovem Pan não o fazendo nesta data. Mesma estranheza, e com proporções semelhantes para sua colega, vejo com a supressão da seleção musical da Bandeirantes.
Espero que a direção do grupo repense os atos e mudanças que anda fazendo dentro da grade da sua emissora e daquilo que a integra, analisando com maior profundidade o impacto que algumas atitudes podem e vão causar, pois devem se lembrar que emissoras como a rádio Bandeirantes não são apenas retransmissoras de conteúdo, que estão num dial, mas chegaram a um patamar de importância que as fazem ser parte da história de um meio, como o rádio, e de uma cidade, e consecutivamente da sua cultura, como a Bandeirantes o faz, em São Paulo.
Referências bibliográficas
<https://radioamantes.wordpress.com/2015/12/25/radio-bandeirantes-programacao-normal-e-o-melhor-do-natal/>, Acessado em: 27/12/2015.
<https://radioamantes.wordpress.com/2015/04/24/radioamantes-no-ar-fala-sobre-o-fim-do-ciranda-da-cidade-e-de-outros-assuntos/>, Acessado em 27/12/2015.
<http://cheninocampo.blogspot.com.br/2012/05/jornal-primeira-hora-da-radio.html>, Acessado em: 26/12/2015.
<https://pt.wikipedia.org/wiki/R%C3%A1dio_Bandeirantes_S%C3%A3o_Paulo>, Acessado em: 26/12/2-15.
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Bruno Henrique de Moura é jornalista e estudante